terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Seminário pede decisões rápidas na busca do desenvolvimento sustentável

Chico Santos
Publicado pelo
Valor Online em 04/12/07

Bernardo Toro: "Precisamos acelerar a implantação do mercado de carbono"
Foto Leo Pinheiro

A urgência na tomada de decisões em busca de um desenvolvimento social e ambientalmente responsável e os desafios nada triviais que esta busca encerra marcaram o seminário "Ecoeficiência e os Desafios da Globalização", promovido pelo Valor, ontem, no Rio. O filósofo e educador colombiano Bernardo Toro, assessor estratégico da presidência da Fundação Avina, voltada para a busca do desenvolvimento sustentável, disse que algo precisa ser feito em prazo menor que dez anos para mudar a mentalidade na busca de uma sociedade baseada na ética, nos direitos humanos e no respeito ao meio ambiente.

Para Toro, no ritmo atual a humanidade vai levar pelo menos 20 anos para tomar medidas que são urgentes, mas ele se mostra otimista e entende que após o filme "Uma Verdade Inconveniente", do ex-vice-presidente americano Al Gore, a tomada de decisões tende a se acelerar. "Precisamos acelerar a implantação do mercado de carbono", disse ao Valor logo após sua palestra, acrescentando que esta e outras iniciativas precisam se efetivar em "cinco a seis anos".

Toro reforçou, em entrevista, a declaração feita por Fernando Almeida, presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), segundo a qual ou a humanidade acelera uma ruptura planejada do modelo atual ou essa ruptura será feita, em pouco tempo, sob pressão de catástrofes naturais. "Não acredito que melhoria contínua dará resultado", disse.

Para ele, "o lucro tem que ser revisto, queiramos ou não". A mudança seria para reverter parte do que hoje é lucro para os acionistas para a sociedade como um todo. Almeida disse que não é visível a redução da miséria e lamentou a falta de lideranças capazes de conduzir o processo de ruptura com o modelo produtivo atual. "Não vejo o (Mahatma) Gandhi da sustentabilidade", disse.

Chamada por Ricardo Young, presidente do Instituto Ethos, de "a nova utopia", a sustentabilidade depende, na opinião de Toro, menos de grandes líderes e mais de um esforço coordenado das elites, entendidas como as lideranças das diversas camadas sociais. "Se você logra juntar as elites, é possível que nas grandes cidades aprendamos mais rápido os caminhos da sustentabilidade", disse o filósofo.

A organização da sociedade civil é, na visão de Toro, a chave para se alcançar uma humanidade que seja centrada na satisfação dos direitos fundamentais, "políticos, econômicos, sociais, culturais, ambientais e difusos". Ao "modelo napoleônico" de "tudo pelo Estado" que, segundo ele, imperou nos últimos 200 anos, deve-se contrapor o Estado Social de Direito, que "existe para tornar possível a felicidade da gente".

Em outro dos três painéis do seminário, o físico Luiz Pinguelli Rosa, diretor da Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, defendeu a criação de um fundo, com receitas da exploração da nova fronteira petrolífera do país, a camada pré-sal do subsolo marinho, para financiar o desenvolvimento de energia originária da biomassa.

Pinguelli mostrou-se pessimista em relação aos resultados da Convenção Mundial do Clima que começou ontem, em Báli (Indonésia), por entender que não há novidades significativas a serem sacramentadas no encontro, embora tenha aplaudido a adesão da Austrália ao Protocolo de Kioto.

Após mostrar dados de 2003 segundo os quais a maioria dos países ricos, com exceção de Alemanha e Reino Unido, estava com emissões até 42% (Espanha) acima das metas de Kioto, Pinguelli disse que os países em desenvolvimento, como Brasil, China e Índia tendem a aumentar suas emissões. E os EUA não assinam o protocolo.

Eduardo Rath Fingerl, diretor do BNDES, apresentou as iniciativas do banco estatal para enfatizar o papel dos intangíveis na geração de valor pelas empresas e na conseqüente capacidade dessas empresas de captarem financiamentos. Segundo ele, os atuais modelos contábeis não são adequados para medir, por exemplo, se uma empresa é sustentável ou não.

Regina Zimmermann, gerente-técnica da Amanco, produtora de tubos de PVC, mostrou que, com o uso de uma série de parâmetros de ecoeficiência. a empresa acumula economia de custos de US$ 1,63 milhão desde 2002.

O seminário "Ecoeficiência e os Desafios da Globalização" foi realizado com o patrocínio da Ambev e com o apoio da Avina, da ONG Rio como Vamos, do Instituto Ethos e da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).


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