segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Pesquisa da Philips pode apontar caminhos para políticas públicas

Realizado pelo Philips Center, em parceria com o Instituto Ipsos, o estudo revela o que os brasileiros pensam sobre saúde e bem-estar. O mesmo levantamento foi feito em outros países

No artigo “Participação da sociedade civil no mercado contemporâneo”, o professor Ricardo Abramovay identifica um movimento que ele chamou de “governança não estatal dirigida pelo mercado”, por meio do qual as demandas da sociedade começam a integrar o planejamento estratégico das empresas. Tal movimento está criando um conjunto de normas e valores aos quais as empresas aderem crescentemente, de maneira voluntária, contribuindo para que a própria sociedade se conscientize mais a respeito das políticas que deve cobrar dos órgãos públicos e dos governos.


Uma iniciativa da Philips mostra como as preocupações da sociedade civil podem interferir no próprio planejamento da empresa. Trata-se do Philips Index 2010, pesquisa global realizada pelo Phillips Center para Saúde e Bem-Estar em 23 países, para entender melhor o que seus consumidores pensam sobre saúde e bem estar. Entre os países em que o estudo vem sendo realizado estão EUA, Reino Unido, China, França, Espanha, Holanda, Bélgica e Brasil, único país latino-americano da lista, até o momento.


No Brasil, a pesquisa foi feita em parceria com o Instituto Ipsos e apresentada na semana passada (24/8). Entre os temas abordados estão qualidade de vida, saúde física e mental, trabalho, salário, vida social e peso. A influência desses fatores na sensação de bem-estar da população foi medida de acordo com a importância dada a eles pelos próprios participantes da pesquisa.

De acordo com Marcos Bicudo, presidente da Philips do Brasil, a empresa promove esta pesquisa porque tem interesse em fomentar o debate sobre esses temas e entende que a sociedade precisa se envolver nessa discussão para apontar caminhos tanto para as políticas oficiais de saúde e bem estar, quanto para o mercado: “Acreditamos que podemos contribuir muito com o país, ajudando a identificar problemas e apontar soluções”.

Por meio desta pesquisa, a Philips também quer reposicionar-se no mercado, buscando reconhecimento como empresa de saúde e bem-estar, fornecedora de soluções para cuidados com a saúde, eficiência energética e estilo de vida. “Para nós, é muito importante compreender as necessidades do consumidor brasileiro em relação à saúde e ao bem-estar, porque queremos atendê-lo cada vez melhor nesses aspectos”, disse Bicudo.

O levantamento no Brasil foi realizado entre 11 e 19 de fevereiro de 2010, por meio de um questionário via internet que foi respondido por 875 pessoas, homens e mulheres das cinco regiões do país, com idades entre 16 e 65 anos e divididos pelas classes A/B, C e D/E.

A pesquisa no mundo
Fabiano Lima, diretor de Assuntos Corporativos da Philips do Brasil, apresentou dados de alguns dos países pesquisados, cotejando-os com as informações obtidas no Brasil.

De maneira geral, comparando Brasil, EUA, China, Espanha, França, Holanda e Bélgica, os americanos são os que se sentem melhor em relação a sua saúde e bem-estar. Dentre eles, 74% disseram ter um sentimento bom em relação a esses fatores. Os brasileiros vêm logo a seguir, com 71%, tendo na sequência espanhóis e belgas (70%), franceses (68%) e holandeses (67%). No outro extremo, apenas 34% dos chineses disseram ter uma sensação boa sobre sua saúde e bem estar.

Essas porcentagens, no entanto, entram em contradição com as respostas dadas a respeito de qualidade do sono, estresse e sobrepeso. Os americanos são os que se consideram mais estressados (79%), seguidos pelos chineses (69%) e belgas (61%). Os brasileiros estão entre os povos que se consideram menos estressados (36%), ficando atrás apenas dos espanhóis (35%).

Os franceses lideram o grupo dos que acham que dormem mal (45%), seguidos pelos belgas (40%), americanos (37%), brasileiros (36%). holandeses (33%), chineses (30%) e espanhóis (20%).

Embora os brasileiros sejam os mais satisfeitos com sua saúde física – 86% classificam sua saúde como boa, contra 80% dos americanos, 79% dos chineses e 70% dos britânicos –, são também os que menos se sentem responsáveis pela própria saúde e os que menos fazem exames gerais preventivos com médicos.

Os brasileiros (57% dos entrevistados) só procuram médico por causa de alguma condição pontual, uma ou duas vezes por ano. É possível que ajam assim por entender que a oferta de serviços públicos básicos e de infraestrutura seja mais importante para as condições gerais de saúde do que a visita periódica ao médico. Entre os serviços citados como mais necessários para sua comunidade estão coleta de lixo (95%), segurança (93%), qualidade das rodovias (92%) e acesso a serviços de saúde (89%), bem como hospitais e escolas locais (89%).

Para o presidente do Instituto Ethos, Oded Grajew, presente no lançamento da pesquisa, um dos dados que mais impressionam se refere à busca por assistência à saúde: “As pessoas das classes D/E estão quase que abrindo mão dos serviços de saúde pública, seguramente por dificuldade de acesso a eles”. Oded faz referência a uma pesquisa de percepção feita pelo Movimento Nossa São Paulo. De acordo com ela, o tempo médio para o paulistano ser atendido em consulta nos postos médicos públicos é de 65 dias. Entre a consulta e exames, a espera média é de mais 77 dias. Se o caso exigir procedimentos mais complexos, serão necessários outros 162 dias.

Este estudo patrocinado pelo Philips Center é, até o momento, único no país e na América Latina. O próximo (ou próxima) presidente da República terá importantes indicadores para orientar as políticas de saúde e de infraestrutura. E os dados não vêm de nenhum órgão oficial, mas de um centro de pesquisa empresarial, que quer aperfeiçoar seus produtos para melhorar a vida das pessoas, unindo o interesse comercial aos interesses da população. Isto é o cerne da responsabilidade social empresarial e o caminho para o desenvolvimento sustentável.

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Legenda: No evento de lançamento do Philips Index 2010, o apresentador Marcelo Tas; Ana Maria Malik, do Centro de Estudos em Planejamento e Gestão de Saúde da FGV-SP; Marcelo Takaoka, do Conselho Brasileiro para Construção Sustentável (CBCS); Márcia Fidelix, da Associação Brasileira de Nutrição; Ana Cristina Limongi-França, do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Gestão da Qualidade de Vida no Trabalho, da FEA-USP; Oded Grajew, do Instituto Ethos; e Laura Valente, da Associação de Governos Locais pela Sustentabilidade (Iclei).


Cristina Spera e Benjamin S. Gonçalves, do Instituto Ethos
Envolverde, 02/09/10
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