quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Seminário discute os desafios para o empresariado na AL

Quais são os desafios do movimento de responsabilidade social de empresas na América Latina? É possível articular um trabalho em conjunto entre os países? Como lidar com as especificidades de cada região ao criar indicadores de avaliação comum a todo o bloco?

As questões acima foram os eixos fundamentais do seminário “O Novo Empresariado Latino-Americano: Percepções e Práticas de Responsabilidade Social Empresarial”, realizado no último dia 28 de agosto, em São Paulo. Promovido pelo Governo do Chile, o evento analisou os benefícios, contrapartidas, custos e diferentes formas de cooperação e troca de experiências.

Para a diretora do Comitê de Responsabilidade Social (Cores) da Fiesp, Eliane Belfort, a percepção sobre importância de formas mais sustentáveis de produção é uma realidade. No entanto, o empresariado ainda está em um longo caminho de amadurecimento de suas práticas. “Percebemos que não basta dar assistência aos excluídos, mas acabar com a exclusão”, resumiu, citando uma conhecida frase do presidente da Fiesp, Paulo Skaff.

A constatação de Eliane se refere ao movimento brasileiro, mas poderia ser estendida a todos os países da América Latina. Embora eles possam estar em estágios diferenciados de apropriação do conceito, a diretora do Cores acredita que os desafios sejam similares para todo o bloco. “Cada um desses países deve conhecer suas especificidades, criatividade, mas o trabalho articulado é possível”.

Para Todos
Uma das novas experiências sobre o assunto foi divulgada no evento pela coordenadora de políticas públicas do Instituto Ethos, Ana Letícia Silva. Trata-se do Programa Latino-americano de RSE, promovido pelo Ethos, Fundação Avina, Agência Internacional de Cooperação (Icco) e o Fórum Empresa.

A princípio, o trabalho será realizado em seis países: Bolívia, Colômbia, Equador, Guatemala, Paraguai e Peru. Neles serão implementados, por meio de parcerias com organizações em prol do movimento de RSE, alguns dos principais projetos do Instituto Ethos no Brasil: os Indicadores Ethos, Prêmio Ethos de Jornalismo e Rede Ethos de Jornalistas.

A proposta é incentivar a avaliação, prêmios e redes latino-americanas de responsabilidade social em três grandes áreas: indicadores, meios de comunicação e combate a pobreza. “O objetivo maior é somar forças com foco na troca de experiências. Um alinhamento no trabalho desses diferentes países”, afirmou Ana Letícia.

Outra experiência também mostrou que é possível trabalhar de forma conjunta em vários países. Ao trabalhar por uma causa, a habitação, o projeto Um Teto para o Meu País (Utpmp), consegui alcançar 12 deles (Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, El Salvador, Guatemala, México, Paraguai, Peru e Uruguai) e ser uma das mais bem-sucedidas ações de voluntariado com estudantes universitários.

Por meio de parcerias com o primeiro, segundo e terceiro setores, a organização social convida jovens universitários a trabalhar em populações de baixa renda, na construção de casas modulares e em ações sociais de educação, saúde e cultura.

“Trata-se de um trabalho comunitário, em que jovens de uma elite intelectual conhecem outras realidades e passam a ter novas vivências. Um aprendizado importante para quem, no futuro, estará à frente de empresas e da administração pública”, argumentou o diretor social da Ong Um Teto Para Meu País, Claudio Castro.

Nos 10 anos de atividades, a organização já envolveu 177 mil jovens em trabalhos voluntários, construindo mais de 37 mil casas. “Os moradores pagam apenas 10% de todo o custo, porque eles também devem se sentir participantes da construção. O resto é dividido entre empresas e o governo local”, explicou Castro.

Um ponto curioso nesse trabalho, acompanhado pelo jovem diretor, se refere à participação do empresariado. Questionado sobre qual era a visão da empresa que patrocinava a iniciativa - se acreditava ser filantropia ou investimento social estratégico -, Castro foi assertivo ao dizer que, nos últimos anos, esses conceitos têm mudado.

“É claro que algumas empresas fazem uma doação e depois vão lá com jornalistas. Mas, cresce cada vez mais o número de empresários que não querem apenas dar dinheiro. Eles envolvem seus funcionários. Fazem com que a comunicação de empresa trabalhe para a causa, não simplesmente para a marca”, lembrou.

Universidades
O trabalho com jovens universitários e, conseqüentemente no currículo de seus cursos, é um dos pontos mais defendidos pela Professora da Universidad de Valparaíso (Chile), Liliana Tapia. No comando das áreas de Ética Profissional e Responsabilidade Social Empresarial, ela acredita que esse é um dos passos mais importantes para a difusão desses conceitos de pela população.

Segundo ela, o trabalho pode ser dividido em dois grandes eixos: a responsabilidade social universitária e da empresa. No primeiro, estimula-se que os alunos de todos os cursos façam algum trabalho social voluntário (como o caso do Um Teto para Meu País), com reconhecimento acadêmico de seus esforços.

O segundo caso, coloca-se a temática de forma transversal no currículo das matérias, principalmente engenharia, economia, administração, direito e comunicação. “O Chile tem um forte compromisso com a formação de seus estudantes nessa área. Conseguimos montar uma rede de universidades, que vão de norte ao sul do país para articular experiências”, contou.

O seminário “O Novo Empresariado Latino-Americano: Percepções e Práticas de Responsabilidade Social Empresarial” integrou a Semana do Chile em São Paulo. O evento, realizado em diversos pontos da capital paulista, foi idealizado pela Embaixada do Chile e pelo ProChile, escritório de fomento de exportações de produtos e serviços da Direção Geral de Relações Econômicas Internacionais do Ministério das Relações Exteriores do Chile com o apoio do Consulado Geral do Chile em São Paulo.


Rodrigo Zavala
redeGIFE Online, 01/09/08


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