sexta-feira, 28 de março de 2008

Cresce no Brasil venda de iates de mais de R$ 1 milhão

Christiansen, da Spirit Ferretti: faturamento aumentou 60% em 12 meses
Foto David Dourado/Valor

Quem tem acompanhado a discussão internacional sobre captação de recursos sabe que o futuro, cada vez mais presente, está nos grandes doadores individuais (chamados no nosso jargão de major donors). Portanto, é cada vez mais importante acompanhar este tipo de notícia que nos diz "onde está o dinheiro" - nome de um novo marcador que inauguro com esta postagem.

Na onda do crescimento do consumo interno, o setor de barcos e iates de lazer vive um momento de euforia no Brasil. Ao largo da crise americana e da ameaça de algum efeito sobre a economia brasileira, a venda de barcos e iates tem explodido e a estimativa é de expansão de pelo menos 10% em 2008. "Nos últimos 12 meses, nosso faturamento cresceu 60%", diz Marcio Christiansen, presidente da Spirit Ferretti. A empresa brasileira é licenciada do grupo italiano Ferretti, o maior do mundo no segmento, e monta barcos e iates que custam, no mínimo, R$ 1 milhão.

Christiansen conta que seu público é aquele que está ficando rico com as aberturas de capital de empresas na bolsa. "Os executivos dos IPO's (ofertas públicas iniciais de ações, na sigla em inglês) são o nosso grande filão. Eles estão ganhando dinheiro em empresas beneficiadas pelo aumento da base de consumidores no país, em áreas como cosméticos, vestuário e alimentação", diz o empresário. Sua empresa importa kits da Itália e monta os barcos em um estaleiro em São Paulo.

Na outra ponta, surge o consumidor de classe média que, com mais mais crédito disponível e ganhos de renda, pôde entrar nesse mercado. "A base de consumo aumentou. Há barcos de R$ 30 mil, R$ 40 mil, R$ 50 mil. É o preço de um carro", diz Lenilson Bezerra, diretor-executivo da Associação Brasileira de Construtores de Barcos e seus implementos (Acobar).

No ano passado, foram produzidas no Brasil 3,9 mil unidades e a projeção é de que o total chegue a 4,2 mil em 2008. Para Bezerra, as condições de crédito têm ajudado a impulsionar esse mercado, que movimentou R$ 470 milhões em 2007.

Por conta do consumo interno mais forte, os fabricantes e montadores náuticos não sofreram tanto com o dólar desvalorizado, que provocou queda nas exportações. De 2006 para 2007, as vendas externas do segmento passaram de R$ 16 milhões para R$ 9 milhões e a expectativa é de que caiam ainda mais em 2008. As importações, por sua vez, tendem a aumentar. "Como as vendas estão em forte alta, chegamos a importar barcos inteiros", afirma o presidente da Spirit Ferretti, que espera vender em 2008 de 35 a 40 unidades, mas tem encomendas de alguns modelos para até 2011.

Segundo o presidente da Acobar, as vendas do segmento só não devem crescer mais porque há limites de capacidade de produção e de mão-de-obra. Como esse segmento é formado muitas empresas pequenas, é necessário haver uma maior consolidação para que elas passem a investir mais no aumento da capacidade, diz Bezerra.

Paulo Sérgio Renha, dono da brasileira Real Power Boats, estima crescimento de 30% no faturamento deste ano. A maior parte da sua clientela é considerada de luxo e compra barcos na faixa dos R$ 500 mil, mas ele já percebe uma maior movimentação na classe média alta. "O barco ficou mais acessível, conseguimos financiamento", diz ele, que vende barcos a partir de R$ 70 mil.

Em 2007, sua empresa, que fabrica peças e monta as embarcações em Nova Iguaçu, na região metropolitana do Rio, vendeu 336 unidades e a previsão é de crescimento de 40% em 2008.

Ana Paula Grabois
Publicado pelo
Valor Online em 28/03/08


Nenhum comentário:



Acesse esta Agenda

Clicando no botão ao lado você pode se inscrever nesta Agenda e receber as novidades em seu email:
BlogBlogs.Com.Br