segunda-feira, 28 de abril de 2008

Com loja enxuta e internet, GBarbosa acelera expansão


Luciana Santos, moradora de Rio Real, entrou na Eletro Show e estava em dúvida entre um notebook e uma lavadora
Foto Salgado / Valor

Um pouco antes das nove horas da manhã do dia 16 de abril o padre de Rio Real, pequena cidade do interior baiano, deixou a igreja matriz, caminhou alguns metros e chegou ao local onde o aguardavam para uma benção. A tradição católica se misturou à inovação tecnológica no nordeste da Bahia. O padre abençoou o Eletro Show da rede GBarbosa, que foi inaugurado logo depois. É uma loja enxuta, com poucas peças em mostruário e em estoque, e onde o cliente pode escolher pela internet o que deseja comprar.

Desde a inauguração, o entra e sai de pessoas na loja é constante. A maioria quer "dar uma olhadinha", mas as vendas já estão indo bem, como garante José Bezerra da Silva Lopes, gerente da filial de Rio Real.

Em uma semana, sete das 12 televisões mais baratas da loja foram vendidas. Um morador da cidade também já comprou um notebook de R$ 2.199. Na tarde em que o Valor visitou o Eletro Show, mais um computador portátil estava prestes a ser vendido para Luciana dos Santos.

"Estou na dúvida. Não sei se compro o computador ou uma máquina de lavar", diz ela sorrindo, ciente de que "uma coisa não tem nada a ver com a outra". O notebook seria bom para o marido, advogado. Já ela ficaria feliz em não ter mais que esfregar e torcer as roupas na mão. A palavra final seria do marido, "que é quem tem o dinheiro". Para Luciana, que há dois anos se mudou de Esplanada (cidade vizinha) para Rio Real, "o bom é que com a loja nova não precisamos mais viajar e eles entregam em dois dias".

Com a unidade de Rio Real, o GBarbosa, que pertence ao grupo varejista chileno Cencosud, conta agora com 12 lojas nesse formato, na Bahia e em Sergipe. A forte aposta neste modelo a partir deste ano mostra que a experiência tem dado certo. "Com o Eletro Show queríamos criar um negócio com baixo custo para disseminar o grupo pelo interior", diz Eduardo Costa Júnior, gerente desse modelo de negócios na rede. Com a estrutura reduzida, não é preciso ter caixas, estoquistas e empacotadores. Em Rio Real, quatro vendedores e um gerente dão conta do recado.

O primeiro Eletro Show foi aberto em dezembro de 2005 e, dois anos depois, havia nove no total. Agora, só neste ano, foram abertas três unidades e, até julho, serão inauguradas outras cinco. Em seis meses, a rede abrirá quase o mesmo número de lojas inauguradas em dois anos.

Quem não está nada contente com a chegada dessa loja é a concorrência local. Embora todos tenham na ponta da língua o discurso de que "a competição é sempre boa para todos", os comerciantes sabem que será complicado manter os bons resultados que suas lojas estão apresentando nos últimos anos.

"Em preço sei que não vou ganhar", diz Lana Pinheiro, gerente da Maranata Móveis. Lana deu uma espiada nos preços do novo concorrente e viu que o páreo não será fácil. Ela conta que o microondas de 22 litros que a Maranata vende por R$ 385 em até seis vezes, sai por nada menos do que R$ 265 no Eletro Show. "Se eu cobrar isso, fico no prejuízo. Comprei esse produto do distribuidor a R$ 285."

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Rede Eletro Show tem 12 lojas na Bahia e em Sergipe - neste ano já foram abertas três e até julho serão mais cinco
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A avaliação de Juarez Dantas, proprietário da JN Móveis, vizinha de porta da nova loja GBarbosa, é a mesma de Lana. Ele aposta, no entanto, no seu mix de produtos, que está muito apoiado em móveis - o que a Eletro Show não vende - nas formas de pagamento que oferece e no "atendimento diferenciado". "Ali eles só aceitam dinheiro ou cartão. Aqui eu faço em menos vezes, no máximo seis, mas pode ser na nota promissória e no carnê." E completa: "aqui a garantia sou eu. Se o produto quebrar, eu conserto ou dou outro. Em loja grande sempre tem muita burocracia".

Júnior admite que o poder de barganha do GBarbosa é realmente muito maior, mas diz que as experiências anteriores do Eletro Show mostram que a loja acaba dinamizando mais o comércio da cidade do que canibalizando-o. "Se o consumidor compra um produto R$ 10, R$ 20, R$ 30 mais barato, ele vai usar esse dinheiro em outra compra. Pode ser em alimentos, roupas, calçados", argumenta.

Os varejistas locais têm, porém, um trunfo em mãos. Com lojas maiores, eles podem expor uma variedade maior de produtos. Já no Eletro Show, que tem cerca de 120 metros quadrados, a variedade de itens expostos é menor. Se o cliente desejar algo diferente do que está no mostruário, terá que escolher o produto pelo computador, junto com o vendedor. A fórmula ainda não é muito bem aceita, especialmente entre os compradores de menor renda.

"Aqui o pessoal é que nem São Tomé, tem que ver para crer", brinca Lopes, o gerente da loja. Ele acredita que com o tempo as pessoas vão se acostumar com a compra virtual. Enquanto isso, pediu mais produtos ao centro de distribuição de Aracaju para reforçar o mostruário.

Outra vantagem das lojas locais é o atendimento bastante pessoal. Grande parte dos moradores de Rio Real trabalha em fazendas de laranja e não têm comprovante de renda ou carteira assinada. "Acabamos aceitando outras garantias e quando é conhecido, nem pedimos nada", diz Dantas, da JN Móveis.

Atenta a esse costume, a rede GBarbosa tem flexibilizado a concessão de crédito nessas localidades. Ao longo de março, um estande foi montado na praça principal da cidade e três promotoras ofereceram o cartão de crédito própria da rede o Credi-Hiper. Quem chegasse lá com RG, CPF, comprovante de residência e qualquer carnê de loja com pelo menos quatro parcelas quitadas poderia pedir o cartão. Na cidade com cerca de 30 mil habitantes, mil propostas foram preenchidas e mais de 500 cartões já foram distribuídos. Com eles, é possível parcelar as compras em até 12 vezes.

"Temos um mercado muito grande aqui (Bahia). Há mais de 50 cidades com potencial para receber um Eletro Show", diz Júnior. Segundo ele, não há um formato fechado para a escolha de um município. "Analisamos o que todo mundo analisa: número de habitantes, renda per capita, comércio local."

Raquel Salgado
Valor Online, 28/04/08


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