sábado, 18 de agosto de 2007

Empresários de São Paulo debatem iniciativas de inclusão de pessoas com deficiência

Susana Sarmiento
Publicado pelo
Setor3 em 10/08/07

Entre os dias dois e quatro de agosto, mais de 40 empresas de variados setores e 128 palestrantes estavam na Mostra Sistema Fiesp de Responsabilidade Socioambiental para discutir três grandes temas: Sustentabilidade, Meio Ambiente e Economia. O evento foi uma iniciativa do Comitê de Responsabilidade Social (Cores), da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

"Esta Mostra é um marco, um sinal dos tempos. Com isso, vemos que de fato as pessoas notam a importância do tema. O futuro dos negócios são negócios sustentáveis. Para você ganhar dinheiro, não precisa negligenciar os fatores socioambientais. As empresas que administram seu todo são bem vistas pela sociedade. E se cada uma olhasse a questão ambiental e social, estaríamos bem melhor", afirma Fábio Barbosa, presidente da ABN Amro Bank.

Durante a cerimônia de abertura do evento, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, reforçou que o mundo caminha na direção de projetos de preservação do meio ambiente e a necessidade de sinergia com diferentes áreas. "Este evento tem a mesmo espírito que o Projeto Cidade Limpa. Por dia, temos cerca de três mil manifestações encaminhadas a prefeitura para denunciar irregularidades. O poder público tem o papel de fiscalizar, enquanto o poder privado assume uma função empreendedora. Aqui nasce uma nova Fiesp", observa.

"Antes de banqueiros, somos pessoas", reforça Paulo Skaf. O presidente da Fiesp deu as boas-vindas aos participantes e ressaltou aos empresários a necessidade de construírem um mundo sustentável junto com a sociedade.

Inclusão Econômica
O painel Diversidade Social e Inclusão Econômica reuniu Luiza Russo, presidenta do Instituto Paradigma, Sergio Amoroso, presidente da Fundação Orsa e do Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer (GRAACC), Bruno Alvim, vice-presidente do Conselho Consultivo da ONG Integrare – Centro de Integração de Negócios, e Mara Cristina Gabrilli, ex-secretária da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida da Prefeitura da Cidade de São Paulo, de 2005.

Luiza contextualizou a deficiência e mostrou o como o Instituto Paradigma atua na qualificação profissional dos deficientes. A Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) articula projetos, intermedia e dá assessoria de gestão de projetos na inclusão educacional e econômica. Para isso, há grupos de trabalho focados na criação de políticas públicas inclusivas, programas para alunos com deficiência em salas regulares, formação de professores, apoio na acessibilidade e viabilizar recursos para articular parcerias entre instituições públicas e privadas.
Quanto à inclusão econômica, o Paradigma atua no desenvolvimento de projetos corporativos focados na inclusão de pessoas com deficiência e com pouca experiência no mercado formal.

Luiza informa que cerca de 6,3 milhões dos habitantes de todo mundo são deficientes, representando 10% do total. Desses cerca 85% vivem em países em desenvolvimento e em situação de vulnerabilidade social. No Brasil, eles são 4,5% da população nacional. Eles se concentram geralmente na região Sudeste (39%).

"Dos quase quatro milhões de estudantes universitários matriculados nas instituições de Ensino Superior apenas 5.078 são pessoas com deficiência, representando 0,12% do total", informa a presidenta do Instituto. Ela defende que um grande parceiro para o processo de inclusão desta população é o setor privado, já que o setor público disponibiliza de programas, mas estes não se efetivam se não trabalharem em sinergia. Reforça ainda que a área de Terceiro Setor se especializou no cuidado com os deficientes, ajudando na produção de políticas públicas.

Em 2003, o Estado de São Paulo tinha 22% da população economicamente ativa, sendo 600 mil com algum tipo de deficiência. Luiza revela que, de acordo com dados da Delegacia Regional do Trabalho, o número de contratos para deficientes subiu nos últimos anos. Em 2001, havia 601pessoas com deficiência. Hoje há 60.506 pessoas com deficiência estão contratadas. Este fenômeno se deve à Lei de Cotas, estabelecida na lei 8213/91, que determina percentuais de contratação de 2 a 5% do total de trabalhadores e em diferentes áreas da organização.

