terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Líderes da indústria vão mudar em 2009

A liderança do crescimento industrial vai mudar de mãos em 2009. A produção será inferior aos estimados 6% deste ano, mas ainda será razoável, na faixa entre 3% a 4%, segundo analistas. A liderança dos veículos automotores e dos bens de capital, responsáveis até agora por cerca de 40% do aumento da produção industrial (6,5% de janeiro a setembro) deste ano será ocupada, segundo especialistas ouvidos pelo Valor, por setores favorecidos por uma combinação de substituição competitiva de importações e recuperação da competitividade em função do câmbio, como os eletroeletrônicos.

Nesse mix setorial há, inclusive, espaço para a presença parcial dos setores que vêm liderando este ano. Com nuances individuais, Silvio Sales, coordenador da Pesquisa Industrial Mensal (PIM) do IBGE, Fábio Silveira, da RC Consultores e Jorge Britto, especialista em indústria da Universidade Federal Fluminense (UFF), concordam que o mercado interno vai dar a dinâmica do crescimento e que a mudança no câmbio vai ajudar a retirar setores tradicionais, como calçados e têxteis, da rota de crise que vêm trilhando há algum tempo.

Para Sales, tudo vai depender de uma premissa: a de que será possível sustentar a demanda doméstica em um nível que compense, ao menos em parte, as perdas nas exportações provocadas pela queda na demanda internacional. Caso essa hipótese se confirme, ele aposta que o arrefecimento da produção de veículos, entre os bens de consumo duráveis, pode ser compensado por um aumento da produção de eletroeletrônicos.

"A produção de duráveis vinha com uma clara liderança dos automóveis e com um comportamento mais discreto dos eletrodomésticos. Como o varejo (de eletrodomésticos) vem bem, a explicação é que a concorrência dos importados vinha inibindo a produção doméstica desses bens. Na hipótese de sustentação do consumo, a mudança do câmbio pode favorecer um aumento na produção interna de eletroeletrônicos", disse Sales.

E mesmo entre os veículos, cujas estatísticas incluem a produção de autopeças, Sales considera provável que haja alguma compensação à queda das vendas de automóveis com o aumento da produção doméstica de componentes para esses carros. Para Britto, o câmbio deve favorecer a participação nacional nos componentes dos eletroeletrônicos vendidos no país, incluindo equipamentos de telecomunicações.

As estatísticas do Sindipeças, embora não incluam o índice de nacionalização dos veículos produzidos no Brasil, não deixam dúvidas quanto ao crescimento das importações de autopeças. De janeiro a setembro, elas somaram US$ 13 bilhões, com crescimento de 41,1% sobre o mesmo período de 2007. No mesmo período, as exportações cresceram apenas 18,3%, alcançando US$ 10,8 bilhões e tornando inevitável o segundo ano consecutivo de déficit na balança comercial do setor.

No campo dos bens de capital, o coordenador do IBGE avalia que o mesmo fenômeno que vai beneficiar os eletroeletrônicos entre os bens de consumo duráveis pode ocorrer, desde que a demanda persista. O segmento beneficiado aqui seria o de máquinas para uso industrial. Para Britto, a produção de bens de capital terá vários aspectos que irão favorecer a permanência de um crescimento ainda forte, começando pelo fato de que os bens sob encomenda já contratados continuarão a ser produzidos.

Na categoria dos bens de consumo semi e não-duráveis, Sales entende que, pela mesma lógica cambial, segmentos tradicionais que vinham perdendo competitividade em relação aos importados, como calçados e têxteis, podem também recuperar o fôlego no novo cenário cambial. Britto pensa da mesma forma. Ele entende também que, como é provável que não haja desemprego forte - as empresas vão buscar inovações para melhorar suas margens sem reduzir demais o pessoal -, a indústria doméstica de bens de consumo de massa, como alimentos, bebidas e vestuário, será beneficiada.

Fábio Silveira, da RC Consultores, avalia que o perfil de crescimento da indústria em 2009 não deve ter muita alteração, mas as taxas de crescimento serão bem menores. Ele projeta crescimento de 3% para a produção industrial em 2009, ante 6% este ano.

O setor de bens de capital vai permanecer como um dos líderes da indústria em razão dos vários projetos de investimento, principalmente de infra-estrutura, que começaram a ser tocados no segundo semestre deste ano e vão continuar no primeiro semestre de 2009. "Isso permitirá que o setor de bens de capital continue sendo um setor com taxa importante de crescimento em 2009." Silveira projeta expansão de 10% para a produção de máquinas e equipamentos em 2009, com destaque para o segmento de máquinas e equipamentos para a indústria.

O setor de bens de consumo deve ficar mais travado. Silveira trabalha com crescimento de 1,5% para a massa salarial em 2009, ante 7% este ano. Ele estima que a produção de bens de consumo em geral crescerá 2,5% ante 5% este ano. A indústria automobilística deve se expandir 3% em 2009, avalia.

Alguns setores da área de duráveis podem ampliar sua produção, já que os importados ficarão mais caros. Nesse caso está a produção nacional de eletroeletrônicos, que, na ótica de Silveira, terá um espaço maior para crescer, principalmente os produtos ligados à telefonia, favorecidos pela desvalorização cambial.

No cenário da RC Consultores para 2009, o PIB do Brasil ainda vai se expandir ancorado na demanda interna, mas com taxas bem menores de crescimento, na faixa de 3% a 2%. A taxa de 2% é possível, segundo ele, caso os Estados Unidos tenham uma queda de 1% no seu PIB em 2009. "O crescimento da economia brasileira vai depender do crédito e do comportamento da taxa básica de juro e da economia americana. O governo vai ter que baixar a taxa de juro aqui se não quiser que o PIB cresça zero no ano que vem", argumenta Silveira.


Chico Santos e Vera Saavedra Durão, do Rio
Valor Online, 02/12/08


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