sábado, 27 de setembro de 2008

Tudo que é sustentável tem o padrão de rede

..."os departamentos de responsabilidade social das empresas estão tentando juntar ações setoriais que não têm muita relação entre si, como se combinando 800 miligramas de operação econômica, com 150 miligramas de preocupação ambiental e 50 miligramas de ação social, pudéssemos desencadear algum tipo de reação química capaz de catalisar um processo sustentável."

No segundo volume da série Escola de Redes, procuro mostrar quais são os principais desafios colocados para as empresas que quiserem se manter na busca da sustentabilidade neste início do século 21.

Na ‘Carta Rede Social 171’ apresentei um breve resumo das idéias que aparecem em dois livros que acabei de escrever para a Escola-de-Redes: “Novas visões sobre a sociedade, o desenvolvimento, a Internet, a política e o mundo glocalizado” e “Tudo que é sustentável tem o padrão de rede: sustentabilidade empresarial e responsabilidade corporativa no século 21”.

Vou apresentar agora mais um pouco do conteúdo do segundo livro, que começa com uma observação até certo ponto desconcertante: os departamentos de responsabilidade social das empresas estão tentando juntar ações setoriais que não têm muita relação entre si, como se combinando 800 miligramas de operação econômica, com 150 miligramas de preocupação ambiental e 50 miligramas de ação social, pudéssemos desencadear algum tipo de reação química capaz de catalisar um processo sustentável. Ora, isso é desconcertante porque, infelizmente, ao que tudo indica, fórmulas como essa não poderão produzir 1 grama de sustentabilidade.

No segundo volume da série Escola de Redes, procuro mostrar quais são os principais desafios colocados para as empresas que quiserem se manter na busca da sustentabilidade neste início do século 21 a partir de uma única constatação básica: a de que tudo que é sustentável tem o padrão de rede.

Sim, tudo que é sustentável tem o padrão de rede. Todas as evidências disponíveis corroboram essa afirmativa. Ecossistemas, organismos vivos e partes de organismos são os melhores exemplos de entidades sustentáveis. E todos esses tipos de sistema têm o padrão de organização de rede: estruturam-se e funcionam como redes. Essa constatação nos leva a duas conclusões.

A primeira conclusão é a de que se tudo que é sustentável tem o padrão de rede, então devemos abandonar agora nossas velhas maneiras de tratar a questão, desvencilhando-nos daquelas idéias e tentativas de formular teorias sobre a sustentabilidade que não tenham como foco a organização, a estrutura e a dinâmica de rede.

O que não devemos fazer?
Eis um elenco de dez idéias (ou crenças) e práticas (ou comportamentos) sobre sustentabilidade empresarial que devemos abandonar. Freqüentemente, elas têm nos levado a cometer equívocos quando tentamos:

===> Reduzir a sustentabilidade à sua dimensão ambiental.

===> Dirigir todas as nossas preocupações com a sustentabilidade para “salvar o planeta”.

===> Avaliar que o que está em risco é apenas a vida como realidade biológica.

===> Encarar a sustentabilidade como resultado da soma artificial de ações setoriais (econômicas, ambientais e sociais) que têm como objetivo garantir que a empresa continue dando lucro.

===> Tomar a sustentabilidade como uma espécie de programa (ou conjunto de idéias) que possa ser aplicado independentemente de ação política.

===> Imaginar que a sustentabilidade pode ser obtida por meio do exercício tradicional da responsabilidade social.

===> Pensar que a sustentabilidade é um objetivo a ser alcançado no futuro.

===> Definir sustentabilidade como durabilidade.

===> Tentar encontrar uma fórmula ou um caminho para que a sustentabilidade seja alcançada.

===> Acreditar que a sustentabilidade será alcançada se fizermos alguma coisa a mais sem mudar realmente nosso modo de ser.

É preciso analisar por que tais crenças e comportamentos devem ser abandonados se quisermos atingir o coração da idéia de sustentabilidade e enfrentar os desafios colocados por suas exigências.

A segunda conclusão é de que se tudo que é sustentável tem o padrão de rede, então, temos que parar de ficar contornando o problema e ir direto ao ponto. Vamos falar a verdade: as empresas não estão organizadas como redes. Elas não têm um funcionamento compatível com a estrutura de rede. Logo... as empresas não são sustentáveis. Ponto.

O que devemos fazer?
Qualquer pessoa ajuizada dirá que não é viável desmontar os modelos de gestão hierárquicos atuais ? predominantemente baseados em comando e controle, mas que mal ou bem estão funcionando ? sem ter o que colocar no lugar. A mudança para uma empresa-rede não poderá ser feita abruptamente ou de uma vez. O que significa que um novo padrão (em rede) terá de surgir convivendo com o velho padrão (hierárquico) e que, portanto, deverá haver uma transição.

