segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Artigo de Especialista em Desenvolvimento Local explica a importância da atuação do gestor social na sociedade atual

Vilma Ambrósia Jurevicius*
Publicado pelo
Setor3 em 17/10/07

Pensar o papel do Gestor Social no Brasil nos faz refletir sobre a construção histórica da democracia e a entender a participação do cidadão nesse processo.

O gestor é um promotor da cidadania, independentemente do público ou causa em que ele está atuando. Reafirmar constantemente seu papel é fundamental entendendo que a localidade pode ser o maior campo de atuação para empreender mudanças sociais significativas.

O processo de participação das pessoas em nossa sociedade foi incentivado ou reprimido com maior ou menor ênfase, de acordo com o cenário político da época e os interesses econômicos vigentes. Atualmente os efeitos da globalização e do mercado aumentam a concentração de renda e a exclusão social.

Na contramão, está o "setor cidadão" que acredita na construção de uma sociedade mais justa e igualitária, democrática e participativa. Passa-se a crer no sonho, na utopia de um mundo equânime, no empoderamento de um grupo de pessoas que acreditam que essa mudança local pode interferir globalmente nas grandes discussões que afetam em maior ou menor grau a coletividade.

O que nos afeta individualmente, afeta o coletivo e vice versa. Participar, assumir nossas responsabilidades e reconhecer nossos direitos é contribuir para a consolidação da democracia.

É expressiva a diferença entre as cidades, comunidades, localidades onde a participação das pessoas acontece e outros locais em que residem velhas formas de organização e os efeitos de colonização do nosso país.

Essas últimas são localidades que dão a impressão de abandono, cidades vocacionadas que com o tempo perderam sua identidade. As pessoas que nelas habitam parecem adormecidas, inoperantes. A mesmice impera e elas crêem que nada podem mudar em suas vidas, em suas casas, na vila. Passivamente esperam que algo mude, ou alguém possa fazer a mudança com fórmulas mágicas. A mágica reside exatamente na crença de que pessoas podem com objetivos comuns operar mudanças significativas.

Vemos a clara diferença em localidades onde uma parcela significativa da sociedade participa, como na Comunidade Heliópolis, onde o líder comunitário, o arquiteto, o empresário, o maestro, vários profissionais das artes, jornalistas e cidadãos comuns estão engajados organizando seus espaços, rádios comunitárias, lavanderias comunitárias, centros de geração de trabalho e renda com parcerias de multinacionais. O trabalho avança, a comunidade se apropria cada vez mais dos espaços e mudanças significativas acontecem.

A solução em nossas mãos
Não podemos isentar o papel do Estado em qualquer âmbito, mas exigir que ele cumpra sua parte como prestador de serviço público. Os cidadãos têm as soluções para seus problemas e é preciso romper com a inversão que muitas vezes se pretende de que as ONGs nasceram para cumprir o papel do Estado.

O terceiro setor surgiu a partir de pessoas que abraçaram causas, cansados de testemunhar a incompetência do Estado. Essa área apareceu para enfrentar os problemas, organizar a sociedade civil, mas não para substituir ou atuar no lugar do Estado. Governo, empresas e a sociedade civil precisam atuar juntos, cada um cumprindo o seu papel.

Vivemos uma realidade onde milhões de pessoas não conseguem exercer plenamente a sua cidadania e a democracia ainda precisa ser conquistada para esse grande contingente de pessoas excluídas.

Mais uma vez, o gestor social pode contribuir na promoção da dignidade ou da cidadania, ter clareza que democracia é o ponto de partida para garantir a participação das pessoas em todas as discussões, em todas as áreas.

Identificando as causas e procurando agir com os diversos setores da sociedade, os cidadãos podem influenciar na aplicação de políticas públicas enquanto o Gestor social, empenhado em buscar o cumprimento da missão organizacional, tem como maior desafio obter efetividade nas ações.

Se a missão é contribuir para erradicar a evasão escolar, por exemplo, é fundamental ter uma proposta político pedagógica que consiga envolver o público alvo, com a atuação de profissionais e pessoas comprometidas com a causa da organização.

Pensar coletivamente é assumir que a evasão escolar não se restringe a um problema da escola ou do projeto social, mas é característica de crianças de uma dada localidade, uma causa que também é da escola, dos conselhos de direitos, de programas de amparo à família, do posto de saúde. Enfim, é de todos nós.

Tecido Social
Mas como trabalhar coletivamente de forma democrática e participativa? Desenvolvendo o trabalho em rede e estabelecendo parcerias que formam o tecido social para renovar e consolidar as ações que geram impacto social.

O que a maioria das pessoas faz é agir individualmente no imediatismo. Ainda há gestores de organizações que trabalham de forma isolada, sem efetividade, sem ressonância. Já ouvi depoimentos como: ter a impressão de estar enxugando gelo, apagando incêndio o tempo todo, os problemas se avolumam e nada modifica.

As dificuldades são muitas e complexas em um cenário onde o descrédito das instituições é cada vez maior. Outro desafio é conscientizar e sensibilizar os atores locais para o protagonismo individual e coletivo.

O sentimento do gestor de impotência no enfrentamento da pobreza econômica, política, étnica, cultural e social existente tem exigido uma postura de ruptura com velhas formas de atuação e a necessidade de atuar cada vez mais integrado, em rede. Para isso, há um resgate de valores como solidariedade, colaboração e história, pois nos remete a entender como alguns grupos sociais se organizaram e se desenvolveram, formando comunidades de projetos e de aprendizagens.

O Gestor Social pode ser o protagonista da formação da Rede, assim como qualquer cidadão comprometido pode adotar a metodologia do trabalho em rede, mobilizando e articulando as pessoas, grupos representativos de cada segmento. Juntos discutirão uma agenda de prioridades, destinação de recursos e ações para enfrentamento dos graves problemas sociais, ambientais, educacionais, econômicos de geração de trabalho e renda que afetam sua localidade.

Nas incursões pelas periferias deste país vemos pessoas de boa vontade contrariando a lógica das coisas, realizando projetos criativos que oferecem oportunidades.

O nosso país é muito jovem, tem muito por fazer. Paulatinamente, O Brasil vem consolidando importantes processos como o de romper com antigas formas de coronealismo, clientelismo, assistencialismo, centralização do poder.

Não vamos nos acostumar com as injustiças sociais que impedem a grande parcela da população de ter cidadania plena e se consolar com o sentimento de impotência. Qual o legado que estamos deixando para as futuras gerações? Qual a lição de cidadania que estamos passando para os nossos jovens? Qual o protagonismo juvenil estamos fomentando?

"Nunca duvide de um pequeno grupo de pessoas conscientes e engajadas possa mudar o mundo; de fato, sempre foi somente assim que o mundo mudou". (Fritjof Capra)

*A autora do texto pedagoga especialista em Desenvolvimento Local pela Organização Internacional do Trabalho em Turim, pós-graduada em Gestão do Terceiro Setor. É especialista em Treinamento e Técnicas de Aprendizagem pela John Hopinks University e colaboradora do Senac São Paulo há 6 anos nas áreas de desenvolvimento social, Redes Sociais e Capacitação de Gestores.


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