segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Campanha está 83% mais rica que em 2004

Candidatos a prefeito nas capitais, em menor número que há quatro anos, recebem juntos R$ 17,9 mi no primeiro mês
Tesoureiros de partidos apontam, como explicação para o aumento da receita, a maior fiscalização sobre as contas após o mensalão


Os tesoureiros reclamam de portas fechadas e telefonemas não respondidos por potenciais doadores, mas os números mostram que a campanha de 2008, pelo menos nas 26 capitais estaduais, começou muito mais rica do que a de quatro anos atrás -naturalmente, no caixa um, na doação legal.

É o que mostra a prestação de contas do primeiro mês de campanha, divulgada pelo Tribunal Superior Eleitoral. Segundo levantamento feito pela Folha, entraram R$ 17,97 milhões nas contas de campanha dos 156 candidatos a prefeito nas capitais, um valor 83,5% maior do que o total das doações nos primeiros 30 dias da campanha de 2004, já descontada a inflação do período. Isso ocorre apesar de naquele ano ter havido mais candidatos a prefeito nas capitais -173.

Em contabilidade separada, a que registra as doações para comitês financeiros de prefeitos e comitês financeiros únicos (incluindo vereadores), o aumento da arrecadação se repete. Foram R$ 13,47 milhões declarados em 2008 contra R$ 8,23 milhões de 2004 (valor atualizado), um salto de 63,6%.

Tradicionalmente, o primeiro mês de campanha, quando ainda não há propaganda na TV, é o mais fraco na receita.

Partidos
O crescimento ocorreu de forma mais expressiva nos maiores partidos. Os candidatos a prefeito do DEM somados arrecadaram agora R$ 4,7 milhões no primeiro mês de campanha, 176% a mais do que no mesmo intervalo em 2004. O PT, na primeira eleição municipal depois do escândalo do mensalão, viu a receita conjunta nas capitais mais do que dobrar, enquanto no PMDB ela cresceu 35,8% em termos reais. O PSDB teve crescimento na conta em nome dos candidatos, mas não na contabilidade dos comitês (os dois dados não podem ser somados, pois há duplicidade de informações).
Entre os partidos médios, PP e PTB tiveram aumentos substanciais, mas houve queda no PDT, PSB, PC do B, PR e PPS.

Esta é a primeira campanha municipal desde a mudança na legislação, que foi uma resposta ao mensalão. Além de tornar obrigatória a divulgação mensal das contas das campanhas (mas não dos doadores e fornecedores), a lei restringiu bastante a utilização de material publicitário. Mas o objetivo de reduzir os custos de campanha não está sendo alcançado.

Tesoureiros de partidos consultados pela Folha atribuíram o aumento na arrecadação ao medo da fiscalização sobre o caixa dois, depois do escândalo de 2005. Em menor grau, também apontam o aquecimento da economia. "Uma cultura da formalização das doações está ganhando espaço", diz Paulo Ferreira, tesoureiro do PT, partido que gerou o valerioduto.

Para ele, a necessidade de publicar balanços mensais agora incentiva a antecipação de doações. "Mas eu continuo com dificuldade. Peço 300 aos doadores e recebo 30."
Saulo Queiroz, do DEM, vê os doadores mais receptivos. "Estamos arrecadando mais porque temos candidatos competitivos em várias capitais agora, como São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e Fortaleza."

Segundo Queiroz, há um entendimento entre os candidatos de que é preciso tomar mais cuidado com o caixa dois. "Até a eleição municipal passada, os candidatos e as empresas preferiam o caixa dois. As empresas não queriam ficar carimbadas como doadoras. Agora, é imperativo doar dentro da lei."

No PSDB, o tesoureiro Márcio Fortes diz que a campanha ficou mais cara após a mudança na lei, principalmente para os prefeitos. "Os vereadores antes carregavam muito da campanha do prefeito em seus materiais de campanha. Mas agora esses materiais estão proibidos, e o prefeito tem de gastar mais para divulgar o número."
O que ainda é permitido, como as placas exibidas em semáforos por uma ou mais pessoas de pé, é bem mais caro, diz ele. "Muitos candidatos estão precisando de mais dinheiro no começo da campanha e propõem ao doador que antecipe sua contribuição, ainda que num valor menor", diz Fortes.

Para Leodegar Tiscoski, tesoureiro do PP, esta eleição "está diferente". "A mudança na regra está favorecendo a prestação de contas real." Segundo ele, muitos doadores estão prometendo abrir o cofre mais próximo da eleição. Procurados, os tesoureiros de PTB e PMDB não ligaram de volta.


Fábio Zanini
Folha de São Paulo, 25/08/08


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