Esta medida impacta diretamente na atuação das empresas na hora de contratar uma pessoa com deficiência. "Observamos através dos debates que as empresas têm necessidade de soluções coletivas, porque o problema não será resolvido de forma individual", pontua.

Sérgio Amoroso apresentou os programas da Fundação Orsa. Criada em 1994, a Fundação iniciou com pequenos projetos locais isolados para depois desenvolver programas sociais maiores. Explicou como as empresas do Grupo Orsa destinam 1% do faturamento anual bruto de suas empresas para a instituição. Esse compromisso, conhecido como Recurso Semente, viabiliza estratégias, gestão e planejamento à longo prazo.

Sobre a questão agrária, Sérgio contou o objetivo do programa de geração de renda para as comunidades rurais, que estimulam fixar os trabalhadores rurais em suas cidades. "O campo do Brasil dá muita oportunidade. Dividir é ver com todos os atores envolvidos a melhor saída. Não adianta fazer a mesma coisa que o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. Eles reivindicam um pedaço de terra, mas depois o trabalhador se torna novamente um pequeno proprietário rural. A situação não muda", critica.

Outro programa da Fundação é o Programa de Atendimento Humanizado ao recém-nascido por meio do método Mãe Canguru. Esta prática é conhecida por ser um tipo de assistência neonatal que implica no contato pele a pele precoce entre a mãe e o recém-nascido de baixo-peso. Esse contato permite a evolução da criança em posição canguru, posicionamento do bebe em decúbito prono, na posição vertical, contra o peito do adulto, que pode ser mãe ou outro familiar.

O representante da Integrare, Bruno Alvim, contou a história da ONG que promove negócios entre minorias com poder privado. "Tentamos trazer as empresas para nossos negócios. Geralmente, as empresas são pouco preparadas e tentamos ajudá-las. Mais importante que dividir a renda da sociedade é dividir as oportunidades das empresas para as pessoas com deficiência. Isso faz a gente caminhar", opina.

A Integrare trabalha de três formas. Primeiro capta recursos com os associados, depois divulga os cases de sucesso para estimular outras empresas a participarem do mesmo processo de inclusão. E, finalmente, a ONG ajuda no desenvolvimento das iniciativas destas empresas. No Brasil, a organização conseguiu sete milhões de dólares em negócios focados na inclusão do deficiente, enquanto a sede da ONG, nos Estados Unidos, atingiram 80 bilhões de dólares. "Se todos fizessem um pouco mudaria a história do País", pontua Bruno.

O debate contou com o depoimento de Mara Cristina Gabrilli, ex-secretária da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida da Prefeitura da Cidade de São Paulo, que assumiu em 2005. Há 13 anos a psicóloga e publicitária sofreu um acidente de carro, que causou uma lesão medular e a deixou tetraplégica. Fez seu tratamento nos Estados Unidos e quando retornou ao Brasil notou a falta de informação e conhecimento de grande parte da população sobre deficiência. "Mais de 25 mil pessoas são excluídas por terem mobilidade reduzida. São idosos, gestantes e os deficientes. Na cidade de São Paulo, entre 11 mil habitantes cerca de três mil são pessoas com deficiência. É difícil sair de casa, você precisa ter equipamentos para facilitar a locomoção", revela.

Em 1997, Mara criou a ONG Projeto Próximo Passo (PPP), que auxilia deficientes físicos e financia pesquisas de curas. Percebemos que os atletas deficientes tinham dificuldade de chegar ao treino", justifica. Ela ainda explica que nos últimos 20 anos a própria iniciativa da Secretaria foi responsável por diversas ações, porém foram pulverizadas e pontuais – como a construção de calçadas, ruas e quarteirões mais acessíveis.

"A Secretaria Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida teve uma função mais pedagógica dentro da Prefeitura de São Paulo, pois a maioria desconhecia os problemas dos deficientes. Cerca de 10% dos cegos sabem braille e cada 20 mil nascidos em São Paulo são anões. Ninguém sabe destes dados. Todos nós somos humanos, muitos se baseiam pela aparência. Todos são agentes sociais. A barreira física não é a questão mais complicada. O mais difícil é a barreira da atitude, devido à falta de informação. Não temos que ter vergonha de ter preconceito, mas de não querer eliminá-las", esclarece Mara.

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Serviço:

Instituto Paradigma
www.institutoparadigma.org.br

Integrare
www.integrare.org.br

Projeto Próximo Passo
www.ppp.org.br


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