sexta-feira, 4 de junho de 2010

O Twitter que saiu pela culatra

Um tweet pode virar uma grande dor de cabeça e até gerar consequências mais sérias para quem escreve comentários inapropriados

Antenado e moderninho, o Twitter virou o centro das atenções das redes sociais. O que acontece na ferramenta de microblog do passarinho azul ganha asas e repercussão com facilidade viral, atravessando fronteiras físicas, econômicas e sociais. Ótimo para quem quer divulgar ideias, empresas ou produtos, ter acesso a furos e informações privilegiadas ou dar um upgrade na carreira e contratar pessoas. Porém, dependendo do tweet, pode virar uma grande dor de cabeça e até gerar consequências mais sérias para quem escreve comentários inapropriados. "O Twitter tem o dom de soltar o lado negro das pessoas", comenta Max Petrucci, diretor presidente da agência digital Garage Interactive Marketing.


Foi o que aconteceu em alguns casos recentes envolvendo a ferramenta digital e que ganharam repercussão na mídia, acendendo uma luz de alerta para os twitteiros mais ativos. No começo de maio, um comentário gerou a dispensa de um editor da revista National Geografic, demitido por criticar duramente uma reportagem de Veja. As duas publicações são da mesma editora, a Abril, que confirma a demissão, mas prefere não comentar o assunto.

O fato ocorreu cerca de um mês depois de um executivo - corintiano - ser demitido da Locaweb por escrever comentários contrários ao São Paulo Futebol Clube, durante um clássico que envolvia os dois clubes paulistas. O detalhe é que a empresa havia fechado patrocínio para estampar a marca nas mangas dos jogadores em dois jogos e mantém um camarote no estádio do Morumbi. O pedido de desculpas do profissional não foi suficiente para garantir o emprego.

"Estamos numa fase de transição de diálogos privados e públicos. O Twitter é um espaço público: você só escreve ali algo que diria em um palanque para milhões de pessoas", orienta Edney Souza, diretor da Polvora Comunicação, empresa especializada em mídias sociais.

Para o advogado Sólon Cunha, do escritório Machado Meyer Sendacz Ópice, especialista em direito trabalhista e em recursos humanos, as redes sociais oferecem uma "presunção de anonimato" que não é correta, mesmo em perfis falsos. "Hoje, a contraespionagem é forte e permite localizar quem fez o texto. Numa divulgação maciça, quando há exposição pública, é necessário ter exata noção da repercussão", avisa.
E quanto mais alto o cargo, maior a exposição e o "buzz" gerado pelos comentários, já que pode haver uma confusão entre a imagem pessoal e a da marca. "As empresas devem treinar seus executivos a lembrar que não são só indivíduos", ensina Max Petrucci. A rede social confunde a pessoa física com a jurídica para a qual o indivíduo trabalha, na opinião de Sólon Cunha. "Você ganha um ‘sobrenome' pessoa jurídica na sociedade", comenta.

Ética virtual
Mesmo sem legislação específica para o mundo digital, existem leis "do mundo real" que preveem penalidades, multas e até prisão para quem extrapolar os limites nas redes sociais e "pegar pesado" em comentários e posts. Para os especialistas, seguir um "manual" de postura digital ou um código de ética virtual pode evitar danos à imagem dos twitteiros e até problemas mais graves, como processos e demissões por justa causa.

A advogada Patrícia Peck, especialista em direito digital, destaca algumas posturas que devem ser evitadas nas redes sociais, como colocar conteúdo relativo à empresa em que se trabalha e não falar de clientes, fornecedores ou parceiros. Outra ação prudente é evitar comentar a rotina de trabalho que possa envolver algum sigilo profissional, além de não postar fotos mais íntimas nem ousadas na rede. "Devemos zelar pela nossa reputação digital", ensina.

E a liberdade de expressão? "O mesmo artigo 5º da Constituição Federal, que a garante, protege a imagem, a honra e a reputação das pessoas", lembra a advogada.
Quem procura emprego também deve ficar atento ao rastro digital deixado na rede.

Muitas empresas de RH e recrutamento analisam o perfil dos candidatos nas redes sociais e, dependendo das comunidades que frequenta ou comentários que faz, ele pode perder a vaga. O consultor de redes sociais da Direct Talk, Diego Monteiro, alivia a pressão sobre os funcionários e alerta que as empresas deveriam adotar políticas claras em relação às redes sociais e sua utilização, para evitar problemas e até demissões. "Antes de cobrar, precisa orientar. É necessário perceber que os colaboradores não sabem usar as redes sociais", conclui.

Saia justa
Não é só o mundo corporativo, das empresas e relações formais de trabalho, que pode ser assolado por comentários inadequados no Twitter ou em outras redes sociais. No meio político, artístico ou esportivo, volta e meia surgem comentários que geram saias justas para quem escreveu ou para o alvo do comentário.

Na semana passada, o presidente da Câmara Federal, Michel Temer, encerrou uma reunião "secreta" quando soube que o deputado Capitão Assumção (PSB-ES) estava twittando as discussões sobre uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que propõe a criação de um piso nacional para os policiais de todo o País. O comportamento do deputado gerou discussão entre os parlamentares presentes.

Para evitar contratempos, às vésperas da Copa do Mundo, atletas das seleções da Espanha e da Inglaterra não poderão postar no Twitter e no Facebook durante o Mundial, segundo a emissora inglesa BBC. De acordo com a Federação de Futebol da Inglaterra, os ingleses só poderão falar através do site oficial do governo.

Do lado espanhol, o treinador da seleção, Vicente del Bosque, responsável pela proibição, alegou não querer distrações por parte dos jogadores. No Brasil, Kaká disse que iria deletar a conta da esposa após ela reclamar do técnico do Real Madrid, Manuel Pellegrii, que havia substituído o meio-campista brasileiro. Como tudo na vida, para usar o Twitter uma dose extra de bom senso sempre vem a calhar...


Andrea Martins
Meio & Mensagem Online, 02/06/10


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