Mas o que é necessário fazer para iniciar uma transição da organização-mainframe para a organização-network?

===> Em primeiro lugar, procurar saber o que é uma rede, como ela se organiza, estrutura-se e funciona e procurar conhecer as relações entre seu funcionamento (fenomenologia da rede) e sua estrutura (topologia).

===> Em segundo lugar, procurar saber o que é uma rede social (pois as empresas são organizações sociais) e aprender a fazer netweaving em redes sociais, quer dizer, aprender como articular e animar essas redes.

===> Em terceiro lugar, tentar, então, aplicar esses conhecimentos para iniciar a transição da empresa-pirâmide para a empresa-rede. Em muitos casos, a empresa-pirâmide é quase monárquica, regida por modos de regulação autocráticos, próprios das estruturas verticais de poder baseadas em comando-execução, ordem, hierarquia, disciplina, obediência, vigilância e sanção, enquanto a empresa-rede é regida por modos de regulação democráticos, mais compatíveis com a estrutura de rede distribuída.

E depois?
Conquanto possa ser surpreendente, a única resposta para essa pergunta é a seguinte: se quisermos ir direto ao ponto, não há o que fazer depois. Por quê? Porque, na verdade, não sabemos, e, provavelmente, nem possamos fazer mais nada, além disso.

É o necessário. Alguém pode retrucar que o necessário nem sempre é suficiente. Sim, mas se o necessário não for feito, será inútil querermos fazer o suficiente para alcançarmos a sustentabilidade.

Tudo que é sustentável tem o padrão de rede, essa é uma condição fundamental. Devemos, portanto, concentrar nossos esforços para obtermos tal condição.

Repetindo para concluir: se quisermos constelar condições mais favoráveis à sustentabilidade das organizações humanas, precisamos entender as redes, procurar saber como elas se organizam, se estruturam e funcionam. E, a partir daí, então, aprender a fazer netweaving.

Bem, esta é a razão de ser da Escola-de-Redes. Não deixe de ler no final desta carta um convite para que você também se conecte a essa iniciativa.

Até a ‘Carta Rede Social 174’ e um abraço do

Augusto de Franco
augustodefranco@gmail.com

25 de setembro de 2008.

Para ler e comentar as ‘Cartas Rede Social’, ex-‘Cartas Capital Social’ (e antigas ‘Cartas DLIS’) e outros textos de Augusto de Franco, publicados a partir do final de 2005, clique em www.augustodefranco.com.br


UM CONVITE
Amanhã, dia 26 de setembro de 2008, das 9 às 12 horas, haverá o lançamento do Nodo-de-São-Paulo da Escola-de-Redes. Será na sede da Fecomercio (Rua Dr. Plínio Barreto, 285, 3º andar, São Paulo, Brasil).

Além do Nodo-de-Curitiba (o primeiro, lançado em 21 de junho passado) e do mencionado Nodo-de-São-Paulo, temos vários novos nodos em preparação, como o de Porto Alegre (previsto para outubro próximo) e o de Brasília (ainda sem data). E temos também outros nodos sendo organizados ou cogitados: o de Santa Fé (Argentina), o de Belém, o de Bogotá (Colômbia), o de Berlim (Alemanha) e, quem sabe (pois ainda não é certo), o de Seattle (USA).

Do que se trata? Nada mais do que uma articulação de pessoas, em rede distribuída, para promover o aprendizado individual e coletivo sobre redes sociais. A Escola-de-Redes é um misto de escola (ambiente favorável à realização de processos educativos) e think tank, ambos organizados em rede. É uma coligação de pessoas e grupos que integram comunidades de projeto e de prática, de aprendizagem e de pesquisa.

Embora se chame Escola-de-Redes, trata-se, na verdade, de uma não-escola. Como mostra a logo escolhida: E = R, quer dizer: a escola é a rede. Em palavras: se a escola já é a rede, para que escola? Se a própria rede é uma escola...

A Escola-de-Redes não é uma organização hierárquica nem uma articulação centralizada ou descentralizada de instituições ou organizações formais. Em última instância, são “apenas” pessoas, conectadas em rede, que cooperam entre si para investigar temas relacionados à redes sociais, compartilham voluntariamente seus conhecimentos, divulgam e aplicam os produtos que desenvolveram.

Que tal? Porque você também não se conecta à Escola-de-Redes?


