quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Negócios em vista na perspectiva de cidades sustentáveis

Soluções que combinam competitividade econômica, respeito ao meio ambiente e qualidade de vida nas regiões urbanas representam novos nichos de mercado

Como um dos principais motores da inovação, o setor privado desempenha um papel fundamental no desenvolvimento sustentável das cidades. E as oportunidades de negócios nessa área são inúmeras. Incluem desde o desenvolvimento de tecnologias mais limpas que promovam maior uso de energias renováveis, construções e transportes mais eficientes em termos de energia até a captura de carbono e a reciclagem de água e de resíduos.

A partir do estudo “Desafio das Megacidades”, encomendado pela Siemens à GlobeScan e MRC McLean Hazel a empresa de origem alemã identificou tendências globais e reorientou sua estratégia de negócio. Segundo Péricles de Oliveira, diretor de gestão de qualidade e gestão ambiental da Siemens no Brasil, o estudo serviu como um mapa para o futuro. Oliveira explica que com o aumento do número de pessoas vivendo nas cidades e a ampliação da expectativa média de vida haverá um aumento na demanda por serviços de saúde, proteção ambiental, segurança, proteção e mobilidade, além de desafios sociais relacionados à educação, diversidade e escassez de recursos naturais.

“Hoje, mudamos o foco dos nossos negócios da área de telecomunicações para prover soluções eficientes, que garantam sustentabilidade nas áreas de energia e meio-ambiente, indústria e infra-estrutura e saúde”, afirma.

Anualmente, a empresa investe cerca de € 3 bilhões em pesquisa e desenvolvimento de produtos e soluções, levando em conta sustentabilidade e eficiência energética. Em 2007, a receita originada da venda de produtos sustentáveis foi de cerca de €17 bilhões (23% da receita total). O objetivo da Siemens é chegar a €25 bilhões em 2011 e ajudar a abater 275 milhões de toneladas de CO2.

Hoje, a Siemens possui um portfólio variado de produtos sustentáveis que incluem sistemas ferroviários que proporcionam mobilidade e compatibilidade ambiental, alternativas ao carvão e petróleo como geração de energia eólica, por biomassa e células de combustível, motores elétricos para a indústria até 45% mais eficiente em termos de energia e sensores de alta tecnologia para monitorar a qualidade do ar: “Baseada na inovação, em produtos orientados para o futuro, na eficiência de processos e na gestão responsável, nossa estratégia de sustentabilidade contribui para aumentar o valor da companhia no longo prazo”, ressalta Oliveira.
Cidades com baixa emissão de carbono
A Phillips é uma das grandes empresas globais de olho nas oportunidades decorrentes do desenvolvimento das cidades, especialmente as relacionadas à iluminação, um de seus mais importantes mercados. No entanto, o grupo holandês tem liderado o movimento em busca de soluções para a eficiência energética a começar pela mudança de rumo no negócio, tradicionalmente focado em lâmpadas incandescentes para fluorescentes.

Segundo Terry Doyle, vice-presidente sênior da Philips Research, junto ao setor de transportes e indústria, as construções são as maiores responsáveis pelas emissões de carbono em escala global. Tanto nos prédios comerciais quanto residenciais, a iluminação representa 40% das emissões.

“Introduzimos no mercado uma série de inovações na área de iluminação que representam uma forma eficiente de reduzir emissões de CO2. No mundo, 90% de toda a eletricidade é usada para iluminação. A partir de soluções como lâmpadas fluorescentes compactas e LEDs para o uso eficiente da iluminação, a estimativa é que 40% desse consumo seja poupado, o que significa uma economia de mais de 100 milhões de euros por ano no mundo todo”, ressalta Doyle.

Aprimorar sistemas de controle de iluminação e temperatura consiste em outro foco de atuação da Phillips. Para desenvolver soluções nessa área, a companhia estabeleceu uma parceria com o Lawrence Berkeley National Laboratory, um dos mais importantes centros de pesquisas do Estados Unidos na área de energia.

Além disso, a companhia pretende ampliar o uso da tecnologia de LEDs (Light Emiting Diodes - Diodos Emissores de Luz). A iluminação por LED pode proporcionar uma economia de energia de 90% em comparação com as lâmpadas tradicionais incandescentes. Londres já fez a troca para iluminação pública com LEDs e Budapeste está instalando LEDs nos semáforos.

As lâmpadas de rua gasosas duram em média 12 mil horas. Além de caro, substituí-las também pode prejudicar o trânsito. As lâmpadas de rua feitas com LEDs custam o dobro dos modelos atuais de design semelhante, diferença compensada pela vida útil mais longa. Com durabilidade da ordem de 50 mil horas de uso, as lâmpadas com LEDs só precisariam ser substituídas a cada 12 anos, se ficarem acesas em média por 11 a 12 horas ao dia.

