sábado, 15 de agosto de 2009

Investimento Social Privado em foco III

Quais os rumos da filantropia e do investimento social privado no Brasil e no mundo? Qual a papel dos investimentos sociais no desenvolvimento de um país, ou em menor escala, no desenvolvimento comunitário? São algumas das discussões trazidas por Jeffrey Bell, diretor da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), em entrevista para Ideia Socioambiental, a terceira da série Investimento Social Privado em Foco.

Na opinião do especialista já existe no Brasil uma cultura corporativa muito forte por responsabilidade social. Ele também reforça que podemos esperar o contínuo crescimento da filantropia e do investimento social privado tanto no Brasil quanto no mundo.

Confira essas e outras ideias a seguir:

Ideia Socioambiental: Como o desenvolvimento comunitário pode ser estratégico para uma empresa? E como o ISP pode impactar de maneira positiva a realidade das comunidades para as quais se volta?
Jeff Bell: Estrategicamente, atividades de desenvolvimento comunitário podem ser uma
maneira especialmente poderosa para estimular a visibilidade de uma empresa
em determinada comunidade. Nesse sentido, acredito que atividades que visam
o desenvolvimento comunitário são um dos veículos mais importantes e um dos
melhores caminhos para uma empresa estabelecer boas relações públicas e criar uma boa reputação - o ponto central, obviamente, é gerar novas receitas para a empresa. No entanto, penso também que as empresas querem ser boas corporações para os cidadãos e vizinhos das comunidades em que operam, de onde podem vir também muitos dos seus colaboradores.


Quanto à segunda parte da questão, acredito que comunidades que estão procurando estabelecer parcerias para trabalhar com o setor privado, que têm disponibilizado para essas novas fontes ou fundos de financiamento para a resolução de problemas importantes em suas comunidades. O mais importante aqui é a voluntariedade das comunidades em agir como parceiros, não apenas como receptores, a fim de auxiliar o direcionamento das discussões que determinarão exatamente onde os projetos e investimentos do setor privado devem estar.

I.S: Qual é o papel da filantropia e do investimento social privado no desenvolvimento
dos países?
J.B: A filantropia e o investimento social privado estão desempenhando atualmente
um papel crescentemente importante no desenvolvimento dos países. Uma análise completa realizada pela USAID's Global Development Alliance (GDA) mostrou o crescimento de 30% do capital privado nos anos 1960 para 80% em 2005. Mesmo que o financiamento público de desenvolvimento, a força motriz do mercado internacional, tenha diminuído em proporção, o que representa menos de 17% em 2005, o valor total da ajuda ao desenvolvimento aumentou.

I.S: A evolução do investimento social privado está relacionada ao nível de desenvolvimento de um país?
J.B: Em parte sim. Quando o potencial econômico de um país aumenta, as empresas vêem um número crescente de potenciais consumidores para seus produtos e serviços. Sendo assim, o investimento social privado faz sentido, estrategicamente, como forma de gerar uma boa reputação, nome e reconhecimento, ou qualquer outro tipo de propaganda e de publicidade que eles sentem que seria benéfico para eles no mercado. Acredito também que um crescente número de empresas está reconhecendo a existência de uma responsabilidade moral para investir em projetos sociais nas áreas em que atuam. Esse reconhecimento pode surgir de variadas formas: pode vir do presidente ou CEO, dos empregados da companhia ou resultar da pressão dos acionistas. A pressão para que as companhias sejam mais socialmente responsáveis para com as comunidades onde atuam está começando a crescer. Pode muito bem ser que ao fazê-lo, elas estejam ajudando seu ponto de partida, mas acredito que os cálculos de custo/ benefício em agir com responsabilidade está se tornando menos importante do que a pressão / desejo de um comportamento responsável e generoso.

I.S: Que desafios os BRICs enfrentarão para desenvolver o investimento social privado?
J.B: Quando falamos nos países BRIC, temos de reconhecer que cada um possui suas
características individuais, experimentando assim seus próprios desafios. O que pode ser um desafio para a Índia, por exemplo, pode não ser para o Brasil. E em se tratando de Brasil, existe uma cultura corporativa muito forte em responsabilidade social.

I.S: Em sua opinião, o que caracteriza o investimento social ou filantropia praticado por um país?
J.B: A grau de investimento social praticado por um país depende de inúmeros fatores, sendo um dos mais importantes a estrutura tributária que legisla o investimento social privado. Além disso, há uma série de outros fatores: Por exemplo, eu acho que tem que haver uma massa crítica de organizações operando e competindo em qualquer país. Se partirmos da suposição de que, estrategicamente, o investimento social é realmente um investimento em relações públicas, quando os consumidores têm pouca escolha entre produtos ou serviços em um país, não faz muito sentido para uma empresa olhar para o investimento social como uma forma de angariar boas relações públicas. Sem concorrência, as relações públicas tornam-se muito menos importantes e os investimentos sociais menos atraentes. Além disso, seguindo a lógica acima, acho que as atividades derivadas do investimento social em muitos casos são repetitivas. Uma vez que uma empresa decide aplicar um investimento social, a melhor coisa que os outros podem fazer é o mesmo. Então países com altos níveis de investimento social privado provavelmente manterá níveis elevados.

I.S: Quais as principais tendências para o Brasil e para o mundo nos setores de
filantropia e ISP?
J.B: Se os últimos 30 anos podem servir de indicação, podemos esperar pelo contínuo
crescimento da filantropia e do ISP tanto no Brasil quanto no mundo. Organizações doadoras reconhecem o crescimento dos fundos privados e estão cada vez mais a procura de alavancar suas verbas. Investidores privados ou filantrópicos não apenas reconhecem os benéficios de associar seus nomes a grandes doadores, mas enxergam no desenvolvimento das organizações um aprimoramento na maneira de investir em projetos. Assim, acho que veremos cada vez mais os doadores procurarem parcerias com o setor privado e o setor privado procurando aumentar a sua visibilidade por meio de parcerias com os doadores. Como resultado, acho que podemos esperar para ver a importância do investimento social privado filantrópico aumentar em todo o mundo.

Elementos que orientam a decisão de investimento em projetos socioambientais pela USAID
. Propriedade - a USAID baseia-se na liderança, participação e comprometimento de um país e sua população;
. Capacitação - buscamos fortalecer as instituições locais, a transferência de competências técnicas, e a promoção de políticas adequadas;
. Sustentabilidade - produzimos programas para garantir que seus impactos sejam duradouros;
. Seletividade - alocamos nossos recursos baseados na necessidade, comprometimento local, e interesses em política externa;
. Avaliação - conduzimos cuidadosamente nossas pesquisas, adaptamos as melhores práticas, e desenvolvemos nossos programas em função das condições locais;
. Resultados - direcionamos nossos recursos para alcançar objetivos bem definidos, mensuráveis e estratégicos;
. Parcerias - pretendemos colaborar de perto com governos, comunidades, outros doadores, ONG's, setor privado, organizações internacionais e universidades;
. Flexibilidade - ajustamos nossos programas de acordo com as mudanças que ocorrem, a fim de gerar novas oportunidades e maximizar a eficiência;
. Responsabilidade - sistemas para garantir responsabilidade e transparência, incluindo controles rígidos contra corrupção são utilizados em nosso programa.



Ana Carolina Addario
Ideia Socioambiental on-line, 10/08/09


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