PARA SE CONECTAR À ESCOLA-DE-REDES
Para se conectar à Escola-de-Redes não é necessário participar de um nodo. Qualquer pessoa pode se conectar individualmente: basta clicar em www.redes.org.br e deixar uma mensagem. Até agora temos 111 pessoas conectadas. Para ver a relação clique no link abaixo:
http://escoladeredes.org.br/?page_id=14


PARA ABRIR UM NOVO DA ESCOLA-DE-REDES
Qualquer grupo de pessoas pode abrir um nodo da Escola-de-Redes. Os nodos da Escola-de-Redes são os grupos locais de pessoas conectadas que constituem a escola. A escola é cada nodo e todos os nodos. Cada novo nodo tem total autonomia para estabelecer sua própria agenda de atividades, sua estrutura e seu regime de funcionamento, desde que assuma os objetivos da Escola-de-Redes, não se organize segundo padrões hierárquicos e conte com a concordância dos nodos já existentes.

Quais são os objetivos da Escola-de-Redes? A investigação teórica e a disseminação de conhecimentos sobre redes sociais e à criação e transferência de tecnologias de netweaving.

O que significa não se organizar segundo padrões hierárquicos? Significa adotar um padrão de rede distribuída (nem centralizada, nem descentralizada) de pessoas. Ou seja, não vale “rede” de instituições, organizações, entidades, empresas, ONGs etc. Não pode ter presidente, governador, secretário-geral, diretor, coordenador ou assemelhado.

Como obter a concordância dos nodos já existentes? Basta deixar uma mensagem - em www.redes.org.br - propondo a criação de um novo nodo. Para tanto é necessário informar o nome do novo nodo e a sua localização: cidade em que está situado e sites, blogs e outros meios virtuais que utiliza para a interação entre seus integrantes. As pessoas que compõem o nodo devem estar conectadas à Escola-de-Redes. O novo nodo existirá se (e enquanto) for reconhecido como tal pelos nodos já existentes. Entretanto, os nodos já existentes não poderão reconhecer um novo nodo se não souberem porque ele está sendo constituído e o que as pessoas que o compõem pensam sobre os objetivos da Escola-de-Redes. Assim, é bom que ao constituir um novo nodo, seus integrantes declarem no seu próprio site (ou no blog www.redes.org.br) sua motivação e sua visão coletivas.

Os interessados em abrir nodos da escola em outras localidades devem tomar a iniciativa, enviando uma mensagem para www.redes.org.br


AS ATIVIDADES DA ESCOLA-DE-REDES
Livros. A Escola-de-Redes = Nodo-de-Curitiba vai lançar dois livros (autorais) simultaneamente, agora no final de setembro ou início de outubro de 2008. São eles:
"Escola de Redes: Novas Visões sobre a sociedade, o desenvolvimento, a Internet, a política e o mundo glocalizado"
"Escola de Redes: Tudo que é sustentável tem o padrão de rede. Sustentabilidade empresarial e responsabilidade corporativa no século 21"

Novos títulos (também autorais, de pessoas conectadas à escola) estão sendo pensados. E também algumas traduções.

Revista de Redes. A Escola-de-Redes está organizando uma publicação bimensal virtual – de Domínio Público – contendo artigos inéditos sobre o tema. Anualmente os artigos publicados nas seis edições da revista serão editados na forma de libro (papel).

Encontros. Uma Conferência Internacional sobre Redes Sociais, inicialmente prevista para o início de dezembro de 2008, deverá ser adiada por motivos logísticos. Ainda não temos a nova data, mas provavelmente será no início de julho de 2009.

Cursos. Cursos básicos sobre netweaving em redes sociais estão sendo programados pelo Nodo-de-Curitiba para o início de 2009. A programação dos outros nodos deve ser acompanhada no site www.redes.org.br

Biblioteca. Está sendo organizada uma biblioteca virtual geral da Escola-de-Redes, contendo textos digitalizados que poderão ser baixados pelos conectados em PDF ou HTML. Um dos serviços da biblioteca será a construção de itinerários de leituras fundamentais (indicações de livros, artigos e vídeos que constituíram caminhos peculiares de leituras e referências importantes de pessoas e grupos criativos que participaram ou participam da investigação ou da experimentação de redes sociais). Os diversos nodos da Escola poderão organizar bibliotecas físicas em espaços de reflexão e discussão (lectoria).

Esta carta é um convite, para que você também se conecte e, se for o caso, organize um novo nodo da Escola-de-Redes na sua cidade.


Augusto de Franco
‘Carta Rede Social’, ex-‘Carta Capital Social’ (e antiga ‘Carta DLIS’) é uma comunicação pessoal de Augusto de Franco enviada quinzenalmente, desde 2001, para milhares de agentes de desenvolvimento e outras pessoas interessadas no assunto, do Brasil e de alguns países de língua portuguesa e espanhola. A presente 'Carta Rede Social 173' está sendo encaminhada para 14.201 destinatários.
Carta Rede Social 173, 25/09/08


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