segunda-feira, 14 de abril de 2008

Mineração, bancos e siderurgia navegam em rentabilidade

Embora não se espere um ano tão glamouroso para o mercado de capitais - em número de ofertas, ingresso de novas empresas e valorização das ações -, as companhias abertas brasileiras devem continuar a brilhar em 2008. A expectativa é que a saúde financeira e a rentabilidade das empresas continuem fortes, a despeito da crise financeira externa e da possibilidade de aumento de juros no país.

Os setores que devem se destacar em resultados são praticamente os mesmos de 2007, como mineração, siderurgia e financeiro. E o fato de se prever mais do mesmo não é uma má notícia, pois em tempos de crise é tranqüilizante a avaliação de que se pode contar com a previsibilidade e a continuidade do bom desempenho das companhias.

"Há um conjunção de fatores favoráveis no país, como crescimento econômico, aumento da renda e do emprego e ampliação dos investimentos realizados por diversos setores produtivos", afirma a economista Marcela Prada, da Tendências Consultoria. A esses itens se junta o fato de as empresas estarem capitalizadas, devido às ofertas de ações dos últimos anos.

Para o professor da Escola de Administração da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Evaldo Alves, a crise nos Estados Unidos ainda não afetou de forma significativa a demanda mundial por produtos brasileiros, que continuam sendo exportados para diversos mercados. As empresas que sentiram alguma diminuição na procura externa conseguiram direcionar a produção para o ambiente doméstico.

Ele também avalia que a taxa de juros nacional, candidata à maior vilã dos negócios no país, deverá subir, mas de forma modesta, sem grande impacto nas projeções de crescimento da economia. O Banco Central estima expansão de 4,8% neste ano, contra os 5,4% apurados em 2007. "Se a desaceleração americana e a alta dos juros no Brasil forem moderadas como o esperado, 2008 não será tão risonho como 2007, mas ainda será um ano muito positivo", destaca.

O setor de mineração, puxado pela Vale, deve se manter nos primeiros lugares do ranking de rentabilidade do país neste ano, segundo os analistas. Pedro Galdi, da corretora ABN Amro Real, explica que o principal motivo é o reajuste do minério de ferro, acima de 65%, que tem sido fechado pela Vale nas negociações com os clientes internacionais. Isso por causa da grande procura pelo produto, especialmente da China.

Em 2007, a companhia também foi responsável pelo excelente desempenho do setor, que apresentou rentabilidade sobre o patrimônio líquido de 34,7%, conforme levantamento do Valor Data, perdendo apenas para o item "outros" (44,3%), que reflete basicamente o tradicional bom desempenho da Souza Cruz (o item inclui também Ecodiesel e SP Turismo). Preços mais altos, produção maior e consolidação da compra da canadense Inco garantiram resultados recordes pra a Vale no ano passado. Para se ter uma idéia da grandeza do retorno do setor de mineração, a rentabilidade do total de companhias abertas nacionais ficou em 17,4% em 2007.

Outro setor que é promessa de grande retorno neste ano é o de metalurgia e siderurgia. "Apesar do aumento do custo dos insumos, como o próprio minério de ferro, as companhias estão conseguindo repassar essa alta para os preços dos produtos vendidos", destaca o estrategista de renda variável da Unibanco Corretora, Vladimir Pinto. Esse movimento é possível devido à demanda tanto interna, proveniente da indústria automobilística, quanto externa.

No ano passado, o setor de metalurgia e siderurgia foi o terceiro mais rentável, atrás de "outros" e mineração. Conforme o estudo do Valor Data, apresentou rentabilidade sobre o patrimônio de 27,6%.

Já por conta do mercado interno, um segmento da economia que deve manter os bons resultados neste ano é o financeiro, incluindo bancos e empresas de serviços, como a processadora de transações de cartões de débito e crédito Redecard. A expansão do crédito acima de 20% ao ano justifica as expectativas. Na avaliação do analista Pedro Galdi, da corretora ABN, o maior acesso da classe C aos produtos bancários e o desenvolvimento de alguns tipos de financiamentos, como o habitacional e o de veículos, impulsionam o setor. A inadimplência sob controle também contribui.

Por outro lado, o aumento tributário no setor no início do ano foram notícias negativas, mas sem grande impacto no andamento das operações. O segmento de serviços financeiros teve rentabilidade sobre o patrimônio de 26,5% em 2007. O de finanças e seguros apresentou 24,2%.

O comportamento da classe C, que cresceu e ampliou o consumo de uma série de produtos - de alimentos e artigos de higiene a eletrodomésticos e crédito - poderá ser o responsável por eventuais surpresas no ranking de rentabilidade em 2008. Companhias de varejo e eletrodomésticos também podem se destacar, afirma a analista-chefe da Banif Securities, Catarina Pedrosa.

Já alguns segmentos da economia não têm perspectivas de melhora. É o caso dos têxteis, que competem com os produtos chineses e sofrem com a valorização do real, pois ganham menos com as exportações. "A competitividade desse setor deve continuar ruim", avalia Vladimir Pinto, do Unibanco.

A mesma cautela se deve ter em relação aos segmentos de educação e serviços médicos, por exemplo. De acordo com Catarina, do Banif, esses setores têm dificuldades de repasse de custos e tentam elevar a rentabilidade via consolidação. "As empresas buscam escala para administrar melhor os custos e aumentar os resultados."

Vale destacar que, em uma série de empresas de diversos setores, a rentabilidade foi negativamente afetada em 2007 pela realização de ofertas de ações. Essas operações resultam em aumento do patrimônio líquido e, conseqüentemente, reduzem o indicador. A rentabilidade significa lucro sobre patrimônio. Isso ocorreu em muitas empresas do Novo Mercado. As companhias do segmento de governança corporativa da Bovespa tiveram rentabilidade de 14,5% no ano passado.

Silvia Fregoni
Publicado pelo
Valor Online em 14/04/08


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