terça-feira, 6 de novembro de 2007

Comida saudável não tem sabor, preço e praticidade

Daniele Madureira
Publicado pelo
Valor Online em 06/11/07

"A maioria sabe o que deve comer, mas 55% enfiam o pé na jaca", diz Giacometti
Foto Divulgação

Trinta por cento da população das capitais do Rio de Janeiro e de São Paulo procura, a duras penas, ter uma alimentação balanceada e um estilo de vida saudável. O corre-corre diário, o alto custo de vida, além do costume de usar a comida como forma de indulgência, têm limitado a vontade de assumir uma vida equilibrada. Mas a indústria também não tem ajudado.

O consumidor não consegue encontrar produtos que sejam, ao mesmo tempo, práticos, saudáveis, saborosos e de baixo custo - a combinação ideal, na opinião de cariocas e paulistas. E esse quadro já tem dez anos, quando cerca de 30% dos moradores do Rio e de São Paulo já adotavam hábitos saudáveis à mesa - o mesmo percentual medido neste ano. Os dados de 1997 e 2007 foram indicados em pesquisas feitas pela Giacometti Propaganda, para monitorar tendências de alimentação nas metrópoles.

"O maior acesso à informação aumentou o nível de consciência sobre a necessidade de cuidar bem do corpo e do tipo de combustível que se coloca nele, inclusive, entre os consumidores da classe C", diz Dennis Giacometti, diretor da agência responsável pelo levantamento, que ouviu 600 pessoas em Rio e São Paulo, entre agosto e setembro. A primeira etapa da pesquisa, qualitativa, foi feita pela Mandalah, especializada em comportamento de consumo, que realizou 23 entrevistas.

Giacometti observa, no entanto, que mais informação não significa necessariamente mais atitude. "As pessoas sabem mais a respeito do que não podem do que sobre o que podem comer", diz. Aí a vontade fica reprimida e, volta e meia, estoura. Não por acaso, 55% dos entrevistados disseram "enfiar o pé na jaca" de vez em quando, comendo tudo o que têm vontade.

Com os práticos semi-prontos, cujo consumo vem aumentando na mesma velocidade dos lançamentos, a indústria só incentiva a alimentação rápida e, quase sempre, individual. "Por isso, não faz sentido a publicidade continuar apresentando a família que se reúne ao redor da mesa para o café da manhã, o almoço ou o jantar, já que isso está cada vez mais distante da realidade", diz Giacometti.

O comportamento típico dos moradores dessas metrópoles do Sudeste do país se mantém o mesmo há anos: a maioria das pessoas tem tempo apenas para "engolir" o almoço, às vezes em pé ou em frente do computador, o que acaba privilegiando o fast-food barato. Ao mesmo tempo, comer algo saboroso - e, invariavelmente, calórico - é cada vez mais encarado como uma recompensa por momentos estressantes em casa, no trabalho ou na escola. Essa conduta, por sinal, está presente também no dia-a-dia dos mais jovens e das crianças, o que pode ser constatado a partir do aumento dos índices de obesidade nessas faixas etárias.

É certo que o portfólio light também vem crescendo, mas os itens dessa natureza só entram no cardápio quando convém ao consumidor. A prova disso está nas entrevistas da etapa qualitativa, que foram condensadas em vídeo. A modelo carioca Flávia, de 28 anos - que afirma não comer "nada" no verão -, tem opinião formada sobre as comidas de baixa caloria. "Nada light é gostoso", diz ela. A amiga Etyenne, de 23 anos, concorda. "Light é uma enganação, a gente consome porque está no desespero, mas muitas vezes nem adianta: engordamos do mesmo jeito".

O ceticismo em relação aos fabricantes de alimentos não se restringe aos lights. Na pesquisa feita pela agência, não houve unanimidade na escolha da empresa que é referência em produtos saudáveis. "Cada indústria recebeu menos de 20% das citações dos entrevistados", diz Giacometti.

Os restaurantes, por sua vez, não incentivam o consumidor a fazer uma alimentação equilibrada. "Os 'naturebas' oferecem sempre o mesmo cardápio, as pessoas se cansam do menu e acabam desistindo", diz Giacometti, um vegetariano que abriu espaço para os peixes no prato. "Hoje, o indivíduo só deixa de comer mal se tiver grande força de vontade ou se levar um susto com a sua saúde".


Um comentário:

Anônimo disse...

Engraçado vc ter postado sobre esse assunto...estou em cheio nesse assunto atualmente. Comprei um livro muito legal chamado A Natureza Cura. Estou testando receitas com ingredientes naturais e estou gostando muito. Mas com certeza é muito difícil ser radicalmente contra a alimentação que a indústria nos serve....não dá pra levar sua própria marmita em todos os lugares né? rsrsrs. Tenho pensado até que ponto essa alimentação errada não estaria na base dos erros que a Humanidade tem cometido...



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