terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

O perfil do jovem empreendedor


A importância em formar o jovem para o mercado com uma visão empreendedora é o tema desta edição do Boletim da Democratização Cultural. Ao abordar o assunto, o diretor executivo da Artemisia Brasil, Fábio Santiago, aponta os desafios do empreendedorismo social no país em tempos de crise e, a partir desse panorama, fala sobre a situação do jovem empreendedor e o perfil que se almeja de um líder nessa área.

Boletim da Democratização Cultural – Desde a década de 90, o que o empreendedorismo social consolidou e o que ainda está em construção?

Fábio Santiago - Há pelo menos 30 anos o empreendedorismo é um processo em construção no mundo. O que foi consolidado é fruto de muito aprendizado e reflexão de experiências. Creio que hoje o empreendedor social está muito mais preparado para entender e criar soluções para os desafios que enfrenta. Outro ponto consolidado é o modelo de projeto sem fins lucrativos, que funciona bem. O que está em construção é a discussão de negócio social, que questiona a dicotomia entre social e econômico. Essa integração é necessária. Exemplos de iniciativas como a de Bill Gates e o Banco do Povo, na Índia, mostram caminhos.

B.D.C. – Qual o perfil de um jovem empreendedor?

FS - Ele precisa saber o que quer. Ter foco para não querer abraçar os problemas do mundo. E, evidentemente, um espírito empreendedor, o que nem todos possuem. Ser um líder que respeita a equipe, que consegue trazer as pessoas para seu projeto, que inspire e encoraje quem está ao seu redor. E isso só com um profundo comprometimento, comportamento ético e criatividade para enfrentar os problemas.
B.D.C. – Há carência de mão de obra especializada no terceiro setor?

FS - Faltava profissionalização, mas nos últimos dez anos houve uma grande evolução. As pessoas se aperfeiçoaram e as instituições, percebendo essa necessidade, passaram a oferecer salários mais competitivos, atraindo melhores profissionais.

B.D.C. – O empreendedorismo vem, originalmente, da administração de empresas. Foi estruturada nos projetos sociais e culturais, a idéia de negócio, a racionalidade do lucro. O que foi positivo e o que foi ajustado à esfera do terceiro setor?

FS - O terceiro setor não tem condições de se auto-sustentar. Aconteceu uma grande onda de geração de recursos. Entretanto, eles estavam descolados da atividade social do projeto e, muitas vezes, eram priorizados. De forma genérica, repetia-se a lógica das empresas. Com o tempo, o foco inverteu-se, o impacto social voltou a ser priorizado e hoje os projetos geram renda a partir de seus objetivos.

B.D.C. –Como incorporar essa forma de atuação das empresas sociais às políticas públicas? Há diálogo?

FS - Sei da existência de grupos que travam esse diálogo. O instituto Papel Solidário vem discutindo com parlamentares, mas ainda em fase embrionária. É preciso definir melhor essas questões jurídicas dos empreendimentos sociais e solidários. Um exemplo é que uma empresa comum tem uma série de reduções fiscais na venda de seus produtos e serviços. Já o terceiro setor, não. Em alguns casos, os projetos são obrigados a abrir empresas.

B.D.C. – Qual a situação do empreendedorismo juvenil?

FS - Sua tendência é crescer ainda mais. O jovem é criativo, questionador, ele se lança e vê no empreendedorismo uma alternativa, já que o mercado está muito difícil. Esse crescimento tem cerca de seis anos, quando as empresas começaram a investir nesse público e então o terceiro setor redirecionou seus projetos.

B.D.C. – E nas escolas? Existe uma preocupação em oferecer uma formação voltada ao empreendedorismo? Como os jovens podem conhecer este assunto?

FS - Com as escolas públicas não há diálogo. O acesso se dá apenas pelos projetos sociais do terceiro setor. A Artemisia leva essa discussão para universidades, mas ainda voltada apenas ao empreendedorismo empresarial. A questão do negócio social é muito pequena.
B.D.C. – Como estão os investimentos em pesquisa na área do empreendedorismo social? E a participação da universidade?

FS - O interesse tem aumentado, principalmente estudos e análises do impacto de certos projetos sociais. Eles se concentram nas ciências sociais, ainda não vi nada em administração ou economia.

B.D.C. – Quais os desafios que o empreendedorismo social pode enfrentar?

FS - Acredito que a auto-sustentação. A crise deve mostrar essa fragilidade, uma vez que os investimentos sofrem grande redução neste período.

B.D.C. – Chega um período de crise e a primeira ação das empresas, mesmo aquelas comprometidas com a sustentabilidade, é demitir funcionários e cortar gastos com projetos sociais. Isso é responsabilidade social? Por que não buscar novas alternativas?

FS - Se a empresa investe em projetos, primeiramente ela deve fazer seu trabalho de casa. Garantir salários de mercado, respeitar o trabalhador, repreender os assédios. Muitas empresas fazem investimentos não por convicção, mas por conveniência. Querem associar sua imagem às preocupações sociais. Quando a crise chega, elas percebem que não é possível mensurar quanto a empresa ganha, qual é o retorno financeiro deste investimento. Então ele é o primeiro a ser cortado. Essa é a lógica. Eu torço para que a nova geração, quando chegar às esferas de decisão, modifique esse modelo.


Boletim da Democratização Cultural, 05/02/09


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