terça-feira, 15 de abril de 2008

Fundraising

Desde cedo a filosofia do “Fundraising”, que significa captação de recursos sem fins lucrativos, é largamente difundida na sociedade americana. A começar pelas escolas. Já nos primeiros anos do nível elementar de escolaridade, as crianças aprendem que precisam conseguir dinheiro para um evento ou uma instituição de caridade que pode ser de atendimento à carentes ou doentes graves.

Para isso, os alunos são motivados a vender produtos de catálogos de empresas que fazem parceria com as escolas para disponibilizarem seus produtos com doações ou preços mais em conta através do fundraising.

Lembro-me bem de uma amiga brasileira que chegou à Flórida para morar com o marido e dois filhos pequenos. Já no primeiro mês de escola pública do menino, que na época tinha cinco anos, ele trouxe para casa uma relação de produtos que precisava vender na vizinhança para arrecadar fundos para um evento da escola. Ela que tinha acabado de chegar e conhecia pouco os hábitos americanos, estranhou o fato, achando que o filho teria que virar um verdadeiro pedinte na porta das pessoas. Por isso, preferiu, ela mesma, dar logo o dinheiro que o menino precisava para cumprir a meta estabelecida pela escola, do que vê-lo de porta em porta, vendendo mercadorias que ele nem mesmo conhecia.

Essa minha amiga, por total desconhecimento do que representa o fundraising, fugiu completamente dos objetivos dessa filosofia meio caseira de arrecadar fundos. Hoje, depois de muitos anos com filhos formados, ela entendeu o chamado “espírito da coisa” . Não só ela, mas muitas mães, que por algum motivo não entendiam esse mecanismo, hoje participam ativamente das campanhas, indo elas mesmas à luta para captar recursos.

Recentemente, meu filho de quinze anos, que está se encaminhando para o penúltimo ano do high-school, equivalente ao segundo grau no Brasil, participou de um fundraising destinado a American Cancer Society, onde a arrecadação minima era de 50 dólares. Ele conseguiu um pouco mais do que esse valor e por isso, ganhou algumas horas de serviço comunitário que vão ajudá-lo, mais tarde, a conseguir uma bolsa de estudos numa universidade americana.

Mas em meio a milhares de alunos da escola, uma se destacou. O nome dela é Paula, tem 17 anos, é também brasileira e perdeu o pai de câncer, há um ano. Ela, assim como os outros alunos, participou da mesma campanha, só que com uma diferença, Paula sofreu na pele a perda de uma das pessoas que mais amava no mundo e arrecadar fundos para ajudar a sociedade do câncer era como se estivesse fazendo algo em memória do pai. Algo que, segundo ela, ele faria com toda a sua generosidade e amor ao próximo.

Sei que é difícil se insitucionalizar essa filosofia da arrecadação de fundos sem fins lucrativos no Brasil. Aliás, milhões de Ongs já fazem isso pelo mundo inteiro. Mas, gostaria apenas de ressaltar aqui a sinceridade e a emoção das palavras que essa jovem, já tão curtida pela dor da perda, conseguiu colocar numa carta que foi seu apelo para conseguir recursos.

Contando a sua história, com os detalhes de quem viveu uma das maiores dores da sua vida, ela sensibilizou a todos e conseguiu, por enquanto, mil dólares de fundos. Pode não parecer muito, mas o que está valendo como exemplo é a sua intenção de expor a própria dor para convencer as pessoas de que é preciso ajudar, colaborar, participar, ser solidário.

Leila Cordeiro
Publicado pelo Direto da Redação em 13/04/08


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