segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Empresa P, sustentabilidade G

Empresas de pequeno porte se mostram mais ágeis para implantar mudanças e terem respostas rápidas quando o assunto é sustentabilidade

É interessante observar o movimento migratório rumo à sustentabilidade. Vimos as companhias tatearem em busca de soluções, depois passamos a contar suas histórias de sucesso e agora vemos a instalação de novos padrões de consumo e exigências regulatórias, fazendo com que o mercado amadureça mais e mais.


As empresas preocupadas com o desempenho ambiental há muito tempo se voltaram para seus vizinhos em busca de ajuda, a partir de cases e artigos. Várias organizações – como GEMI e Greenbiz.com, por exemplo – foram fundadas sobre a noção de que a assistência de benchmarking é o meio mais eficaz de entender as complexidades das questões relacionadas aos negócios ambientais.

Mas, a maior parte das organizações focou nos grandes players, as multinacionais, cujos problemas ambientais são grandes e globais. As pequenas empresas – as milhões de empresas de maquinaria, fábricas de acabamento em metal, gráficas, refinarias química, instalações industriais, varejistas e outras inúmeras– não estão em condições de se beneficiar de tais conselhos.

Isso representa uma oportunidade perdida. De acordo com dados da IDC Brasil (International Data Corporation), o país tinha ao final de 2003 mais de 151 mil empresas de micro, pequeno e médio portes – 93,1% do total de companhias instaladas em território nacional. Mais de 98% têm menos de 100 funcionários. E um número substancial dessas pequenas empresas tem falta de conhecimento, tempo, dinheiro e outros recursos para investir na prevenção da poluição, minimização de resíduos e outros aspectos da gestão ecológica.

O item mais importante a se destacar é o fato de que companhias menores são muito mais ágeis na implantação de mudanças e também na resposta a essas mudanças. Portanto, é muito mais fácil para essas empresas aproveitarem as oportunidades oferecidas pelas novas dinâmicas de mercado, colhendo os frutos de suas ações.

Mas o cenário está começando a mudar, graças ao crescente número de programas de auxílio e tutoria destinados às pequenas e médias empresas. Os programas vêm de agências federais, estaduais e de governos locais; grupos comerciais, tanto nacionais quanto regionais; centros acadêmicos e das próprias empresas. Veja algumas opções.

Eventos
O Fórum de Sustentabilidade Ambiental deixou evidente que a sustentabilidade de pequenas e médias empresas está amadurecendo. O evento, realizado em São Paulo pelo Sebrae, teve o objetivo de sensibilizar os empresários de micro e pequenas empresas (MPEs) do setor industrial para as boas práticas ambientais, promovendo uma intensa troca de informações e experiências sobre o tema.

A entidade também promoverá o XIV Encontro Internacional de Empreendedores, cujo tema este ano será “O caminho para a sustentabilidade“. O evento acontecerá no Rio de Janeiro, nos dias 16, 17 e 18 de novembro, devendo atingir um público acima de 3 mil participantes.

O XII SIMAI, que acontece nos dias 9, 10 e 11 de novembro de 2010, apresentará temas atuais em relação à nova ordem socioambiental mundial e os seus reflexos no setor industrial brasileiro. As palestras de destaque são: “Modelo de implementação do Sistema de Gestão Ambiental em Micro e Pequenas Empresas Industriais” e “Pequenas empresas e a sustentabilidade”.

Treinamentos & Cursos
O Sebrae ainda atua com a disponibilidade de programas específicos, voltados para o desenvolvimento sustentável. Foco socioeconômico e ambiental, geração de trabalho e renda, cooperação na comercialização por meio de parcerias, entre outras, foram diretrizes difundidas como norteadoras de ações para o desenvolvimento das microempresas e pequenas, como o Programa Sebrae de Artesanato – PSA e o Programa Via Design.

Para o professor José Dornelas, conferencista nacional e internacional na área de empreendedorismo, o empreendedor do futuro precisa incorporar a sustentabilidade à sua atividade empresarial, seja na oferta de serviços seja na produção e comércio de produtos. “Na Amazônia principalmente, ou em qualquer lugar do País, o empreendedor precisa considerar a sustentabilidade como um fator competitivo fundamental no mercado”, orienta.

Outro destaque é o programa Bem Receber – uma iniciativa de abrangência nacional, visa aprimorar a qualidade e a competitividade das micro e pequenas empresas de turismo — responsáveis por mais de 90% dos empreendimentos do setor –, estimulando seu melhor desempenho nas áreas econômica, ambiental, cultural e social, contribuindo assim para o desenvolvimento sustentável do país e a melhoria da imagem do destino Brasil no exterior. Sua primeira fase foi desenvolvida e implementada no período de 2002 a 2006. Por meio de oficinas, visitas e assistência técnica, o programa tem estimulado empresários do turismo a desenvolverem suas atividades de forma ambientalmente equilibradas, economicamente viáveis, socialmente justas, culturalmente ricas e politicamente legítimas.

A partir de parcerias com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Apex-Brasil, Sebrae e Ministério do Turismo, o programa possibilita que empreendimentos certificados recebam investimentos para melhoria da qualidade de seus serviços e sua colocação no mercado internacional.

Outra iniciativa, voltada para o varejo, é promovida pelo Centro de Excelência em Varejo (GVcev) da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e tem estimulado uma gestão mais consciente e proativa das micro e pequenas empresas. O Programa de Responsabilidade Social e Sustentabilidade no Varejo revela vantagens na promoção de boas práticas de gestão.

