quarta-feira, 18 de julho de 2007

Aposentados são recrutados para suprir a falta de especialistas

Andrea Giardino
Publicado pelo Valor Online em 18/07/07

Pedro Paulo Scoffano, 63 anos, 12 meses após ter se aposentado pela Petrobras, foi chamado de volta pela estatal
Foto Silvia Costanti / Valor


Em novembro de 2002, o administrador de empresas Pedro Paulo Scoffano, 63 anos, retornava ao mercado de trabalho, 12 meses após ter se aposentado pela Petrobras, onde começou como estagiário e saiu como assistente do superintendente da Gaspetro (braço da estatal). Quando se despediu de uma carreira em ascensão de 22 anos, ele não imaginava que pouco tempo depois retornaria à casa. Mas a explosão do setor de petróleo e gás, que resultou num 'gap' de mão-de-obra especializada, vem levando muitas companhias a buscar profissionais já aposentados, como ele.

Scoffano foi chamado por uma assessoria na área de gestão empresarial, escolhida por meio de licitação para prestar serviços à gigante do petróleo, passando a atuar como consultor. "Este é um segmento bem complexo, que exige um profundo grau de conhecimento técnico dos processos", afirma. "E o mundo acadêmico não consegue acompanhar o ritmo de crescimento acelerado do mercado. Resultado, os recém-formados acabam não saindo prontos".

A realidade do setor de petróleo também se aplica em outras áreas, como a de mineração, siderurgia, seguro e construção, que vivem seus melhores momentos. Consequentemente, o boom dos novos investimentos reflete na abertura de inúmeras vagas não preenchidas pela falta de gente preparada. E a alternativa encontrada diante do problema tem sido trazer de volta profissionais experientes que penduraram a chuteira. "É um fenômeno interessante, porque o mercado normalmente descarta quem já passou dos 50", avalia André Bocater, diretor geral da Case Consulting, consultoria especializada na seleção de profissionais para média gerência.

"Mas vale ressaltar que esse movimento só acontece em funções que exigem do profissional um perfil técnico ou segmentos que enfrentam a escassez de talentos", observa. Ele destaca que no setor de petróleo e gás não há gerentes de operação ou gerentes técnicos disponíveis. O mesmo pode ser observado em indústrias que precisam hoje de engenheiros químicos, que migraram de área por conta da falta de boas oportunidade no passado e agora são de novo bastante valorizados.

De acordo com Bocater, tirá-los da concorrência sai bem mais caro, já que quem está empregado nessas áreas ganha altos salários e benefícios. "Não quer dizer que todo mundo vai se aposentar e ter emprego garantindo. Apenas esses profissionais que construíram carreira em setores extremamente especializados ou que vêm se expandindo", afirma. Em geral, os aposentados que voltam à ativa são contratados como pessoa jurídica.

Por outro lado, com medo de perderem suas mentes brilhantes e não acharem substitutos no mercado, algumas companhias retêm os executivos após a aposentadoria. "O mercado está aquecido e as empresas não podem segurar os negócios por falta de gente", avalia Karin Parodi, sócia da Career Center, consultoria especializada em orientação de carreira. "Vemos companhias desenharem programas de aposentadoria com o objetivo de não deixar as pessoas sairem".

Sérgio Duarte Cruz, 73 anos, recebeu proposta da diretoria da Marsh, multinacional americana que atua no gerenciamento de riscos e seguros, para permanecer na companhia como consultor após sua aposentadoria - na época ele tinha 65 anos. Seus mais de 40 anos de casa pesaram na decisão da empresas em mantê-lo. Poucos conhecem o setor de segurança patrimonial, análise de risco, roubo e prevenção como ele.

"Tinha até convite para trabalhar em outra empresa. No entanto, resolvi ficar porque aqui faço o que gosto, sem ter a responsabilidade administrativa de antes, como funcionário", destaca. Cruz está sempre viajando, algo que lhe agrada por permitir fugir da rotina. "Faço inspeções, avaliação de risco e auditoria, esse trabalho que complementa o que ganho com minha aposentadoria". Além dele, a empresa possui outros aposentados em seus quadros, responsáveis por tarefas bastante peculiares, dominadas sobretudo por profissionais bem mais experientes.

Luiz Alberto Bezerra, 60 anos, foi até promovido quando comunicou a empresa que estaria se aposentando. Convidado em 2003 a ocupar a gerência corporativa de recursos humanos do grupo Orsa - indústria dos setores de celulose, papel e embalagens -, até então era responsável pela parte administrativa de uma das unidades da holding, em Paulínia, interior de São Paulo. "Foi um salto importante, porque fiquei com todas as áreas de RH do grupo sob o meu comando", afirma.

"A empresa reconhece o profissional com experiência, que possui uma bagagem difícil de achar por aí". Bezerra acredita que a valorização do profissional mais velho começa a ser uma prática em alguns mercados. "É claro que imaginava permanecer na organização, mas não esperava ser chamado para subir degraus", diz. O que para ele é um bom indicador de que os cabelos brancos significam experiência e capacidade de lidar com situações em que os mais novos possuem pouco traquejo.

Na opinião de Flávio Kosminsky, sócio da Korn/Ferry INternational, empresa de recrutamento de alto executivos, trazer de volta aqueles que já saíram do mercado ou manter profissionais aposentados é uma opção que vem se tornando comum às companhias com déficit de talentos. "Formar bons profissionais leva em torno de 10 a 15 anos. Não dá para esperar esse tempo. A demanda é bem superior à oferta de gente preparada", explica. "No setor de petróleo então, a situação é mais grave. São posições extremamente especializadas em exploração e produção". Para o executivo, essa caça aos aposentados deve permanecer forte nos próximos oito anos, pelo menos, quando os os mais jovens estarão lapidados.


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