segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Programa fortalece avaliação no campo social

Considerada um dos mais complexos desafios para organizações, sejam elas públicas, privadas ou de movimentos da sociedade civil, a avaliação é uma espécie de “calcanhar de Aquiles” do campo social. No debate sobre o assunto, não faltam metodologias desacreditadas, projetos inovadores e polêmica na utilização dos mais distintos modelos e padrões.

No entanto, embora a discussão sobre o tema seja considerada imprescindível, não há um campo fortalecido no Brasil para isso. Com o objetivo de mudar esse quadro, o Instituto Fonte lança um programa que irá, nos próximos anos, articular uma série de ações voltadas para empresas, ONGs e universidades.

“O instituto atua há 10 anos no desenvolvimento do campo da avaliação no País. Nesse tempo, percebemos que o debate é muito incipiente e não existe uma comunidade de avaliadores”, explica o consultor associado do Instituto Fonte, Daniel Brandão.

Ele afirma também que a produção teórica é muito reduzida, o que inviabiliza a difusão da cena crítica sobre avaliação. “Não entendemos esse campo. Quem faz? Como faz?”, argumenta.

O início dos trabalhos do Instituto Fonte está centrado em dois grandes projetos, com o apoio da Fundação Itaú Social. O primeiro será uma pesquisa sobre a visão de 200 empresas sobre o assunto. Ao mesmo tempo, pretendem identificar e analisar a produção acadêmica brasileira. “Esses dois eixos permitirão conhecer o estado da arte da avaliação no campo social”, garante Brandão.

Com parceria do Instituto de Pesquisas e Projetos Sociais e Tecnológicos (IPSO), o programa pretende organizar, disponibilizar e caracterizar o que se estuda nas universidades, com a promoção de debates focais sobre o material. “Pretendemos tornar mais acessível um conteúdo mais qualificado produzido na academia”, define.

Paralelamente a esse trabalho, a pesquisa tem o objetivo de compreender como o setor privado percebe a avaliação de seu investimento na área social. Conduzido pela TNS-InterScience, empresa de pesquisa de mercado, e o apoio do GIFE, o levantamento esmiuçará o processo de mensuração, desde de quando é implementado, até o quanto se investe e como ele é feito.

A apresentação dos resultados da pesquisa será realizada no dia 02 de outubro, das 8:30 às 13hs, na sede do Instituto Itaú Cultural (Av. Paulista, 149 - próximo ao Metrô Brigadeiro). Para participar se inscreva pelo telefone 0800 – 7744 055. O evento é gratuito.

Dados
Levantamentos similares mostram números discordantes sobre a avaliação por parte da iniciativa privada. Segundo censo realizado pelo GIFE com seus associados, cujo investimento somado em iniciativas sociais chegou a R$ 1,15 bilhão em 2007, cerca de 72% das fundações e institutos e 74% das empresas fazem o monitoramento de todos os projetos. Dessas, 64% das fundações e institutos e 58% das empresas fazem avaliação de resultado de todos os projetos.

“Esse dado é muito positivo porque a cultura de avaliação de resultados ainda é muito recente no Brasil. Também porque realizar esse diagnóstico ainda é muito caro, principalmente para pequenos projetos. Uma avaliação chega a ser 15% dos custos totais das iniciativas”, lembra o secretário-geral do GIFE, Fernando Rossetti.

No entanto, segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), as empresas não tem sido tão eficientes quanto os associados ao GIFE. Para saber, o setor privado brasileiro investe cerca de R$ 5.3 bilhões por ano no campo social. O GIFE representa 20% desse montante, enquanto o resto do investimento está diluído em mais de 500 mil empresas.

Questionadas se possuem avaliações documentadas das ações sociais desenvolvidas, 79% (das 500 mil) disseram “não”. As conclusões do instituto são enfáticas: embora tenham entusiasmo para fazê-la, os responsáveis não vêem essa mensuração como instrumento de transparência, e confundem avaliação com número de atendidos.

A preocupação com o tema é Global. Em artigo escrito para o GIFE (leia aqui, Fred Carden, Diretor da International Development Research Centre and Research Fellow in Sustainability Science no Harvard’s Center for International Development, afirmou que o status quo da avaliação de desenvolvimento não basta.

“Enquanto a avaliação é relativamente forte na América do Norte e na Europa, em outras partes do mundo, é bem fraca. Se quisermos que a avaliação floresça no Hemisfério Sul (África, Ásia, América Latina), a pesquisa sobre o tema não pode continuar a ser reserva das instituições baseadas no Hemisfério Norte e de seus valores”, acredita.


Rodrigo Zavala
redeGIFE Online, 22/09/08


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