quarta-feira, 6 de junho de 2007

Divergência sobre clima é total às vésperas do G-8

Assis Moreira
Publicado no Valor Online em 06/06/2007

A premiê alemã, Angela Merkel, resolveu deflagrar uma operação de última hora e encontrará individualmente cada um dos lideres dos países ricos membros do G-8, antes da reunião de cúpula que começa hoje à noite, na busca de compromisso em torno de estratégia de combate as mudanças climáticas. Por ora, não há acordo entre europeus e americanos.

Merkel receberá o presidente George Bush para almoço hoje em Heiligendamm, e insistirá num entendimento. Um porta-voz da premiê estima que um plano de ação terá de passar pelo crivo de uma reunião entre "13h e 14h30" na sexta, envolvendo líderes do G-8 e do G-5 (Brasil, China, Índia, México e Africa do Sul).

Os alemães visivelmente procuram baixar as expectativas de que o G-8 anunciará um plano original e ambicioso. "A expectativa sobre o clima foi alta demais desde o começo", resignou-se o secretário de Estado Bernd Pfafenbach. Mas eles martelam que Merkel já obteve "um sucesso", ao fazer EUA e China acenaram com engajamento no combate aos gases que causam o efeito estufa. Na semana passada, o presidente Bush propôs que os 15 maiores países poluidores estabeleçam suas próprias metas, numa conferencia no final deste ano.

Num encontro com a imprensa, ontem em Berlim, assessores do governo alemão apresentaram um documento com nove pontos sobre o que deve ser discutido de hoje até sexta-feira no G-8. A questão do combate ao clima está ausente, refletindo a enorme divergência entre os alemães e os americanos.

Para o governo alemão, um compromisso firme de luta contra a mudança climática deve limitar o aquecimento global a 2ºC. Isso exigiria cortar as emissões de gases nos próximos 10 a 15 anos, seguido por substancial emissão global de cerca de 50% até 2050 comparado aos níveis de 1990. Os EUA não se comprometem com metas.

O plano chinês de redução das emissões, anunciado anteontem, foi recebido como uma mensagem de que a economia vem antes do meio ambiente. A mensagem do Brasil, na interpretação de funcionários alemães, é um pouco diferente: prevê que manter a competitividade econômica é tão importante quanto proteger o ambiente.

O G-8 deverá enfatizar planos de eficiência energética que, segundo Berlim, pode reduzir custos em mais de 100 bilhões de euros por ano.

As divergências prosseguiam também sobre a questão de definir novas metas para a ajuda ao desenvolvimento e recursos para programas de combate a Aids na África. A reunião do G-8 no Reino Unido, há dois anos, estabelecera meta de US$ 50 bilhões de ajuda até 2010, mas organizações não governamentais dizem que, pelo ritmo atual, o montante será US$ 30 bilhões inferior.

Tampouco haverá decisão sobre mecanismo de transparência para os fundos hedge, fundos especulativos que movimentam atualmente US$ 1,6 trilhão, ao contrário do plano defendido por Berlim.

O G-8 deverá, por outro lado, prometer transferência de tecnologia para os países em desenvolvimento, incluindo para a segunda geração de bicombustíveis. Para o Brasil, não há nada de novo, já que a transferência de tecnologia já está prevista nas convenções internacionais sobre o clima.

A reunião de cúpula começa hoje à noite, num elegante hotel nas margens do Mar Báltico, com um jantar de boas-vindas, antecedido por um concerto de um grupo local, que tocará Bach e Beethoven.

O site oficial da cúpula é http://www.g-8.de/


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