sexta-feira, 7 de março de 2008

Cinema ganha mais investidores

Nova regra eleva dedução fiscal de dinheiro investido e incentiva aplicação na produção de filmes

Colocar dinheiro em cinema deixou de atrair apenas patrocinadores e começa a chamar a atenção de investidores profissionais. O bom momento do cinema nacional e uma mudança na legislação, que permite maior dedução no imposto do dinheiro aplicado, deram visibilidade para fundos de investimento em cinema.

O que era visto quase como aplicação a fundo perdido, com expectativa de retorno zero, transformou-se em um negócio, que busca títulos de apelo de bilheteria, com potencial de mobilizar recursos e de dar retorno para o investidor.

O patrimônio dos quatro Funcines, os fundos desta categoria registrados na CVM, já soma R$ 32,671 milhões e pelo menos mais dois fundos estão em fase de formação.

Até o momento, os fundos disponíveis são voltados para a pessoa jurídica, mas o crescimento deste segmento resultará em fundos também para pessoa física. Hoje, várias corretoras viabilizam o investimento em cinema para o investidor pessoa física, mas por meio da compra de certificados de investimento, que funcionam como uma cota direta de um determinado filme.

Criados em 2001 pela Ancine (Agência Nacional do Cinema) para estimular o investimento na cadeia do audiovisual, o investimento funciona como aplicações incentivadas. As empresas podem ter uma dedução fiscal correspondente a 100% do valor aplicado até o limite de 3% do Imposto de Renda a pagar. Para pessoa física, o percentual sobe para 6%.

“Antes da nova lei, o total que podia ser restituído era de 68% do dinheiro aplicado. Hoje, a empresa aplica no Funcine, recebe a restituição total destes recursos e ainda leva uma cota do fundo de igual valor, que pode se valorizar”, diz o presidente da Ancine, Manoel Rangel.

O RB Cinema 1, da Rio Bravo, é um dos precursores desse tipo de aplicação. Antes de criar o fundo, a Rio Bravo investiu em filmes como “Olga” e “Carandiru”. Hoje, o fundo investe em títulos como “O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias”, de Cao Hamburger, que foi selecionado para participar do Festival de Cinema de Berlim, “Sexo com Amor?”, de Wolf Maya, que está em cartaz e “Xuxa em Sonho de Menina”.

Não há receita para descobrir os filmes que vão cair no gosto do público. Segundo Gustavo Catão, analista de investimentos da Rio Bravo, a seleção leva em conta roteiro, elenco e diretor, entre outros fatores. A bilheteria é só uma das formas de se ganhar dinheiro. Os gestores negociam também vendas de DVDs, exibição na TV e no exterior. “Historicamente os filmes no Brasil não se pagam no cinema, precisam de outras janelas de exibição também.”

Alguns fundos estão em fase de captação de recursos. O mercado é pequeno, e o BNDES entra como um dos cotistas. O orçamento do banco para o setor é de R$ 25 milhões.

“Se tivermos bons projetos, ainda podemos ampliar”, diz Luciane Gorgulho, chefe do departamento de Economia da Cultura do BNDES. O banco investiu em dois fundos. Segundo a Folha apurou, pedidos de dois fundos são analisados e outros três fizeram consultas.

De acordo com Bruno Wainer, da Downtown Filmes, os fundos são voltados para o cinema que busca resultado. “A natureza deste fundo é profissionalizar a relação entre investidores e a produção cinematográfica. É uma equação que só dá certo se o filme der retorno”, disse. No final do ano passado foi lançado o Funcine Lacan-Downtown Filmes, uma parceria com a distribuidora.
“A idéia é permitir que uma distribuidora nacional possa concorrer com as internacionais com o melhor do cinema produzido no país.” Wainer é o distribuidor de “Meu Nome Não é Johnny”, um dos maiores sucessos recentes nas telas.

Os fundos podem aplicar em outros segmentos da cadeia cinematográfica. Sidney Chameh, da DGF Investimentos, elabora um fundo com foco na locação de equipamentos. “Vamos investir na cadeia produtiva do cinema, em produtora, estúdio e equipamentos.”

Para Luiz Fernando Castello Branco, do Banco Fator, que tem um Funcine em fase de captação, há espaço para investimento em novas salas de cinema. “Apesar de ter crescido o número de salas, há espaço em cidades de médio porte.”

O modelo brasileiro tem semelhanças com o Soficas, fundo francês em cinema, no qual a aplicação é restituída. Segundo Thierry Perrone, que acompanhou o renascimento da indústria francesa, a aplicação deve chegar ao investidor pessoa física no Brasil. “O grande mercado é a classe média, mas para isso os fundos precisam emitir cotas com valor menor.”


Marcelo Lucena/Comunicação Social
Publicado pelo
Ministério da Cultura em 25/02/08


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