quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Mudança climática: A preocupação dos novos filantropos ambientais

Os filantrocapitalistas e as fundações mais tradicionais abordam atualmente problemas mundiais como a mudança climática com inédito fervor. Mas, há dúvidas sobre a eficácia com que usam seu dinheiro. Uma das principais críticas aos filantropos ambientais mais apegados às tradições era que fossem evitados desafios sistêmicos como a sustentabilidade, pois preferiam causas como a conservação. Mas nos últimos tempos a tendência se reverteu, em boa parte graças ao surgimento de novos filantropos com muito dinheiro preocupados com o aquecimento do planeta.

“Muitos membros da nova geração de filantropos estão preocupados com a mudança climática”, disse à IPS o jornalista Matthew Bishop, da revista britânica The Economist e autor – junto com Michael Gree – do livro “Philanthrocapitalism: how the rich can save the world” (Filantrocapitalismo: como os ricos podem salvar o mundo), que será publicado em breve. “As fundações atendem, por um lado, as preocupações mais tradicionais e, depois, a mudança climática, uma questão que ganhou impulso nos últimos três a cinco anos entre os multimilionários” procedentes do mundo da tecnologia, afirmou Bishop.

Os doadores veteranos e as fundações tradicionais também estão cada vez mais comprometidos com a luta contra a mudança climática, mas os novos filantropos buscam maneiras inovadoras de abordar o problema. Os englobados pelo neologismo “filantrocapitalismo” fundem a caridade com um enfoque baseado no mercado para solucionar problemas sociais. Esta geração de filantropos aborda os problemas ambientais investindo em pesquisa e no desenvolvimento de tecnologias “verdes”, redesenhando edifícios para reduzir o consumo de energia e a contaminação, e contribuindo com grupos de ativistas que compartilham a aspiração de conseguir mudanças sociais sem afastar-se do mercado.

Nesse sentido, o Google.org, a fundação do popular site de buscas da Internet, promove o desenvolvimento de um automóvel que funcione com um combustível composto por 85% de etanol e o restante por gasolina. Filantropos preocupados com a sustentabilidade e o aquecimento global pressionam os governos para que se somem a tratados internacionais que regulamentam as emissões de dióxido de carbono. Ao mesmo tempo, informam o setor privado sobre como tirar proveito desses acordos. O dinheiro destinado a causas ambientais não se limita às pesquisas e ao desenvolvimento tecnológico ou a pressionar governos.

Ainda persiste o enfoque mais tradicional: dar dinheiro para organizações ambientalistas como o Conselho de Defesa dos Recursos Naturais ou Greenpeace através de uma fundação ou associação que destine as subvenções. A revista Grist informou em 2007 que essas doações chegam até a US$ 2 bilhões ao ano. Mas, qual a efetividade, em última instância, dos esforços dos filantropos para produzir mudanças sociais e ambientais em grande escala? Segundo Daniel Faber, professor da Universidade Nordeste em Boston, o dinheiro proporcionado pelos filantropos para proteger o meio ambiente ainda não é usado da melhor maneira para se conseguir esse objetivo.

Faber considera que essas contribuições devem servir para construir um amplo movimento social. “Conseguir um ambientalismo transformador exigirá uma grande base civil. Se tal mobilização não ocorrer, os financistas buscarão soluções mais fáceis. Os enfoques políticos dentro do status quo não prevêem que o ambientalismo mobilize o público de um modo participativo”, disse Faber, que pesquisa e escreve sobre a relação entre as fundações filantrópicas e o movimento pela justiça ambiental, é critico do que chama “enfoque empresarial” para as causas ambientais.

Esse enfoque se concretiza no “filantropocapitalismo” que, segundo ele, continua ignorando os movimentos ambientalistas da sociedade civil. “O problema” dos esforços para desenvolver novas tecnologias amigáveis com o meio ambiente “é a intenção que os investimentos dêem lucro a curto prazo”, explicou. “Se alguém está comprometido com a construção de um movimento de longo prazo, leva um tempo – às vezes cinco, seis, sete anos – muito difícil de ser previsto”, acrescentou.

Matthew Bishop é mais otimista sobre as ações dos filantropos em matéria de sustentabilidade, mas concorda com Faber em suas limitações para incidir na tomada de decisões políticas. “Fazer os governos chegarem a um acordo será muito difícil, devido aos interesses maciços em preservar o status quo. Os políticos estão orientados ao curto prazo. Seguir a rota do governo é muito difícil. Exigirá a construção de informação e pressão públicas”, disse à IPS. A Internet é uma das vias usadas por doadores e grupos de pressão contra governos e empresas para que tomem decisões ambientalmente responsáveis.

Os receptores de fundos filantrópicos têm capacidade para investir nas últimas tecnologias em rede para promover sua causa. O ativismo “não vai a parte alguma sem uma plataforma de comunicação viável”, disse Ethan Orginel, fundador da consultoria Aequus Green Communications, que trabalha com organizações ambientalistas e edita o site Greenbrooklyn.com. segundo Orginel, nos últimos cinco anos houve uma confluência de interesses dentro do movimento ambientalista e deste com os dos filantropos. Ao mesmo tempo, as novas tecnologias deram às organizações capacidade para implementar campanhas virais na Internet para criar consciência. A sustentabilidade e a mudança climática são as pedras angulares desta nova agenda.

Entre essas campanhas, Orginel aponta a Aliança Apolo, dirigida a destinar financiamento do governo norte-americano para um projeto que acabe com a dependência do petróleo e incentive fontes de energia limpas. As ações dessa entidade, que se refere ao Projeto Apolo de exploração espacial dos anos 60 e 70, teve um impacto concreto sobre o público, segundo o consultor. “Nos dois lados do mostrador se entende que é preciso acabar com o petróleo e embarcarmos em uma nova missão Apolo. Fazer com que os norte-americanos falem sobre independência energética tem sido um êxito muito grande”, afirmou.

Mas, Faber disse que o financiamento frequentemente depende de critérios políticos. Citou o exemplo da Fundação Jessé Smith Noyse, que tem dificuldades para conseguir fundos a fim de integrar-se plenamente à revolução das comunicações. Esta fundação é um exemplo de organização que favorece as repostas civis e comunitárias para os problemas de justiça ambiental que organizações de maior porte costumam evitar. Por exemplo, em seu esforço para reduzir a contaminação e o consumo de energia nas atividades do gigante da informática Intel, o grupo incentivou organizações comunitárias a participarem de reuniões de acionistas, chegando a um acordo com a empresa, disse Faber. A gigantesca Fundação Ford optou por não apoiar esse esforço, em um exemplo de como “o mundo da filantropia está perdendo o trem”, ressaltou Faber.


Sam Cassanos, da IPS
Envolverde, 17/09/08
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