“Se quisermos alcançar uma economia de baixo carbono, teremos que desenvolver energias renováveis e, ao mesmo tempo, reduzir substancialmente a energia que vem sendo consumida ao longo do ciclo de vida dos produtos e nas atividades das pessoas. Para tanto buscamos soluções mais eficientes energeticamente e também tecnologias para controlar sistemas de iluminação e temperatura”, afirma Doyle.

Necessidade de reinventar-se

A velocidade com que se agravam os problemas urbanos sugere que as empresas revisem suas estratégias urgentemente sob a pena de terem seus próprios negócios comprometidos no futuro.

Segundo Maurício Waldman, geógrafo e sociólogo da Universidade de São Paulo (USP), a indústria automobilística é um dos setores que deve rever seu modelo de negócio, buscando inclusive outras áreas de atuação. “A se manter o ritmo de crescimento da frota, em 2050, haverá seis bilhões de automóveis no planeta. É como se hoje cada habitante tivesse um carro. Essa situação é insustentável. Acaba acontecendo um contra-senso: a pessoa tem o automóvel, um símbolo da liberdade de locomoção, mas não consegue andar”, afirma.

A pesquisa e desenvolvimento de veículos híbridos, com motores que além da gasolina também funcionam a álcool e baterias elétricas, é uma das linhas de pesquisa e desenvolvimento preferenciais do setor automotivo. No entanto, segundo especialistas, é necessário fazer mais.

Além da poluição, há o problema estrutural das cidades que não comportam uma frota em crescimento constante. Atenta a essas tendências, a Ford mantém em Dearborn, Estados Unidos, um grupo de especialistas dedicados a identificar novas frentes de negócios a partir das megatendências que transformarão a sociedade nas próximas décadas.

Denominado “mobilidade nas megacidades”, o novo modelo de negócio da Ford volta-se para o desenvolvimento de produtos e tecnologias para integrar o transporte urbano. “Está claro que a resposta para os problemas relacionados à mobilidade não é vender 1,8 carro e caminhão para cada pessoa no mundo. Junto com nossos públicos de interesse, devemos desenvolver novas soluções de transporte. Precisamos integrar trens, ônibus e táxis com o compartilhamento de carros e bicicletas de modo seguro, fácil de usar e acessar. A Ford deseja estar na vanguarda desses novos meios de transporte”, afirma David Berdish, gerente de desenvolvimento de negócios sustentáveis da Ford Motor Company.

O estabelecimento de parcerias é um dos elementos-chave da estratégia de mobilidade da Ford. Para a empresa, o desenvolvimento de soluções práticas nessa área requer a combinação de esforços de diferentes setores, tais como os de transporte, energia, telecomunicações, logística, governos e consumidores.

Desde 2007, a Ford e a Universidade de Michigan vêm trabalhando juntos no Sustainable Mobility and Accessibility Research and Transformation (SMART) com o intuito de desenvolver novos modelos de negócio em mobilidade. Cidade do Cabo, na África do Sul, foi a cidade escolhida para receber o projeto-piloto dessa iniciativa.

Entre os participantes do projeto, destacam-se líderes do setor privado e do governo, especialistas em transporte, assim como empreendedores que trabalham com táxis, micro-ônibus e bicicletas.

A Ford protagoniza outras iniciativas para discussões na área de mobilidade, como o projeto EMBARQ do World Resources Institute e de um grupo de discussão, organizado pelo Conselho Mundial de Empresas e Desenvolvimento Sustentável (WBCSD), que reúne corporações do setor automotivo.


Juliana Lopes, Revista Idéia Socioambiental
Envolverde, 07/01/09
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2 comentários:

Anônimo disse...

Cláudia

Ninguém comenta seu blog, acho porque o lêem através de reader, como eu.

Mas ele é ótimo, parabéns!

Você é de São Paulo?

bjs

Raquel
raquelmarques@hotmail.com

Cláudia Amaral disse...

Oi Raquel!
Muito obrigada! É sempre bom saber que o meu trabalho é apreciado.
Acho que as pessoas não comentam aqui, não só porque leem (ai, a nova ortografia!) pelo reader, mas também porque até agora eu praticamente só reproduzi notícias e textos de outras pessoas. Estou me organizando para começar a publicar artigos meus e para abrir uma área para perguntas dos leitores. Aí talvez as pessoas passem a comentar, né?
Eu sou mineira, de Belo Horizonte. Saí de lá em 91 e desde então já morei em outras 7 cidades diferentes! Atualmente divido meu tempo entre Curitiba e BH (passando muitas vezes por São Paulo!), onde espero voltar a residir em breve.
Bjo para vc também,
Cláudia



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