quarta-feira, 2 de abril de 2008

Apagar luzes para acender consciências

Os organizadores da campanha A Hora do Planeta calculam que cerca de 30 milhões de pessoas tenham desligado no sábado seus aparelhos elétricos durante uma hora, um sinal de que pequenas mudanças de habito podem minimizar, e muito, o aquecimento do planeta. “Com A Hora do Planeta pretendemos criar consciência comunitária, fazer com que maior quantidade possível de pessoas compreenda que ações simples podem reduzir suas emissões de gases causadores do efeito estufa”, disse Fiona Poletti, da filial australiana do Fundo Mundial para a Natureza (WWF), criadora da campanha.

Este ano, A Hora do Planeta – como ocorreu no ano passado, em sua primeira edição – girou em torno da simples ação de desligar totalmente as luzes e outros aparelhos elétricos durante uma hora, entre 20h e 21h do último sábado. A WWF Austrália diz que a contínua dependência da eletricidade produzida por usinas alimentadas com combustíveis fosseis são uma fonte importante de emissões de gases que causa o efeito estufa, responsáveis pelo atual ciclo de mudança climática. O aquecimento planetário deriva em uma elevação do nível do mar e aumenta a freqüência e gravidade de eventos climáticos extremos, como secas e tempestades.

O que faz de A Hora do Planeta um acontecimento único é que reúne governos, empresas e o cidadão comum. Trabalhando juntos, os lares ao longo das paisagens mais magníficas do mundo podem ter um impacto na luta contra a mudança climática”, disse o diretor-executivo da campanha, Andy Ridley. Com cerca de 370 cidades em todo o mundo dispostas a participar do grande apagão, Poletti disse à IPS que os organizadores de algum modo se surpreenderam com a popularidade ganha pela campanha. “Penso que a rapidez pegou todos de surpresa e que realmente todos no mundo estão observando uma responsabilidade mundial e um chamado à ação”, acrescentou.

A Hora do Planeta 2007 – iniciativa conjunta da WWF Australia, Fairfax Media e a agência de publicidade Leo Burnett Worldwide – aconteceu em Sidney, com a participação de mais de 2,2 milhões de habitantes dessa cidade australiana e 2.100 empresas. Mas, em 2008, a ponte sobre a baía de Sidney e a Opera House não foram as únicas paisagens famosas a ficarem às escuras. A Torre Sears na cidade de Chicago e a ponte Golden Gate em São Francisco, ambas nos Estados Unidos, e a Torre CN, em Toronto, no Canadá, ficaram envoltas pela escuridão a partir das 20 horas do sábado.

Cidades tão diversas como Suva, Manila, Copenhague, Telavive e Dublin também participaram, fazendo com que um acontecimento há um ano localizado em Sidney se convertesse em um movimento planetário. Poletti negou que a campanha seja meramente simbólica e ineficaz. “A noite real é essencialmente uma ação simbólica e busca mostrar as comunidade e ao setor empresarial o vínculo entre o uso de energia e a mudança climática. Apagando todos as luzes em um determinado momento, podemos medir isso”, disse à IPS.

A Horta do Planeta 2007 motivou uma queda de 10,2% no consumo energético – mais que o dobro do esperado pelos organizadores – em Sidney, livrando a atmosfera de aproximadamente 24,86 toneladas de dióxido de carbono. Segundo a WWF Australia, a redução de gases causadores do efeito estufa obtida na primeira edição da campanha se fosse mantida durante um ano equivaleria a tirar das ruas 48.616 automóveis pelo mesmo tempo. Porém, Poletti insistiu que a campanha é “muito mais ampla” do que apenas reduzir o consumo de energia por uma hora. “Ao educar as pessoas sobre as ações simples que podem realizar, animamos uma mudança de comportamento com impacto no longo prazo”, disse.

Os participantes são incentivados a verem A Hora do Planeta como um primeiro passo. Os organizadores querem que as pessoas assumam os princípios da campanha como parte da vida cotidiana. Ações como apagar as luzes ao deixar um cômodo vazio ou recorrer a fontes mais limpas de eletricidade, como as correntes marinhas, o vento, a biomassa e o sol, ajudarão a cumprir o objetivo de reduzir em 5% as emissões anuais de dióxido de carbono. Ao contar com a participação de conselhos municipais, escolas, empresas, domicílios e indivíduos, a WWF Austrália deposita a responsabilidade na comunidade como um todo para abordar a mudança climática.

A estimativa de participação de mais de 30 milhões de pessoas apenas no segundo ano da campanha ilustra a amplitude do chamado à ação sobre a mudança climática. “Penso que o fato de ter tantos envolvidos na Hora do Planeta é a medida da comunidade e do movimento da sociedade civil nesta área”, afirmou Poletti. Aproximadamente quatro milhões de pessoas se inscreveram através do site http://facebook.com, acrescentou, ressaltando que “isto demonstra que as pessoas realmente querem participar e fazer algo, e que os governos do mundo levem isto muito a sério”.

Gerente de projeto de A Hora do Planeta em Melbourne, Fiona Poletti adisse que os cidadãos estavam motivados a reduzir seu impacto sobre o meio ambiente no tocante ao uso de energia antes da implementação da campanha, mas não sabiam o que fazer exatamente. “A razão de ser criada A Hora do Planeta foi, em primeiro lugar, que os indivíduos não sabiam o que fazer, assim, esta campanha permitiu às pessoas começarem a reduzir suas próprias emissões. E, coletivamente, se reduz muito”, afirmou. Apesar dos passos gigantes dado pela campanha desde sua criação em 2007, Poletti disse que não existe um plano definido para o próximo ano. “Porém, a gigantesca resposta deste ano provavelmente garanta que algo será feito em 2009”, ressaltou. (IPS/Envolverde)


Stephen de Tarczynski, da IPS
Publicado pela Envolverde em 31/03/08

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