sexta-feira, 1 de junho de 2007

Um fundamentalista no Banco Mundial

Publicado pelo IPS em 31/05/2007

O executivo de Wall Street e fundamentalista do livre mercado proposto pelo presidente George W. Bush para presidir o Banco Mundial, Robert Zoellick, fez uma exortação para que seja esquecido o escândalo de nepotismo que afundou seu antecessor, Paul Wolfowitz.

“Bob Zoellick é o homem correto para suceder Paul neste trabalho vital”, disse Bush. O presidente propôs o nome de seu ex-subsecretário de Estado e ex-representante de Comércio para que lidere o Banco Mundial, uma vez efetivada a renúncia de Wolfowitz no dia 30 de junho.

O anúncio cortou de vez as especulações sobre dezenas de nomes considerados para assumir o cargo da instituição, imersa em uma profunda controvérsia ética. Zoellick, até agora alto executivo da firma de investimento Goldman Sachs, se comprometeu a trabalhar para restaura a confiança no Banco, prejudicada quando se soube que Wolfowitz havia concedido à sua noiva e subalterna, Saha Riza, um alto aumento de salário e benefícios sem autorização.

Numerosos funcionários do Banco, ativistas, economistas e ex-ministros de todo o mundo exigiram a saída de Wolfowitz, que havia sido subsecretário de Defesa dos Estados Unidos. “Precisamos deixar as discórdias para trás e nos concentrarmos juntos em um futuro. Creio que os melhores dias do Banco Mundial ainda estão por vir”, disse Zollick. A Junta de Diretores do Banco, de 24 membros, receberá a indicação formal em meados de junho e fará a designação no final desse mês.

É certo que Zoellick será confirmado, pelo acordo tácito entre as grandes potências que controlam a Junta, Estados Unidos e Europa. Segundo a tradição, o presidente do Banco sempre é um cidadão norte-americano, e o diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional é sempre um europeu. Nesta ocasião, mais ainda do que nas anteriores, foram reiterados os chamados para reformar o processo de seleção do presidente do banco, uma instituição-chave na arquitetura financeira mundial desenhada pelos vencedores da Segunda Guerra Mundial.

Na quarta-feira, o acadêmico Centro para o Desenvolvimento Mundial, com sede em Washington, informou que quase 85% dos 700 especialistas ouvidos rechaçam o atual sistema de designação do presidente do Banco, pelo qual os Estados Unidos o nomeia com consultas informais com outros países. Uma maioria semelhante disse ser partidária de um processo de seleção baseado nos méritos, sem importar a nacionalidade. A pesquisa foi feita com membros da comunidade de desenvolvimento internacional, entre os quais integrantes de agências governamentais, universidades, centros acadêmicos, organizações não-governamentais, funcionários do Banco Mundial e outros organismos multilaterais.

Organizações não-governamentais, que há muitos anos cobram uma reforma do processo de seleção do presidente do Banco, alertaram que a nomeação de Zoellick é um golpe em sua campanha pela democratização da instituição. Segundo os ativistas, esta escolha reflete um duplo discurso, pois os Estados Unidos e o Banco Mundial pregam a responsabilidade e a transparência na gestão dos países em desenvolvimento, os principais emprestadores. “Substituir um designado por Bush por outro não resolverá os problemas fundamentais de administração do Banco”, disse Peter Bosshard, diretor de políticas da Rede Internacional de Rios, que desde São Francisco acompanha os aspectos ambientais de projetos financiados pela instituição.

“Os governos-membros deveriam rejeitar um acordo que deixa intacta a estrutura de direção do Banco, e deveriam procurar um processo de seleção aberto e baseado nos méritos”, dos candidatos à sua presidência, afirmou Bosshard. A escolha de Zoellick também alarmou funcionários de fomento do desenvolvimento, devido aos seus estreitos vínculos com os círculos de poder político e empresarial dos Estados Unidos. Zoellick, de 53 anos, foi até julho passado subsecretário de Estado, mas seu trabalho mais destacado foi a de representante de Comércio norte-americano, cargo desde o qual pressionou, com resultados nem sempre positivos, pela abertura dos mercados do mundo em desenvolvimento aos bens e serviços de seu país.

Nesse sentido, foi notória sua defesa da liberalização das importações desses mercados – embora não pelo fim dos subsídios agrícolas norte-americanos – na Rodada de Doha de negociações multilaterais da Organização Mundial do Comércio. Zoellick também multiplicou a quantidade de acordos de livre comércio entre os EUA e nações em desenvolvimento. Para os ativistas, ele carece de experiência em desenvolvimento internacional, e o criticam por pressionar os países pobres a aceitarem os critérios norte-americanos de propriedade intelectual, que encarecem os medicamentos no Sul.

“Foi um bom amigo da indústria farmacêutica. Os acordos de livre comércio que negociou bloquearam eficazmente o acesso de milhões de pessoas a remédios genéricos”, disse Paul Zeitz, diretor-executivo da não-governamental Global Aids Alliance. A indicação de Zoellick foi apoiada de imediato pelo secretário do Tesouro, Henri Paulson, e alguns legisladores norte-americanos. (IPS/Envolverde) (FIN/2007)


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