quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Educação Brasileira - Consertos e Remendos - Nova edição revista, Claudio de Moura Castro

Célia de Gouvêa Franco
Publicado pelo Valor Online em 04/10/07


Moura Castro, em capítulo dedicado ao uso de novas tecnologias no ensino: problemas maiores estão nas pessoas e instituições que têm que conviver com elas

Nos últimos dias, foi grande a polêmica sobre os piores cursos de direito do país, uma lista de 37 faculdades que tiveram resultados muito ruins em dois "testes" de avaliação de qualidade de ensino, um o Exame Nacional de Desempenho do Estudante (Enade) e o segundo, o exame da Ordem dos Advogados do Brasil. A listagem, elaborada pelo próprio Ministério da Educação, é um retrato constrangedor e depressivo da situação do ensino superior no país. Esses 37 cursos de direito estão, em sua grande maioria, localizados nos dois Estados mais ricos do Brasil e formam um batalhão de quase 4 mil alunos por ano. No exame da OAB, nem 10% dos estudantes dessas faculdades conseguiram ser aprovados. No caso de cinco escolas, nenhum dos alunos que fizeram a prova da OAB conseguiu passar. Depois da divulgação dos dados do MEC, várias universidades procuraram defender seus cursos, em geral com explicações pífias.

Nas páginas de negócios dos jornais e revistas, as escolas também têm chamado a atenção, nesse caso pela decisão de vários donos de universidades de profissionalizar sua gestão e partir para uma oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês, que já foi incorporada ao jargão do mercado financeiro brasileiro) ou para a venda pura e simples da empresa. Parece ser um processo irreversível, como aconteceu com outros segmentos econômicos, como o da construção civil. Mas que, no caso da educação, levanta questões críticas - até onde os administradores de uma universidade ou de um colégio podem ir em termos de redução de custos e otimização de recursos sem afetar a qualidade do ensino? É possível mesmo trocar aulas ao vivo por ensino à distância - cujo custo é muito menor - de forma que os alunos aprendam e não apenas decorem fórmulas e conceitos?

As informações sobre os cursos de direito e sobre fusões e IPOs entre universidades mostram que o tema da educação se tornou ainda mais importante do que já era há alguns anos, ganhando novas dimensões. O Brasil venceu recentemente a barreira da universalização do ensino - ou está bem próximo disso -, mas continua muito longe de oferecer educação de qualidade para a esmagadora maioria das crianças e dos jovens. Se não fosse por outras razões, essas já seriam boas justificativas para o lançamento, pela editora Rocco, de uma nova edição, revista, de "Educação Brasileira - Consertos e Remendos", do economista, consultor e escritor Claudio de Moura Castro, que há anos se dedica a estudar os problemas da educação no país.

Ex-chefe da divisão de programas sociais do Banco Interamericano de Desenvolvimento, entre outros cargos que exerceu no setor público, há anos ele bate na tecla da necessidade de dar prioridade à educação, em especial ao ensino básico, que hoje - como há muito ocorre - perde para as universidades na divisão do bolo das verbas governamentais. Neste livro, ele reúne artigos publicados originalmente na imprensa e comenta, no prefácio para essa segunda edição, que pouco mudou desde 1993, quando "Educação Brasileira" foi lançado.

Um dos capítulos da obra, "As Trapalhadas do Ensino Superior", trata, como deixa claro seu título, dos muitos problemas das universidades no país, a começar pelo sistema adotado há bastante tempo pelo governo federal, segundo o qual existe basicamente um modelo único para as universidades e faculdades de todo o país, independentemente da região onde estão localizadas, das suas características de instalação e equipamentos de ensino disponíveis. Essa opção de governo engessou de tal forma o ensino superior que todos cursos superiores no país têm que se dedicar tanto ao ensino quanto à pesquisa. O que contraria o modelo seguido pelos países onde a pesquisa acadêmica mais avança, como nos Estados Unidos e na Europa.

Para Moura Castro, a saída para o impasse vivido pelo ensino universitário no país é a diversidade, é permitir que haja modelos diferenciados de escolas, é sancionar a concorrência entre as escolas. Para isso, ele defende que devem ser seguidos e reforçados três princípios fundamentais para o modelo do ensino superior ser bem sucedido no país: transparência (os alunos precisam saber o que cada faculdade oferece e a que custo), disponibilidade de informações sobre a qualidade de ensino e a adoção de um marco regulatório. No caso dos dois primeiros princípios, é uma receita que se aproxima dos mandamentos sugeridos às companhias que estão em processo de abertura de capital ou à procura de sócios, reforçando a tendência de as escolas se tornarem, cada vez mais, empresas, com todas as implicações, tanto negativas, como positivas, desse processo.

O livro não debate, claro, apenas a situação do ensino universitário. Mas é nesse extrato que estão ocorrendo mais rapidamente mudanças estruturais nas empresas que controlam escolas.

Educação Brasileira - Consertos e Remendos - Nova edição revista, Claudio de Moura Castro
Editora Rocco, 320 págs. R$ 38,50


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