quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Estudo revela pontos críticos em gestão de ONGs

Um universo de 161 organizações não-governamentais (ONGs) foi alvo de estudo que mostrou que ações de meio ambiente e de relacionamento com stakeholders não são expressivas no seu contexto de gestão. A pesquisa revelou que as ONGs não se ocupam com questões que se afastam da sua missão direta.

Para a consultora na área de desenvolvimento organizacional no setor sem fins de lucro Rosana Kisil, “as ONGs não demonstraram reconhecer no meio externo uma fonte de energia que pode potencializar sua ação”. Ao contrário, demonstraram que as atividades diretamente ligadas ao seu público, seus funcionários, seu ambiente físico e sua administração de recursos são preponderantes sobre aquelas relacionadas à articulação com o meio externo.

Em A aderência entre o constructo da sustentabilidade e a prática das ONGs, dissertação apresentada na Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP), Rosana identifica a intensidade com que uma organização segue os conceitos relacionados à sustentabilidade no seu universo de trabalho.

Os tradicionais elementos que só se aplicam às empresas como lucro e produção limpa foram substituídos por elementos equivalentes nas ONGs, como produção de resultados e inovação metodológica. Para Rosana, a existência de indicadores de sustentabilidade pode induzir o comportamento do setor e amadurecer práticas de gestão.

A pesquisa
Depois de entrevistar 87 ONGs à análise de 26 indicadores agrupados em seis critérios que compõem o constructo da sustentabilidade (Governança; Inovação; Produção de Resultados; Gestão e Impacto Econômico-Financeiro; Gestão Social; Gestão, Educação e Impacto Ambiental), a pesquisadora submeteu os resultados a um grupo de especialistas que discutiu hipóteses e pontos importantes que emergiram.

Uma das revelações é que, na prática, essas ONGs ignoram tópicos fundamentais da sustentabilidade, como a proatividade na gestão de parcerias ou a gestão do componente ambiental. “Os entrevistados não consideram a gestão ambiental nem no quarteirão onde estão situados como organização”, explica Rosana.

Outra hipótese que surgiu do estudo foi a da homogeneização dos discursos e ferramentas de gestão. “Cada vez mais vemos ONGs incorporarem ferramentas, indicadores e linguagens de empresas em seus programas de gestão”, afirma Rosana. Elas utilizam, por exemplo, palavras como capacidade de aprendizagem, balanced scorecard e governança (integradas ao universo corporativo por meio do conceito de sustentabilidade) para se adequar ao modelo contemporâneo de gestão. “A popularidade da sustentabilidade confere àqueles que a enunciam um tom moderno e responsável ou a impressão de um comportamento organizacional maduro”, destaca a pesquisadora.

Com a adoção de práticas e vocabulário do triple bottom line, as instituições do terceiro setor buscam diálogo e legitimidade na sociedade, participando de maneira competitiva do mercado de captação de recursos. Como resultado, ocorre o que ela chama de “síndrome da sustentabilidade”, a partir da qual as organizações apresentam um discurso, mas atuam apenas num conjunto de sintomas cuja causa não é clara.

A preocupação cada vez maior do terceiro setor de se apresentar a partir dos critérios de sucesso do mundo corporativo cria confusão entre os diálogos intersetoriais. “Os conceitos ficam mal operacionalizados e compreendidos”, aponta. Fica evidente, por exemplo, a confusão entre os conceitos de sustentabilidade e sustentação organizacional, este último indicando apenas a apenas a capacidade operacional e financeira para se posicionar competitivamente no mercado.

Para a autora, ao mesmo tempo em que nivela o setor por alto, o compartilhamento de critérios e estratégias prejudica a criatividade. “Ao ter o mesmo discurso das empresas, as ONGs perdem a rebeldia saudável de reagir ao lugar comum”, Rosana acredita. Segundo a sociologia, o processo (denominado isomorfismo organizacional) pode ser condicionado tanto pela cópia e imitação de práticas bem sucedidas como pela onda de profissionalização do setor, que vem crescendo e buscando legitimação no mercado.

Leia o estudo na íntegra.


Fonte: IDIS
ABCR, 18/11/09


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