terça-feira, 3 de julho de 2007

Santander aposta em ciclo virtuoso na América Latina

Catherine Vieira
Publicado pelo
Valor Online em 03/07/07

José Juan Ruiz, economista-chefe do Santander para as Américas: 34% do resultado do banco provêm da AL
(Foto Marisa Cauduro / Valor)

Crescimento médio de 4,7% e inflação entre 3% e 5% e cerca de seis países próximos do grau de investimento. As previsões para a América Latina consolidadas pelo economista-chefe do Santander para as Américas, José Juan Ruiz, são apenas parte da justificativa do entusiasmo do banco com o ciclo virtuoso da região.

Não é à toa que 34% do resultado do banco provêm da América Latina. "É extraordinário, são quatro anos de crescimento e bons indicadores e teremos o quinto. Há 25 anos não se via algo parecido", diz Ruiz. Em grandes números, o quadro da economia latino-americana parece muito mais cor-de-rosa do que poderia sugerir um olhar clínico dos dados isolados de cada país, nos quais poderia se questionar a qualidade dos gastos públicos brasileiros ou a inflação argentina. Esta visão conjunta é, porém, a maneira como os grandes investidores do mundo analisam os dados, o que justifica, em parte, o fluxo que converge para a AL.

O Santander promove, a partir de amanhã, um encontro com especialistas de diversos países para debater e aprofundar alguns dos temas apresentados ontem pelo economista da instituição.

Segundo Ruiz, Wall Street está "comprando" a melhora dos fundamentos macroeconômicos da América Latina como um todo. "O que eles observam em grandes números é um crescimento na casa de 5% com inflação em cerca de 5,4%, um superávit comercial superior a US$ 115 bilhões e um superávit primário médio de 3% do PIB e mais de US$ 300 bilhões em reservas", aponta Ruiz. "É assim que os investidores e analistas pensam, eles não me perguntam sobre um país ou problema específico, em primeiro lugar, sempre me questionam sobre os indicadores e as projeções consolidadas", contou o economista.

Para ele, os latino-americanos costumam ser mais pessimistas do que os estrangeiros a respeito do próprio futuro. "O Francisco Luzón (diretor geral do grupo Santander) disse uma vez que o fracasso tem um enorme prestígio intelectual na América Latina e que é preciso acabar com esse fatalismo para aproveitar melhor as oportunidades que estão se criando", completou Ruiz, enquanto seu celular toca, fazendo soar uma melodia do ministro Gilberto Gil.

Apesar de garantir que sua devoção à música brasileira não influencia o seu otimismo com o país, as projeções de Ruiz para a economia do Brasil são animadoras. Para o economista, o Brasil vai atingir o grau de investimento nos próximos doze meses. E, apesar de apontar o câmbio e a apreciação das moedas locais como um principais riscos a serem observados no momento na AL, Ruiz diz que não há motivos para uma preocupação especial como Brasil. "A apreciação do câmbio é uma preocupação de forma geral, uma vez que a inflação esta baixa e isso também aprecia o câmbio real", observou Ruiz.

Ainda que o real apresente uma apreciação maior que as outras moedas e a balança comercial brasileira seja a mais robusta da região, ele não acredita em grandes estragos. "O Brasil cresceu com taxas de juros de dois dígitos e inflação baixa, imagina o impacto que pode ter um período sustentado de juro menor para a demanda interna", acredita ele.

Para Ruiz, esse desenvolvimento das demanda e poupança interna e a eliminação de riscos por meio da redução da dívida externa e do aumento das reservas sao os pilares que permitem o otimismo para os próximos meses. "Sempre se discute até quando essa fase boa vai durar e acredito que pelos próximos doze a dezoito meses certamente vai continuar", avalia o economista do Santander.

"Alguns defendem que, quando os preços das commodities voltarem a cair, haverá um estrago no superávit comercial da américa latina", diz ele, mostrando projeções feitas pelo JP Morgan. "Mas esta projeção desconsidera que os países não são igualmente vulneráveis e muitos ajustes aconteceram", adverte ele, apontando para um recém-divulgado relatório da Goldman Sachs, que aponta ser a América Latina mais do que só um jogo baseado em commodities.

Outros fatores que permitiram o crescimento da região, na visão de Ruiz, foram o desenvolvimento do mercado de capitais, a solidez do sistema financeiro e a expansão do crédito. Ruiz ressaltou que a média da relação crédito versus PIB na região aumentou de 23,2% em 2003 para 26,7% em 2006, sendo que no Brasil o movimento foi mais acentuado, e o percentual saltou de 24,6% para 31,5%. Ele lembra que o consumo interno foi beneficiado e vem se expandindo fortemente, mas a poupança interna também cresceu. "Ou seja, se consome, mas está ocorrendo investimento, financiado com a poupança interna". Para 2007, a previsto é a de que a demanda interna da região cresça 6,3%. No entanto, a projeção para a taxa brasileira é menor, de 5,6%, e ganha apenas do México (3,7%).

Para o economista, as mudanças na economia da América Latina se refletiram nos indicadores sociais. "A renda per capita teve um acréscimo de US$ 2 mil nos últimos quatro anos, sendo que em toda a década de 80 esse valor não passou de US$ 1,4 mil. Além disso, o número de pessoas abaixo da linha de pobreza se reduziu cinco pontos percentuais em quatro anos, o que representa 18 milhões de pessoas", ressalta Ruiz. Segundo ele, uma geração inteira de latino-americanos cresceu sem ver três anos seguidos de crescimento econömico de 3,5% ou mais.

A repórter viajou a convite do Santander


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