segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Onde está o lucro

Danilo Fariello e Angelo Pavini
Publicado pelo Valor Online em 14/01/08

O otimismo do mercado financeiro quanto ao rumo do Índice Bovespa (Ibovespa) não é uniforme para todas as ações. Todos os anos, fundos de gestão ativa e aplicadores independentes ficam à procura das barbadas da bolsa, aqueles setores que vão estourar. Uma pesquisa da Financial Investor Relations (Firb) analisou mais de 500 relatórios de 24 instituições do mercado para chegar em projeções médias para os setores e, por conseqüência, o Ibovespa. Para o índice, a perspectiva média é de que ele atinja no fim do ano 81.625 pontos, o que significaria alta de 28% no ano ou 32% sobre o fechamento de sexta-feira, a 61.942 pontos. Mas há muitas nuances quando avaliadas as perspectivas para cada setor do Ibovespa.

Sem considerar o risco embutido em cada papel, o setor com melhores perspectivas, segundo os analistas considerados pelo Firb, é o sucroalcooleiro. No Ibovespa, ele é composto unicamente por Cosan, e tem perspectiva média de alta de 58,46%. Trata-se de um exemplo de uma tendência verificada em diversos setores, de recuperação de ações que andaram em descompasso com o mercado. Em 2007, quando o Ibovespa subiu 43,65%, o papel da Cosan caiu 52,82%, por conta de fracos fundamentos do setor e por uma reestruturação societária que não foi bem digerida pelos investidores. Daniel Gorayeb, da Corretora Spinelli, porém, acha arriscados os negócios com biodiesel e cana de açúcar. "Talvez sejam segmentos promissores para 2009, mas não devem dar lucro de maneira rápida", diz.

O exemplo serve para dar uma idéia também de que o investidor deve ponderar os riscos de cada setor, além da sua perspectiva de valorização apontada na pesquisa. "Em geral, quem andou menos no passado tenderia a recuperar terreno e subir mais agora", diz Álvaro Bandeira, economista-chefe da corretora Ágora. Mas essa regra não é sempre verdadeira.

Outro setor com boas perspectivas que não andou bem no ano passado é o de telecomunicações - com previsão de alta de 39,75% no ano. Em 2007, o Índice de Telecomunicações (Itel), que compreende as maiores empresas do setor, subiu apenas 16,14%, enquanto o Ibovespa avançou 43,65%. Contudo, as ações do setor já aceleraram bastante no começo deste ano, ao sabor das notícias sobre compras e consolidação. Para Bandeira, o melhor a fazer agora é esperar para ver o resultado do acordo entre Oi (ex-Telemar) e Brasil Telecom para tomar uma decisão.

Segundo a Firb, ponderado o peso das ações no índice, o setor de telecomunicações seria o segundo maior propulsor para a alta do Ibovespa, depois de mineração, com previsão de alta de 28,03%. "Os analistas prevêem novamente um bom aumento para o minério de ferro este ano, o que favoreceria a Vale", diz Arleu Aloisio Anhalt, presidente da Firb. Porém, Vladimir Pinto, estrategista da Unibanco Corretora, acredita que o reajuste do minério já está embutido no preço das ações. "E é um setor que depende da dicotomia do cenário externo, se tudo for bem e as commodities subirem, ele irá muito bem, se não, vai sofrer."

A alta recente do preço do petróleo faz Petrobras seguir como uma boa opção, enquanto as petroquímicas devem sofrer com o preço da matéria-prima, diz Pedro Galdi, do ABN Amro Real.
Segundo Anhalt, é majoritária a perspectiva de que as ações em geral deverão passar por um forte período de turbulência até a situação melhorar ao longo do ano. "Seria mais ou menos o contrário do ano passado, um primeiro semestre mais turbulento, seguido de um mais tranqüilo."

Destaque na comparação entre os setores feita pela Firb é a nítida expectativa positiva dos analistas com o mercado interno. Os setores de varejo, construção e alimentos e bebidas têm boas perspectivas (ver gráfico). "Melhores condições de emprego e renda deverão puxar essas empresas", diz Bandeira.

As projeções para o setor de transportes indicam alta de 27,59% no ano, porém as histórias são diferentes para seus segmentos. "As projeções são piores para as companhias do setor aéreo do que para aquelas rodoviárias e de transporte majoritariamente ferroviário", diz Anhalt. Para a corretora Spinelli, ALL é uma boa opção no setor de transportes. Os analistas ouvidos pela Firb têm expectativa otimista com o aumento do trânsito nas ferrovias, principalmente por causa das projeções boas para certos setores agrícolas.

Pinto, do Unibanco, indica o setor financeiro, que sofreu com a crise global. Investidores internacionais venderam os papéis indistintamente por conta da crise "subprime", apesar de, no Brasil, isso não fazer sentido. Na lista da Firb, o potencial de alta do setor financeiro é de 25,22% em 2008. Bancos e seguradoras são favorecidos por perspectivas de crescimento de 25% a 30% no volume de crédito no ano, diz Gorayeb. Pedro Galdi, do Banco Real, indica no setor Unibanco, Itaú e Bradesco.

O setor de papel e celulose, especialmente VCP, também tem potencial, afirma Pinto, do Unibanco. A projeção de alta de é 28,17% no levantamento da Firb.

Entre os setores de maior potencial na lista da consultoria está o de holdings, que compreende as empresas Bradespar e Itaúsa, com projeção de alta média de 45,91%, a segunda maior. Sem uma direta relação entre si, elas refletem as empresas em que aplicam (a primeira, principalmente na Vale, e a segunda, no Banco Itaú). E são consideradas meios mais acessíveis e baratos para se aplicar nas empresas em que investem, contando ainda com maior diversificação.

Para Gorayeb, as empresas de energia elétrica devem se dar bem com o crescimento do PIB. "Temos Energias do Brasil, Cemig e Eletrobrás, que é boa pagadora de dividendos e que está atrasada." Anhalt diz que, com as discussões sobre um futuro apagão novamente acesas, os analistas dizem que as empresas do setor elétrico tendem a se valorizar, com o preço da energia mais alto. "Mas é nesse momento que surgem as grandes diferenças em gestão entre as empresas do setor, portanto, é necessário cuidado na escolha das empresas." Para Galdi, do Real, as indicadas do setor são CPFL e Copel.

A previsão para o Ibovespa de Gorayeb, da Spinelli, é de 85 mil pontos, e tem como premissa um crescimento de 25% no lucro das empresas brasileiras, que já jogaria o valor do Ibovespa para 81 mil pontos. Mas há ainda o grau de investimento que "não vai mudar o país, assim como ninguém muda após o aniversário", mas ajudará o processo de atração de capital externo. Segundo Anhalt, a maioria dos analistas consultados pela Firb também considera a conquista do grau de investimento ainda neste ano. Portanto, o investidor deve considerar que, se certas premissas macroeconômicas não forem realizadas ao longo do ano, as projeções poderão chegar a dezembro com severas diferenças.


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