De acordo com o programa, práticas de sustentabilidade nem sempre exigem investimentos volumosos. No caso do varejo, em especial, rever processos, como a troca de sacolas plásticas por bolsas retornáveis ou a coleta seletiva do lixo gerado no estabelecimento, são exemplos baratos e eficazes.

Para o pesquisador do Programa da FGV/SP, Luiz Carlos de Macedo, não adianta o comerciante promover iniciativas se não olhar para dentro e fizer a sua lição de casa. Segundo ele, o comerciante precisa registrar os funcionários, pagar um salário justo e dar condições de capacitação. Macedo garante que quando bem orientados, os funcionários conseguem explicar melhor a forma de utilização dos produtos e como descartá-los corretamente, sem deixar um rastro no meio ambiente.

Leitura dinâmica
A Editora FGV lançou no fim de 2009 o livro Pequenas Empresas, Arranjos Produtivos Locais e Sustentabilidade, organizado por José Antônio Puppim de Oliveira, pesquisador sênior e diretor assistente do Instituto de Estudos Avançados da Universidade das Nações Unidas (UNU-IAS) no Japão e especialista em planejamento, economia política do desenvolvimento sustentável e responsabilidade social de empresas.

O conteúdo da obra é resultado de anos de pesquisa e ensino sobre arranjos produtivos locais ou clusters na Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas (Ebape), da Fundação Getulio Vargas, e procura relacioná-los com a importante discussão sobre a sustentabilidade social e ambiental, ainda pouco explorada no âmbito das pequenas empresas.

O livro Projetos Sustentáveis é uma Coletânea de TCCs da FGV que abordam a sustentabilidade nas áreas de Gestão Econômica e Estratégica de Projetos. Entre os temas abordados na publicação destacam-se: A sustentabilidade ética, social, ambiental e financeira nas empresas; As normas e certificações com foco no “Construction Extension to The PMBOK Guide”; A integração de projetos e a análise dos mesmos sob o ponto de vista do PMBOK; A importância dos recursos humanos como importante ferramenta de gerenciamento e vantagem competitiva; e Modelo de retenção de talentos para projetos em pequenas empresas com foco na Geração Y, todos eles elaborados por alunos do MBA da FGV.

Auxílio financeiro
As pequenas e médias ainda contam com algumas linhas de financiamento, que fornecem o “pontapé inicial” para ações estruturadas. Uma das mais conhecidas é a do Grupo Santander Brasil, que foi autorizado pelo International Finance Corporation (IFC), braço do Banco Mundial voltado ao setor privado, a operar uma linha destinada a projetos especiais em países em desenvolvimento. A instituição repassará os recursos para projetos socioambientais que se encaixem em seus critérios, a exemplo do que fazia o Banco Real desde 2003, hoje integrante do Grupo. A linha, rotativa, é de R$ 537 milhões.

Além da propalada linha, as pequenas indústrias contam com as linhas de Financiamento ao Investimento Paulista – FIP, que são administradas pela Agência de Fomento Paulista – Nossa Caixa Desenvolvimento, entre elas:
. FIP – Meio Ambiente: financiamento voltado para melhorias no processo de produção e na prestação de serviços, para atender a legislação ambiental, garantindo maior sustentabilidade, e a redução dos impactos no meio ambiente de seus empreendimentos e projetos;
. FIP – Energia: destinado à redução do consumo de energia e para a utilização de energias alternativas;
. Linha Verde: financiamento de projetos de pequenas e médias empresas que proporcionem a redução das emissões de gases de efeito estufa no meio ambiente.

Ajudando os clientes
A gigante química 3M teve uma abordagem diferente. Trabalhando em conjunto com a Associação dos Fabricantes Americanos de Móveis e com outra empresa, a Akzo Nobel, ela criou um guia de orientação de 1.100 páginas que contém os requisitos ambientais específicos para o setor mobiliário. Ele inclui informações básicas de conformidades, bem como medidas mais pró-ativas. O projeto custou cerca de US$ 250 mil às duas empresas, principalmente para a impressão e para um consultor externo que escreveu o guia.

Por que se preocupar? "Nós vendemos muito para pequenas empresas", diz Tom Zosel, gerente de iniciativas ambientais da 3M. "Isso os ajuda a cumprir melhor as suas responsabilidades e a utilizar os nossos produtos de maneira mais responsável." Ele diz que a empresa não tem medido os benefícios diretos do esforço, ainda que um dos resultados seja que "os clientes estão fazendo mais perguntas sobre os nossos produtos."

Essas são apenas algumas das possibilidades existentes para auxiliar pequenos e médios empresários a organizarem seus negócios dentro da nova ética da sustentabilidade corporativa. O mais importante é pensar o negócio antes de agir. Planificações de longo prazo são mais complicadas de estruturar, mas apresentam o benefício de servir como guia para a companhia, em seu processo de crescimento e amadurecimento.

Bom trabalho nessa nova empreitada. E, lembre-se: há muitas pessoas interessadas na sua história de sucesso, não se esqueça de nos contar!


Jamile Leão
Consultora para comunicação em sustentabilidade corporativa e editora-chefe do site www.agendasustentavel.com.br
Fonte: Agenda Sustentável, 15/09/10
HSM Online, 15/09/10


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