terça-feira, 19 de junho de 2007

Política pública é o que falta para deslanchar o uso de energias renováveis no Brasil

Paula Scheidt, CarbonoBrasil
Publicado pela Revista Envolverde em 19/06/07

O desenvolvimento da indústria de energias limpas no Brasil depende da vontade política, pois muita coisa já esta sendo feita e há ainda muito que se fazer. Esta é a opinião do presidente do Instituto para o Desenvolvimento de Energias Renováveis da América Latina (IDEAL), Mauro Passos. “Temos um potencial enorme na América Latina, porém faltam políticas públicas, pesquisas e tecnologias, que dependem das pesquisas. Sem uma legislação apropriada ninguém vai investir”, afirma o engenheiro.

Um exemplo dado por Passos é permitir a comercialização de energia de produção própria para a rede do município, o que acontece na Alemanha. Lá, muitos cidadãos instalam sistemas de energia solar na residência e podem vender o que não consomem para a rede pública. Segundo o engenheiro, o custo da instalação do sistema é pago em seis anos com esta espécie de compensação.

Passos lança um desafio para o Brasil. Por que não isentar de impostos iniciativas privadas de uso de energia renovável. “Hoje quase 40% do custo é imposto e, com esta medida, aproximaríamos rapidamente o custo ao da energia fóssil”, diz. Sobre os custos, por sinal, ele lembra que os investimentos são os mesmos para a instalação de um sistema de painéis solares aqui e na Alemanha, por exemplo. Nos últimos dez anos o preço das energias limpas vem caindo, uma tendência que deve continuar até a curva de valores alcançar o dos combustíveis fósseis.

A idéia é incentivar a produção em pequena escala, pois a energia renovável é por excelência descentralizada. “Nós brasileiros temos a mania do grande, como grandes hidrelétricas. Temos que nos reeducarmos para esta nova situação dos pequenos produtores”, destaca. No País há um grande potencial de PCHs (Pequenas Centrais Hidrelétricas) 21,43 MW a ser explorado, em uma fonte de pouco impacto sócio-ambiental e baixos investimentos.

Membro do conselho Mundial de Energias Renováveis (WRCE), com sede na Alemanha, Passos conhece de perto a realidade deste país que é referência no uso de fontes renováveis. Em uma recente visita a Alemanha, ele participou de um debate em um centro comunitário agrícola de uma pequena cidade onde, em pleno sábado à noite, o grupo de agricultores se reuniu para assistir ao filme “Uma verdade inconveniente” (de Al Gore) e discutir a questão das mudanças climáticas. “A grande vitória do governo alemão é o convencimento. A consciência é outra”, diz.

Esta foi uma das questões destacadas por Passos, que reitera ser preciso pensar diferente e mudar a mentalidade brasileira. O engenheiro lembra que na hora de desenvolver o plano diretor da cidade, planejar uma nova usina energética ou mesmo uma casa, a nova geração de profissionais brasileiros não deve seguir velhos padrões e sim empregar o diferente e levar em consideração a grande questão energética do mundo.

Através de gráficos do IBGE, Passos mostra que o consumo energético brasileiro está sempre acima do PIB. “Há uma questão de eficiência a ser trabalhada. O Brasil tem quase que cultural esse lado do desperdício. Teremos que ter uma nova geração para encarar com mais consciência isso”, afirma.

Crédito da imagem: Power Naturally.org


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