segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Yes, nós temos governança

Danilo Fariello
Publicado pelo
Valor Online em 29/10/07

Algumas das empresas da América Latina com melhores práticas de governança corporativa decidiram assumir a responsabilidade de ser um canal de comunicação pelo mundo afora para mostrar o valor do mercado local. O Círculo de Companhias da Mesa-Redonda Latino Americana de Governança Corporativa - que conta com 14 empresas de cinco países da região para disseminar procedimentos responsáveis para as outras empresas - resolveu agir como intermediário entre empresas daqui e agências que avaliam a governança local, situadas principalmente nos EUA. A iniciativa é uma forma de melhorar a visão dos estrangeiros sobre as empresas da AL e, por conseqüência, aumentar a vazão de recursos para cá.

O resultado recente mais espantoso para as empresas foi a última edição do ranking dos mercados divulgado no mês passado pela Governance Metrics Internacional (GMI), que coloca o Brasil na 39ª colocação em uma lista de 50 países segundo a governança, atrás de México, Rússia e Venezuela. O grupo acredita que as agências de ratings de governança avaliam as empresas da região sob a ótica estrangeira, sem considerar as peculiaridades e os avanços das empresas da AL. "As agências começaram a olhar para a região no ano passado e ainda usam uma lente única, em que predominam os assuntos de lá", diz Sandra Guerra, coordenadora do Círculo das Companhias.

Um dos exemplos citados na reunião anual do grupo, que ocorreu neste mês em Medellín, na Colômbia, é a diferença da estrutura societária das empresas da região e as americanas. Como lá a maior parte das empresas tem o controle pulverizado, as agências de rating de governança olham muito para o compromisso e remuneração dos administradores, mas aqui é diferente, com muitos grupos de acionistas majoritários. Isso muda totalmente a análise da governança da empresa, diz ela. "E um bloco de controle não é necessariamente negativo, pois tem a virtude de um dono vigilante, por exemplo."

As empresas que fazem parte do Círculo de Companhias são Argos e ISA, da Colômbia; Atlas, da Costa Rica; Buenaventura e Ferreyros, do Peru; Homex, do México - recém-ingressa, acrescentando mais um país ao grupo -; e CCR, CPFL Energia, Embraer, Marcopolo, Natura, Net, Suzano e Ultrapar, do Brasil. O grupo foi formado por uma iniciativa do Banco Mundial, seu braço financeiro, o International Finance Corporation (IFC), e a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

O senso comum entre as empresas do grupo, acostumadas a lidar com investidores de grande porte, é que a escolha das empresas para aplicar será cada vez mais pautada por aspectos de governança, em paralelo à previsão de crescimento das próprias ações, diz Sandra. "Se os resultados são vistos superficialmente, isso poderá prejudicar a decisão de investimento", diz ela, relatando opinião do grupo.

Só agora começamos a ter questões de governança comparáveis ao exterior, comenta Marco Geovanne, presidente da comissão Internacional do Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (Ibri). "Não me estranha a colocação brasileira nesses rankings, porque equilíbrio entre poderes de acionistas, transparência, prestação de contas, responsabilidade social e mesmo o próprio Ibri - com dez anos - são fatos ainda recentes no país."

Geovanne lembra, ainda, que o mercado brasileiro tem algo que prejudica a avaliação e com razão muito justa: a existência des ações preferenciais, que não dão direito a voto. "Com pouco mais de 25% do capital social você controla uma empresa aqui e isso não é comum lá fora, porque fere o preceito de eqüidade entre os acionistas."

Apesar da abordagem genérica internacional - o GMI avaliou 44 empresas brasileiras para dar os pontos e a colocação de 39º ao Brasil - e de o Brasil ter muito a avançar, o país conta com empresas com aspectos de governança superiores a diversas companhias do primeiro mundo, diz Geovanne. Ele destaca que os EUA conquistaram o nível atual a duras penas, após as crises de gigantes como Enron e Worldcom e a conseqüente promulgação da Lei Sarbanes-Oxley, que elevou os critérios mínimos de governança.

Os ratings de governança corporativa ainda são pouco usados em comparação àqueles de risco de crédito, mas tendem a ganhar importância conforme se amplie o consenso em torno dos critérios. Além da GMI, também fazem estudos similares no mundo, atualmente, a RiskMetrics e The Corporate Library. A internacional Standard & Poor's já considera critérios de governança corporativa como um dos elementos avaliados no rating de crédito. É nessas portas que o Círculo das Companhias deverá bater para explicar as diferenças do mercado regional em relação ao internacional. No Brasil, a única empresa a fazer análise de governança é a Austin Rating, que concedeu nota AA ao Bradesco, primeira companhia no Brasil a divulgar sua classificação.

A tendência do mercado, porém, é de universalizar os critérios de avaliação de governança, diz Sandra, mas por enquanto os pesos e medidas conforme a região ainda são muito diferentes. "As práticas de governança e sua avaliação tendem a ser harmonizadas em níveis internacionais", acrescenta Geovanne, do Ibri. Mas isso não exclui a necessidade de as empresas avançarem em governança.


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