segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Nações Unidas: Também é preciso ajudar os pobres

A palavra mais usada estes dias na comunidade internacional é “salvataje”, em referência aos multimilionários pacotes de resgate para os vacilantes bancos de investimento e companhias de seguro, em sua maioria dos Estados Unidos e da Europa ocidental. Agora a Organização das Nações Unidas, temendo que seus programas para a erradicação da fome e da pobreza possam também ser afetados pela propagada crise econômica, propõe seu próprio pacote de salvação: US$ 300 bilhões para as nações mais pobres.

O pedido de fundos foi feito aos líderes do Grupo dos Oito países mais poderosos (Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Itália, Japão, Rússia) que participaram no sábado em Washington de uma cúpula econômica patrocinada pelo presidente norte-americano, George W. Bush. Trata-se da cúpula econômica do Grupo dos 20, que também inclui líderes de nações em desenvolvimento como Brasil, Arábia Saudita, Argentina, China, Índia, Indonésia, África do Sul e Turquia, entre outros.

Segundo a Campanha do Milênio da ONU, o pacote proposto será de ajuda adicional e alívio da dívida para compensar as perdas no produto interno bruto das nações mais pobres como conseqüência da crise financeira, “em cuja origem não tiveram responsabilidade”. Os “bilhões de dólares encontrados de um dia para outro destinados a resgatar os banqueiros ocidentais nos mostram que o verdadeiro problema que enfrentamos nesta crise não é a disponibilidade de dinheiro, mas a vontade política”, disse o diretor da Campanha do Milênio, Salil Shetty. O principal mandato da Campanha é lutar contra a fome e a pobreza em todo o mundo.

Consultado se realmente interessa aos países ricos ajudar as nações pobres, Shetty disse à IPS: “Sabem que qualquer revés nos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio da ONU, que representam as necessidades mais básicas para os povos mais pobres, seria catastrófico não só para esses países, mas para a paz e a prosperidade mundiais. Por isso, tanto por interesse próprio quanto por senso de justiça e mora, o caso do pacote de salvatage é claro”, disse Shetty. O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, disse na quinta-feira que a atual crise “também mostra o quanto interdependentes nos convertemos todos, e como podemos ser tão prejudicados quanto ajudados pelas políticas de outros”.

Mas é essencial que a reunião do G-20 indique de forma inequívoca uma solução comum para a crise, para agirmos juntos e com urgência e para mostrar solidariedade com os mais necessitados, acrescentou Ban. “Uma importante forma de fazer isto seria alcançar os compromissos existentes sobre ajuda, para que se mantenha o progresso rumo aos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio”, acrescentou. Para os 1,4 bilhão de pessoas que sobrevivem com menos de US$ 1,25 ao dia, ter menos poder aquisitivo é literalmente uma questão de vida ou morte, pois faz a diferença entre ter ou não ter o que dar de comer aos seus filhos.

Os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio incluem reduzir pela metade a extrema pobreza e a fome; conseguir educação primária universal; promover a igualdade de gênero; reduzir em dois terços a mortalidade infantil e em três quartos a materna; combater a propagação do HIV/aids, da malária e de outras doenças; garantir a sustentabilidade ambiental e construir uma aliança Norte-sul para o desenvolvimento. Os líderes mundiais se comprometeram em setembro de 2000 a alcançar estas metas até 2015, tendo por referência os dados de 1990. Mas sua colocação em prática, inicialmente afetada por uma queda na assistência ao desenvolvimento, agora se vê cada vez mais prejudicada pela crise econômica mundial.

Em uma carta aos líderes do G-8, na quinta-feira, o secretário-geral da ONU disse que em uma sessão informal da Assembléia Geral no começo da semana passada ouviu algumas das preocupações dos Estados-membros e dos problemas que enfrentam devido à crise. Além disso, Ban Ki-moon destacou que algumas dessas nações “com poderosas economias desenvolvidas’, bem como nações com emergentes motores de crescimento, participarão da cúpula em Washington. “Mas, mais de 170 países não estarão à mesa, e também enfrentam graves dificuldades. Suas vozes também contam, e procurarei levá-las ao encontro”.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) está atualmente em processo de resgate de pelo menos três países: Hungria, Islândia e Ucrânia. A economia islandesa, considerada em um tempo uma nação industrial, está à beira de um colapso total. No informe 2007-2008 do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, a Islândia ficou em primeiro lugar entre 177 países no Índice de Desenvolvimento Humano, acima de Noruega, Austrália, Canadá e Irlanda. A Islândia chegou ao topo da lista graças aos seus altos índices de PIB por habitante, expectativa de vida e adultos alfabetizados.

Segundo a Campanha do Milênio, o pacote proposto de US$ 300 bilhões pode ser uma combinação de ajuda adicional do G-8, alívio de dívida e, se for preciso, vendas de ouro por parte do FMI. “Os governos beneficiados devem, por sua vez, assegurar que esses fundos sejam destinados a significativos gastos em educação, saúde e programas de proteção social”, afirma a Campanha. Esses programas deverão estar particularmente destinados aos mais pobres e excluídos da sociedade, em especial mulheres e crianças.


Thalif Deen, da IPS
Envolverde, 17/11/08
© Copyleft - É livre a reprodução exclusivamente para fins não comerciais, desde que o autor e a fonte sejam citados e esta nota seja incluída.


Nenhum comentário:



Acesse esta Agenda

Clicando no botão ao lado você pode se inscrever nesta Agenda e receber as novidades em seu email:
BlogBlogs.Com.Br