terça-feira, 16 de setembro de 2008

Ganho financeiro supera renda do trabalho

Participação de juros, aluguéis e lucros na renda do Brasil cresceu 34,6%, enquanto fatia de remuneração de empregados caiu 19,8%

Juros, aluguéis e lucros foram os itens da renda brasileira que mais cresceram desde a última década, superando o rendimento dos trabalhadores. Os ganhos financeiros representavam, em 1990, 38,4% na renda nacional — um dos componentes do Produto Interno Bruto (PIB). Em 2003, o peso havia subido para 51,7%. A remuneração das pessoas ocupadas apresentou tendência inversa e passou a ser a parte menor do bolo: caiu de 53,5% para 42,9%.

Os dados constam do relatório Emprego, Desenvolvimento Humano e Trabalho Decente – A experiência brasileira recente, lançado em 8 de setembro por três agências da ONU: CEPAL (Comissão Econômica para América Latina e Caribe), OIT (Organização Internacional do Trabalho) e PNUD.

O relatório mostra que a participação da remuneração dos trabalhadores no total de ganhos do Brasil caiu 19,8% entre 1990 e 2003. Nos últimos três anos abordados no estudo, acumulou três quedas. Na direção contrária, os ganhos com juros, aluguéis e lucros (chamados de “excedente operacional bruto”) têm tido forte crescimento — o peso aumentou 34,6% no período e cresceu continuamente nos últimos quatro anos analisados.

Os dois fatores fazem parte da distribuição funcional da renda, que é composta ainda por um terceiro item — o ganho dos autônomos, cuja parcela no bolo total também declinou: de 8,1% da renda para 5,4%. Os dados são das Contas Nacionais, calculadas pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Esse cenário indica, conforme o relatório, que os ganhos com o crescimento do PIB e os benefícios que as empresas brasileiras tiveram com melhoria de tecnologias podem não ter sido repassados, na mesma proporção, aos trabalhadores. O estudo sugere que “a melhoria na distribuição funcional depende de políticas distributivas de renda e, talvez ainda mais essencialmente, das condições em que os ganhos de produtividade são transmitidos aos trabalhadores. O comportamento das variáveis relevantes para essa transmissão foi pouco favorável aos trabalhadores no período aqui estudado”.

Os dados só foram analisados até 2003 devido a mudanças de metodologia no cálculo do PIB, o que influencia diretamente os números. “De qualquer modo, os dados divulgados pelo IBGE com a nova metodologia mostram que, nos anos mais recentes, a distribuição funcional passou a manter relativa estabilidade na repartição entre rendimentos do trabalho e excedente operacional bruto”, assinala o estudo.

Desigualdade de renda no trabalho
Apesar de a fatia da renda nacional relacionada com os ganhos dos trabalhadores ter diminuído, outros indicadores no estudo mostram que, embora muito elevada, a concentração de renda do trabalho caiu nos últimos anos. Essa concentração é medida pelo índice Gini para o rendimento mensal: quanto mais perto de zero, menor a concentração de renda. De 1992 a 2006, o índice caiu de 0,571 para 0,541, uma melhora de 5,2%.

“Contribuíram para essa melhoria na década atual o comportamento favorável do mercado de trabalho e a elevação do poder de compra do salário mínimo. (...) a razão óbvia é que o rendimento do trabalho é decisivo para a renda das famílias”, destaca o relatório.

Apesar disso, o rendimento médio do trabalhador só tem aumentado recentemente. O relatório mostra que ele chegou a R$ 999 em 1996 (ponto mais alto desde 1992), caiu para R$ 807 em 1994, para se recuperar, gradualmente, e chegar a R$ 904 em 2006.


Tiago Mali
da PrimaPagina
Boletim PNUD Brasil, 15/09/08


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