segunda-feira, 14 de maio de 2007

Novo estudo mostra como a telefonia celular estimula o crescimento


Tradução de artigo do The Economist, publicado no Valor Online de 14/05/2007.

Você é pescador no litoral do norte de Kerala, no sul da Índia. De sua área habitual de pesca, você traz uma carga de sardinhas excepcionalmente boa. Mas será que outros pescadores na área também se deram bem? Nesse caso, haverá grande oferta no mercado local à beira-mar, os preços serão baixos, e você talvez nem consiga vender o seu peixe. Vale a pena ir a seu mercado habitual em qualquer situação, ou deveria você descer a costa na expectativa de que os pescadores dessa outra área não tenham tido uma pesca tão boa e seu peixe possa, assim, alcançar um preço melhor? Se tomar a decisão errada, você não poderá tentar outro mercado, pois o combustível é caro e os mercados funcionam só por algumas horas antes do nascer do sol - e esse é o tempo para que seu barco navegue de um mercado até outro. Uma vez que os peixes são perecíveis, todo peixe não vendido tem de ser lançado ao mar.

Essa, em resumo, era a situação com que se defrontavam os pescadores em Kerala até 1997. O resultado estava longe do ideal - tanto para os pescadores como a clientela. Na prática, os pescadores optavam por ir sempre a seus mercados locais. Isso constituía um desperdício, pois quando havia excedente de oferta num mercado, os peixes eram jogados fora, ainda que pudesse haver compradores em outro mercado ao longo da costa.

Em média, de 5% a 8% dos peixes apanhados eram descartados, diz Robert Jensen, economista da Universidade Harvard especializado em desenvolvimento, que pesquisou o preço das sardinhas em 15 mercados na costa de Kerala. Em 14 de janeiro de 1997, 11 pescadores na praia de Badagara acabaram lançando peixes ao mar, mas nesse mesmo dia havia 27 compradores em mercados a 15 km dali que teriam comprado os peixes. Havia ainda amplas variações no preço das sardinhas ao longo da costa.

Mas, a partir de 1997, telefones celulares passaram a ser usados Kerala. Uma vez que a cobertura de telefonia celular cresceu gradualmente, isso se tornou uma maneira ideal para aferir o efeito dos telefones móveis sobre o comportamento dos pescadores, o preço dos peixes e o volume de desperdício.

Por muitos anos houve relatos de como os celulares estimulam mercados mais eficientes e a atividade econômica. Um, especialmente popular, se refere ao pescador capaz de telefonar de seu barco para vários mercados e descobrir onde sua pesca alcançará maior preço. O estudo de Jensen acrescenta alguns números a esses relatos e revela exatamente como os celulares contribuem para o crescimento econômico.

À medida que a cobertura telefônica se disseminou, entre 1997 e 2000, os pescadores começaram a comprar telefones e usá-los para contatar os mercados costeiros enquanto estavam no mar. A área de cobertura chega até 20 ou 25 km da costa. Em vez de vender seus peixes em leilões à beira-mar, os pescadores davam vários telefonemas para descobrir o melhor preço. Dividindo a costa em três áreas, Jensen descobriu que a proporção de pescadores que se aventurava além de seus mercados locais para vender os peixes saltou de zero para cerca de 35%, tão logo a cobertura celular tornou-se disponível em cada área. A partir de então, nenhum peixe foi desperdiçado e a variação nos preços caiu muito.

Quando o estudo estava em fase de conclusão, a cobertura celular estava disponível em todas as três regiões. O desperdício tinha sido eliminado e a "lei do preço único" - conceito econômico segundo o qual, num mercado eficiente, mercadorias idênticas devem custar o mesmo - tinha passado a vigorar, na forma de um preço único para as sardinhas ao longo da costa.
Esse mercado mais eficiente beneficiou a todos. O lucro dos pescadores cresceu em média 8%, e o preço ao consumidor caiu 4%. Com o lucro maior, os telefones se pagavam normalmente em dois meses. E os benefícios são persistentes, e não pontuais. Tudo isso, diz Jensen, evidencia a importância do livre fluxo de informações para assegurar que os mercados funcionem eficientemente. "Informação é o que faz mercados funcionarem, e os mercados melhoram as condições de vida", conclui ele.

O trabalho de Jensen é valioso porque os estudos sobre o efeito econômico dos celulares tendem a ser macroeconômicos. Um exemplo bem conhecido é a descoberta de Leonard Waverman, da London Business School, em 2005, de que mais 10 telefones celulares para cada 100 habitantes num país em desenvolvimento típico gera mais 0,59 ponto percentual de crescimento no PIB per capita. Recentemente, ele repetiu esse estudo empregando um modelo mais detalhado, e verificou incremento de 0,44 ponto percentual de crescimento, diferença que ele diz não ser estatisticamente significativa.

Uma crítica contra tais estudos, diz Waverman, alega ser difícil dizer se a telefonia celular está incentivando o crescimento ou se crescimento está estimulando a aceitação de celulares, às medida que as pessoas passam a ter condições de adquiri-lo. É fácil imaginar como os celulares podem estimular a atividade econômica - eles compensam infra-estrutura insatisfatória, ao eliminar a necessidade de viajar, viabilizam a distribuição de dados de preços, permitem que os vendedores entrem em contato com mercados mais distantes etc. Waverman usa uma variedade de testes estatísticos para tentar distinguir causa e efeito. Mas análises detalhadas de dados de micro-mercados, como o estudo de Jensen, diz ele, comprovam como os celulares melhoram, efetivamente, a condição de vida das pessoas.

Além disso, diz Jensen, os telefones produzem esse efeito sem a necessidade de intervenção governamental. As redes de telefonia móvel são construídas por empresa privadas, e não por governos ou ONGs, e são economicamente auto-suficientes. As operadoras de telefonia móvel as constroem e operam porque obtém lucro com isso, e pescadores, marceneiros ou taxistas se dispõem a pagar pelo serviço porque a tecnologia faz seus lucros crescerem. O ganho resultante em padrão de vida é indicado pela lucratividade tanto das operadoras como de seus usuários, diz ele. Tudo o que os governos têm de fazer é conceder licenças às operadoras, criar uma regulamentação clara e transparente - e então esperar até que os celulares executem seu número de mágica econômica. (Tradução de Sergio Blum)


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