sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Agricultura: Agregar valor sem intermediários

O Fundo Comum para os Produtos Básicos (CFC) pretende destinar mais de US$ 100 milhões nos próximos cinco anos para ajudar agricultores nos países em desenvolvimento a venderem seus produtos com valor agregado e eliminando os intermediários.

O dinheiro será usado para auxiliar milhões de pequenos produtores, fundamentalmente na África, América do Sul e Ásia, que frequentemente não têm outra opção a não ser vender suas colheitas a preço muito baixo para um intermediário que possui conexões com os mercados externos.

O CFC é uma instituição financeira itergovernamental estabelecida dentro do contexto da Organização das Nações Unidas que tem o mandato de promover o desenvolvimento sócio-econômico dos produtores de matérias-primas. “A segurança alimentar nos países pobres não se limita à produção de alimentos. Trata-se de gerar uma renda que permita ter acesso aos serviços de saúde e educação necessários para os trabalhadores”, disse o diretor-gerente do CFC, Ali Mchumo.

A idéia é eliminar intermediários na cadeia de comercialização para que os agricultores pobres possam vender diretamente aos varejistas e supermercados a um preço mais alto. Uma iniciativa permitirá aos produtores de café da Tanzânia e de Uganda aumentar sua renda cultivando frutas que utilizam localmente para elaborar sucos. Para Burkina Faso, Mali, e Tanzânia, há outro projeto para construção de laboratórios destinados a analisar a qualidade do algodão.

Já funciona na região de Tanga, na Tanzânia, a primeira unidade para transformar resíduos de sisal em biocombustíveis e está gerando cerca de 150 megawatts de eletricidade por dia. Este país é o segundo produtor mundial, atrás de Brasil e China, de sisal, planta utilizada para fazer cordas, fios e tapetes. “A melhor ajuda que podemos pedir é que possamos utilizar mais da metade da planta para produtos com alto valor”, disse Salum Shamte, dono da Catani Ltd., que elabora o bicombustível. “Desta forma, os ganhos dos produtores serão maiores”, afirmou.

A crise alimentar pôs em relevo a difícil situação de 450 milhões de pequenos agricultores e 850 milhões de pessoas famintas ou desnutridas nos países em desenvolvimento. Os fortes aumentos de preços das matérias-primas, devido à demanda para produção de biocombustíveis e ao rápido crescimento em países como China e Índia, afetaram mais duramente as nações mais pobres, disse Guy Sneyers, chefe de operações do CFC. O Banco Mundial alertou que a duplicação dos preços do trigo e do milho nos últimos anos pode condenar à fome outros 100 milhões de pessoas no mundo.

Como conseqüência da crise, os doadores internacionais finalmente centraram sua atenção na promoção da agricultura, que deixou de ser atendida durante décadas, acrescentou Sneyers. As nações pobres devem atingir sua auto-suficiência alimentar para evitar a ameaça da fome, e, ao mesmo tempo, obter nos mercados internacionais imprescindíveis divisas com exportações, afirmou. “Os agricultores necessitam incorporar valor agregado ao que produzem para ganhar dinheiro. A mandioca é um alimento, mas, também se pode produzir etanol com ela”, acrescentou.

Os agricultores da Tanzânia consideram que lhes está sendo negada a possibilidade de obter maior lucro vendendo matérias-primas sem serem elaboradas. Os produtores de caju querem exportar as castanhas tostadas e outros produtos de maior valor, como manteiga e chutney (molho picante), disse Peter Masawe, coordenador da Rede Regional para a Promoção do Caju da África Oriental e Meridional, com sede na Tanzânia. “Nossa indústria precisa agora se concentra na cadeia de valor. Se não processarmos o produto não existe a possibilidade de uma mudança”, afirmou.

O mesmo ocorre na Tanzânia com os produtores de algodão, disse Elizabeth Kimambo, do escritório do CFC nesse país. O aumento nos preços das matérias-primas é uma oportunidade de ouro para os agricultores, especialmente para aqueles que produzem café ou tabaco, disse Caleb Dengu, diretor de projetos do CFC. “O que falta é os produtores de café, por exemplo, se concentrarem em sua atividade e não tentarem passar para outros cultivos. Alguns serão tentados pela escassez global de alimentos, mas devem se dedicar a ganhar dinheiro com o café, o que lhes permitirá comprar comida”, acrescentou.


Sarah McGregor
IPS, 31/07/08


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