segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Concentração no mercado veterinário

Cibelle Bouças
Publicado pelo
Valor Online em 23/11/2007

O recente processo de concentração no mercado farmacêutico já produz reflexos no segmento de saúde animal, que enfrentará novas reviravoltas já no próximo ano. A cartada mais recente foi da americana Merial, que há menos de um mês adquiriu o laboratório neozelandês Ancare por um valor não divulgado.

A estratégia da empresa, que fatura por ano US$ 2,2 bilhões, tem por objetivo recuperar a liderança perdida em 2006, quando a também americana Pfizer Saúde Animal superou a Merial. A empresa comprou a Pharmacia em 2003 e consolidou-se no mercado veterinário nos últimos anos, encerrando 2006 com faturamento de US$ 2,311 bilhões. Em 20006, a Pfizer Saúde Animal também comprou a americana Embrex, que fatura em torno de US$ 55 milhões por ano e produz vacinas para o setor de aves.

A nova liderança, no entanto, terá vida curta. Em março deste ano, a americana Schering-Plough adquiriu a holandesa Intervet, como parte da compra da Organon BioSciences, divisão farmecêutica e química da Akzo Nobel. Assim que aprovada pelos órgãos anti-truste dos Estados Unidos e Brasil, a nova divisão de saúde animal da Schering-Plough elevará o seu faturamento global de US$ 910 milhões para valor aproximado de US$ 2,4 bilhões.

A "dança das cadeiras" já é notada no Brasil. De acordo com dados do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal (Sindan), em 2006, a Merial ocupava a liderança do mercado, com 11% de participação, seguida por Pfizer 10%, Intervet e Schering-Plough (cada uma com 8%).

Entre janeiro e outubro deste ano, a Pfizer passou à frente, com 10,2% de participação, seguida por Merial, com 9,5%, e Intervet, com 8,66% - que, somado à Schering-Plough passará a ocupar a liderança do setor no país. "Esse mercado ainda passará por um grande movimento de consolidação em nível mundial e, no Brasil esse movimento também já ganha força", afirma Jorge Espanha, diretor de saúde animal da Pfizer.

Em julho deste ano, a brasileira Vetbrands Saúde Animal, que antes ocupada a 12ª posição do mercado, com faturamento de US$ 32 milhões no país, foi adquirida pela francesa Ceva Sante Animale, que também já tinha operações no Brasil, subindo para a nona posição no ranking do setor ao elevar a receita para algo próximo a US$ 57 milhões ao ano.

Atenta às mudanças e decidida a recuperar a liderança de mercado no Brasil e no exterior, a Merial - criada há dez anos a partir da união das divisões veterinárias da americana Merck e da francesa Sanofi-Aventis - traça um novo plano de vendas para as linhas de produtos da neozelandesa Ancare e estuda outras aquisições, inclusive na América do Sul.

"Estamos interessados em negócios na América do Sul que possam elevar o nosso portfólio ou que tenham uma estrutura comercial que permita alavancar os negócios da Merial na região", afirma Alfredo Ihde, presidente da Merial para a região Cone Sul.

De acordo com Ihde, a neozelandesa Ancare fatura US$ 40 milhões por ano e tem atuação hoje restrita às regiões da Austrália e Ásia, o que de imediato não oferece mudanças no ranking global veterinário para a Merial. "No entanto, a Ancare oferece um grande potencial de expansão dos negócios nos próximos anos, devido às linhas de produtos que já possui e às pesquisa que desenvolve no segmento de produtos para bovinos", afirma.

Um dos objetivos da Merial será expandir globalmente as vendas de produtos da Ancare, que já têm grande penetração na Austrália, Nova Zelândia, Coréia do Sul, Japão e Cingapura. Segundo ele, a empresa atua em segmentos onde a Merial não tinha participação efetiva, como suplementos minerais e alguns tipos de antiparasitários. No Brasil, onde a Merial espera faturar R$ 265 milhões neste ano (com crescimento em torno de 5% sobre 2006), as vendas de antiparasitários para bovinos correspondem a 40% da sua receita.

"Alguns produtos serão trazidos para o Brasil, mas sobretudo, teremos produtos com grande qualidade para exportar à Europa", diz. A aquisição também ajudará a Merial a garantir maior espaço nos mercados da Ásia e da Austrália, observa Ihde.

A Pfizer também avalia a possibilidade de aquisições no Brasil e no exterior, segundo Jorge Espanha, diretor de saúde animal da empresa. "Neste ano, crescemos no país acima da média do mercado com o aumento do portfólio e estamos abertos a aquisições e parcerias que possam resultar em aumento das vendas", afirma. Conforme dados do Sindan, até outubro, a empresa elevou as vendas no Brasil em 10%, enquanto o mercado cresceu 6,5% no mesmo período. Neste ano, a empresa fechou parcerias no país com a paranaense Allvet, para ampliar a rede de distribuição, e a Dow AgroSciences, para competir no segmento de produtos para pastagem.


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