segunda-feira, 19 de abril de 2010

Empresários emergentes afinados para ganhar

Por trás de toda iniciativa de associação de nações existe “uma forte base de interesse econômico e comercial”, disse o chanceler brasileiro, Celso Amorim. Foi o que demonstraram empresários de Brasil, China, Índia, Rússia e África do Sul, que, antecipando-se aos discursos dos presidentes desses países nas reuniões de cúpula desta semana, já disseram a que vieram. Energia, tecnologia da informação, infraestrutura, alimentos e agronegócios são os setores que as comitivas de aproximadamente 400 empresários estabeleceram como prioritários em matéria de oportunidades de negócios.


Os pontos de interesse foram definidos na reunião de ontem, no Rio de Janeiro, entre empresários do grupo BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) e IBSA (Índia, Brasil e África do Sul), que são, mais do que de letras, uma sopa de números. Segundo os documentos distribuídos no encontro, entre 2000 e 2008 as nações do BRIC concentraram quase 50% do crescimento econômico do planeta, e espera-se que para 2014 essa participação chegue a 61%. Além disso, os países do BRIC, que têm quase a metade da população mundial e ocupam mais de um quarto da área terrestre, concentram 15% do produto interno bruto mundial.

“Juntos temos uma força tremenda”, destacou o ministro de Comércio e Indústria da Índia, Anand Sharma, no mesmo tom otimista dos demais participantes. O BRIC e o IBSA “garantiram que o mundo se recuperasse da recessão (de 2008) antes do esperado”, acrescentou. China, Índia e África do Sul são consumidores de energia, enquanto Brasil e Rússia a produzem, resumiu o vice-presidente do Conselho Chinês para a Promoção do Comércio Internacional, Zhang Wei. “Podemos ser complementares” para garantir, por exemplo, a demanda e o fornecimento “de energia de nossos países”, acrescentou.

Wei também mencionou outros setores estratégicos, como a produção de grãos, para garantir um aspecto igualmente crucial para estas nações emergentes e com grandes populações, a segurança alimentar. Nesse campo, o representante chinês propôs um sistema de troca de informações agrícolas entre os países associados para prevenir problemas como altas de preços dos alimentos. Segundo um informe do brasileiro Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), nos próximos 50 anos, o conjunto de países do BRIC poderá superar o G-6 (Alemanha, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Japão e Itália) como principais propulsores da economia mundial.

Essas perspectivas, destaca o Ipea, exigem superar diferenças econômicas estruturais entre os membros do grupo. Enquanto o Brasil se caracteriza como economia de elevada participação do consumo e do mercado doméstico, a Rússia baseia seu desenvolvimento nas vendas externas de produtos básicos energéticos. E enquanto a Índia “capitalizou um boom de exportações de serviços para crescer a altas taxas e aumentar sua competitividade em outros setores, o desenvolvimento chinês foi orientado pelas exportações de manufaturas e pelas elevadas taxas de investimento, e seu mercado consumidor interno está crescendo rapidamente”, acrescenta o Instituto.

São modelos diferentes de desenvolvimento que, segundo o Ipea, apresentam diferentes padrões de inserção internacional, mas com possibilidades de se integrarem, segundo o ministro indiano. Sharma citou como “pontos fortes” de cada nação o desenvolvimento de agrocombustíveis no Brasil, a tecnologia criada pela China, a do setor energético da África do Sul, da nuclear da Índia e a competitividade da Rússia em produtos minerais. “Sinergia” foi a palavra escolhida pelo diretor do Departamento de Cooperação Internacional da Câmara de Comércio e Indústria da Rússia, Serguei Vasilyev. “Em conjunto só temos a ganhar”, destacou. Esse foi o primeiro encontro de empresários dos dois fóruns de nações.

A sigla BRIC – criada em 2001 pelo economista Jim O’Neil – inclui quatro países emergentes com grandes territórios e populações, cujas economias crescem em grande ritmo nos últimos anos. Estabelecido formalmente em 2003 com a Declaração de Brasília, o Fórum de Diálogo Índia, Brasil, África do Sul (Ibsa) busca uma coordenação entre seus membros para promover, entre outros objetivos, um diálogo de países e regiões do Sul do mundo para a cooperação articulada em questões econômicas e em outros assuntos de importância internacional. Estes grupos de países, segundo o ministro da Indústria e Comércio da África do Sul, Rob Davies, produziram nesse milênio “uma mudança tectônica no sistema econômico mundial”.

Em 2009, a China superou os Estados Unidos como principal sócio comercial do Brasil, com 12,9% de todo comércio externo brasileiro. As vendas nacionais para a China alcançaram pouco mais de US$ 20 bilhões no ano passado, aumento de 23% em relação a 2008. Além disso, a China se converteu, nesse ano, no terceiro maior investidor estrangeiro no setor produtivo do Brasil, em setores importantes como petroleiro, mineral-metálico e telecomunicações, e apostando no futuro da infraestrutura. São transformações vertiginosas que – segundo o chanceler Amorim – mostram “mudanças na balança do poder econômico mundial” que se refletirão também em efeitos políticos. IPS/Envolverde


Fabiana Frayssinet, da IPS
Envolverde, 16/04/10
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