segunda-feira, 14 de maio de 2007

Mesmo a US$ 3, governo rejeita uso do Windows na educação







Publicado no Valor Online em 14/05/2007
André Borges e João Luiz Rosa

A Microsoft terá que usar de muita estratégia e retórica para convencer o governo brasileiro de que seus sistemas são uma opção viável para os projetos educacionais de computação. O governo não está disposto a dar espaço para que softwares proprietários, como o sistema operacional Windows, entrem na competição por seus projetos de inclusão digital nas escolas. A posição é ratificada pelo assessor especial da Presidência da República, César Alvarez. "O Brasil, ao encomendar equipamentos para educação, sempre priorizará o conhecimento nacional, e usará aplicativos de padrão nacional", afirmou ao Valor, numa referência ao desenvolvimento de sistemas atrelado a programas de código aberto.

Assim como já acontece com o programa Computador para Todos - que oferece linhas de financiamento para fabricantes que vendam micros de até R$ 1,4 mil, usando exclusivamente o sistema de código aberto Linux - o projeto Um Computador por Aluno (UCA) vai exigir o software de código aberto por parte dos fabricantes.

Na semana passada, Kevin Turner, terceiro homem da Microsoft no mundo, esteve no Brasil para anunciar um pacote de software com o Windows e o Office por US$ 3, o que representa um desconto de 99% em relação ao preço normal dos produtos.

A iniciativa, dirigida a mercados emergentes, é a maior ofensiva feita até agora pela empresa para entrar em projetos de baixo custo e quebrar a hegemonia que o Linux tem ocupado no segmento. O programa visa equipar computadores portáteis que serão comprados por governos e distribuídos a alunos da rede pública, o tipo de projeto que ganha corpo no Brasil.

Será um jogo difícil. "Não há espaço para sistemas de código fechado na concepção desse projeto", comenta José Luiz de Aquino, da assessoria especial da Presidência. Segundo Aquino, há algum tempo a Microsoft foi até Brasília para negociar com o governo. "Vieram aqui e chegaram a oferecer o Windows até de graça. Mas essa possibilidade não existe. Só usaremos software livre."

Os argumentos que balizam a postura do governo já são conhecidos: apoiar o conhecimento local com o desenvolvimento de sistemas de tecnologia, a geração de negócios entre empresas brasileiras e a comunidade de desenvolvedores de software.

O Brasil é reconhecido como um dos países mais engajados em relação ao software de código aberto, mas quase não há números locais que demonstrem qual é o impacto econômico e social dessa tecnologia no país. A reportagem ouviu consultorias especializadas em tecnologia da informação, empresas do setor e os próprios órgãos do governo em busca de informações básicas sobre o mercado dos sistemas abertos. Não encontrou praticamente nada.

A Microsoft prefere não entrar em polêmica. Paulo Cunha, diretor de serviços públicos e educação da companhia no Brasil, afirmou que a intenção é buscar sempre um diálogo permanente com as autoridades. Sobre os pacotes a US$ 3, disse que a iniciativa tem sido recebida com interesse por governos estaduais e municipais com os quais a empresa está conversando.

Durante a visita de Turner, a Microsoft divulgou que 15 mil empresas no Brasil vendem seus produtos e desenvolvem software e serviços com base em sua tecnologia. Turner também premiou a equipe brasileira que vai competir, na Coréia, de um torneio de sistemas baseados em tecnologia da Microsoft. De todos os inscritos, 32% vieram do Brasil.

Há três possibilidades em jogo no campo do computador educativo: o laptop de US$ 100, da organização Um Laptop Por Criança (OLPC); o ClassMate, da Intel; e o Mobilis, da indiana Encore. A Microsoft não divulgou detalhes sobre o entendimento com nenhuma delas. Não há, porém, resistência por parte dos donos dos projetos. Tanto a OLPC como a Intel disseram ser agnósticas quanto ao sistema operacional. Em entrevista ao Valor, o presidente da OLPC, Walter Bender, disse que o laptop de US$ 100 "está preparado para operar com diferentes sistemas".

A disputa vai ganhar força daqui para frente. O governo federal prepara, para o segundo semestre, uma licitação internacional para compra dos equipamentos. A licitação deverá exigir o uso de sistemas abertos, uma configuração mínima em relação ao equipamento e a inclusão de programas com fins educacionais. Outras regras garantirão que, de alguma forma, haja a participação de fornecedores nacionais. Pelo menos 50 mil máquinas deverão ser compradas e distribuídas em escolas de todos os Estados. Hoje, cinco escolas públicas do país testam as três opções de laptop.


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