segunda-feira, 7 de abril de 2008

De um clube de herdeiros à formação de uma gestora

(Da esq. para a dir., em pé): Paolucci, Skaf, Atalla e Ermírio de Moraes Filho; (sentados) Rosenberg e Perego: sócios da Perfin, com R$ 100 milhões sob gestão
Foto Marisa Cauduro / Valor


Eles podem ser jovens, o mais velho com 26 anos, mas levam o investimento em ações a sério. Tudo começou quando três amigos, Mickael, Luiz Guilherme e Ralph decidiram abrir um clube de investimentos. Naquela época, os três, com idades entre 16 e 17 anos, nem tomaram muito conhecimento da aplicação e, três meses depois, a corretora sugeriu que o clube de ações fosse encerrado, já que contava com módicos R$ 10 mil de patrimônio. A atitude da corretora, no entanto, mexeu com o brio dos rapazes, que decidiram dar maior atenção à carteira. Investiram mais e começaram a divulgar a aplicação entre os amigos e familiares. Foi quando José Roberto, o Beto, entrou para o clube e, mais recentemente, Gabriel.

Essa seria mais uma história de amigos que decidiram se aventurar no mercado acionário não fosse um detalhe: todos vêm de famílias abastadas, herdeiros de renomadas empresas brasileiras. A família de José Roberto Ermírio de Moraes Filho, de 22 anos, comanda um dos maiores grupos privados do país, o Grupo Votorantim. Ele é neto de José Ermírio de Moraes, irmão falecido de Antônio Ermírio de Moraes. Outro nome de peso é o de Gabriel Skaf, de 24 anos, filho do presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf. No caso de Mickael Villela Brandão Paolucci, de 24 anos, a família é dona da empresa têxtil Diana Paolucci. O pai de Luiz Guilherme Atalla Camasmie, de 23 anos, é sócio do Folha de Uva, tradicional restaurante de comida árabe de São Paulo. Já a de Ralph Gustavo Rosenberg, de 26 anos, foi proprietária do extinto grupo petroquímico Cevekol.

Quando Moraes Filho aderiu ao clube, eles resolveram montar um escritório que, além da gestão do clube de ações, iria buscar participação em empresas de capital fechado, mas com grande potencial de crescimento. Assim nasceu a Infinity Invest que, apesar do nome, não tem nada a ver com a gestora independente Infinity Asset Management.

No clube, a partir de uma gestão mais profissionalizada, os amigos conseguiram fazer o investimento em ações crescer e, em março de 2007, o patrimônio atingiu os R$ 15 milhões. Muitos podem achar que era só dinheiro das famílias. Ledo engano. Na época, a carteira contava com 150 cotistas, o máximo permitido num clube de investimentos. "O problema é que já havia interesse de outros investidores que tinham outros R$ 15 milhões e não podíamos aceitar por conta da regulação", conta Luiz Guilherme.

Foi nessa época que surgiu a idéia da associação com a Perfin Investimentos, gestora fundada por Luís de Oliveira Perego, que iniciou sua carreira em 1983 na divisão financeira do então Banco Francês e Brasileiro (BFB), comprado pelo Itaú em 1995. Mais tarde foi para a tesouraria do BankBoston e depois para a Sanbras DTVM, do Grupo Bunge. Em 1988, o executivo integrou o Grupo Votorantim, sendo um dos responsáveis pela montagem do Banco Votorantim, onde permaneceu como diretor executivo responsável pela área financeira e de investimentos até 1995. Em seguida, passou pelos bancos BMC e Fibra, abrindo em 2003 a Perfin.

Instalados em um prédio que leva o nome da família de um dos sócios, a gestora, que até então contava apenas com um multimercado, decidiu abrir um fundo de ações que adotasse a mesma estratégia do clube. Hoje, a Perfin tem um patrimônio de R$ 100 milhões sob gerenciamento e 320 clientes. O próximo passo é agora buscar distribuidores, lançar um fundo para estrangeiros (offshore), fechar parcerias no exterior e montar um conselho independente para auxiliar a decisão de investimento. O clube será incorporado ao fundo de ações, assim que obtiver autorização da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

No fundo de ações Perfin Infinity Equity, a estratégia de investimento está em aplicar 30% da carteira em papéis de menor liquidez ("small caps"), 40% em ações de empresas médias e os outros 30% em papéis de grandes companhias, diz Moraes Filho. Entre os setores presentes no fundo hoje estão construção civil, saúde, fertilizantes, siderurgia e consumo, além das tradicionais Petrobras e Vale. Normalmente a carteira fica concentrada em dez papéis. Lançado em julho do ano passado, o portfólio acumula perda de 6,20% até o dia 2, para uma alta de 19,73% do Índice Bovespa no período. Neste ano, com a forte oscilação da bolsa, a carteira perde 10,21% até o dia 2 para uma queda de 0,82% do Ibovespa.

No multimercado, aberto em outubro de 2007, 60% dos recursos estão em operações de arbitragem (long/short). Da parcela restante, 20% fica em renda fixa e os outros 20% em ações, com estratégia direcional, que aposta na alta ou queda de um ativo. Na opinião de Rosenberg, a queda do mercado acionário neste ano abriu muitas oportunidades de investimento para o longo prazo. "O ano, no entanto, será de muita volatilidade até que o cenário internacional fique mais claro", acrescenta Perego.

Jovens e herdeiros de empresas importantes no país, eles reconhecem que muitas vezes sofrem preconceito, como se fossem apenas um grupinho de jovens mimados brincando de gerenciar parte da fortuna dos pais. "Preconceito acontece, mas o histórico de alta rentabilidade (obtido no clube) mata qualquer pré-julgamento", diz Camasmie.

Os executivos ressaltam, ainda, que do total de R$ 100 milhões gerido pela Perfin, apenas 25% representam dinheiro de familiares. "E os nossos pais só começaram a investir depois de dois ou três anos, após termos um histórico de performance", diz Gabriel Skaf. "Até hoje tento trazer mais dinheiro do meu pai, mas, como ele é avesso a risco, é difícil."

Por Luciana Monteiro, de São Paulo
Publicado pelo Valor Online em 07/04/08


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