terça-feira, 24 de julho de 2007

Saúde: Deficientes auditivos querem mais acesso a novas tecnologias

Alicia Fraerman, da IPS
Publicado pela
Envolverde em 24/07/07

O desenvolvimento técnico ajuda a participação social das pessoas surdas, mas são necessárias mais medidas para que todas tenham acesso às novas tecnologias, sobretudo nos países pobres, destacaram participantes do XV Congresso da Federação Mundial de Pessoas Surdas (FMPS). Do encontro, que aconteceu entre os dias 16 e 22 deste mês em Madri, participaram mais de dois mil representantes de deficientes auditivos de uma centena de nações, e sua principal reivindicação foi que tenham reconhecido e facilitado o direito de se comunicarem em suas linguagens de sinais que, segundo afirmaram, difere de país para país, mas todas são válidas.

Ontem, com reconhecimento desse setor da sociedade, uma intérprete traduziu por meio da linguagem de sinais a conferência sobre os direitos da cidadania pronunciada em outro encontro pela primeira vice-presidente do governo espanhol, a socialista Maria Teresa Fernández de la Veja. A ministra havia aberto o congresso, que se desenvolveu sob o lema “Linguagem de sinais, questão de direitos”. O presidente da FMPS, Markku Jokinen, disse que “no mundo existem cerca de 130 linguagens de sinais, que refletem uma diversidade cultural importante à qual durante séculos negou-se direitos nas áreas da saúde, cultura e legalidade”.

As pessoas surdas ou com deficiências auditivas devem enfrentar muitos problemas, na maioria provocados por sua incapacidade de se comunicar como os demais. Conchi García, técnica da Federação de Pessoas Surdas da Comunidade de Madri, deu como exemplo o que ocorre quando no trem, avião ou aeroporto é divulgado um comunicado pelo serviço de som. As pessoas surdas irão reagir pelas demais, correndo, amontoando-se sem saber se é o caso de acidente, atentado ou mudança de direção. García admitiu que é difícil que em todos esses casos haja pessoas atuando como interpretes, mas, acrescentou, “se no trem, metrô e nos aviões há telas transmitindo publicidade por que não incluir também mensagens na linguagem de sinais?”.

A responsável pela Comissão de Direitos Humanos, Lingüísticos e Cultura do congresso, a neozelandesa Kim Robinson, destacou que “a comunicação é um direito humano fundamental. Por isso a linguagem de sinais é uma questão de direitos humanos, não uma simples ferramenta”. Jokinen afirmou que “sem direitos lingüísticos tampouco temos direitos humanos, portanto, o reconhecimento das línguas de sinais é uma pré-condição necessária para garantir a segurança destes direitos em todo o mundo”.

O especialista finlandês Antti Naike disse que já existem novas tecnologias que favorecem a participação social das pessoas surdas. Mas, alertou que “é preciso aplicá-las” sem que o lugar de residência seja um obstáculo. Naike considerou que um importante passo adiante seria fomentar o intercâmbio e a cooperação entre os países, tarefa em que as administrações públicas devem assumir sua responsabilidade. Na Espanha já se registrou algum avanço. Um deles foi uma lei aprovada por consenso no Congresso dos Deputados, no dia 28 de junho, que impõe a presença de interpretes nos atos públicos, a garantia do direito à escolha da língua, incluindo a de sinais, nas escolas, e a aplicação de meios de apoio alternativos, entre eles os códigos visuais. Além disso, a lei determina a criação do Centro de Normalização Lingüística, do qual participarão as organizações que agrupam as pessoas com problemas de audição.

Ao abrir o congresso, Fernández de la Veja disse que “uma sociedade, para ser justa, tem de ser, em primeiro lugar, decente e combater práticas coletivas que comportam formas intoleráveis de discriminação, o que é um pressuposto obrigatório de igualdade e de toda a democracia”. Um fato considerado discriminatório acontece nas escolas onde não se leva em conta a identidade das pessoas surdas. A psiquiatra holandesa Ines Sleebom destacou que o sistema educacional deve tê-la em conta e os centros de saúde precisam criar serviços especializados de saúde mental, com pessoal surdo e profissionais que conheça a linguagem de sinais.

Sleebom destacou que “é fundamental o diagnostico precoce da surdez para garantir um adequado desenvolvimento emocional e cognitivo na infância”. A responsável pela seção científica do congresso, Amparo Minguet, disse que esta reunião permitiu avançar seriamente no reconhecimento das linguagens de sinais de diferentes países e compartilhar experiências em educação, cultura, ciência e novas tecnologias. Com um telefone vibratório nas mãos, se expressou por meio de sinais e com o apoio de uma intérprete disse à imprensa que “graças a isto estou facilmente em contato, recebendo textos e acompanhando meu correio eletrônico”.

David Hoareau, um professor que acompanhado por 20 alunos viajou ao congresso desde a ilha Reunião, um território sob domínio francês no leste da África, recordou que os surdos têm fama de isolados. “Mas este encontro demonstrou que somos capazes de sair para trocarmos experiências e nos comunicarmos”, afirmou. Paralelo ao congresso, aconteceram diversas exposições e um espetáculo teatral com a participação de atores surdos. Também se apresentou o grupo de hip-hop finlandês Singmark, que utiliza a linguagem de sinais. (IPS/Envolverde)


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