quarta-feira, 14 de abril de 2010

Diáspora haitiana quer participar da reconstrução do país

A comunidade haitiana no exterior durante anos foi salva-vidas de seu atribulado país, ao fazer milionárias remessas de dinheiro para suas famílias. Agora, seu status ficará definido pelo parlamento, quando esta semana se reunir para ratificar a Comissão Interina para a Recuperação do Haiti. Foi o que disse Jocelyn McCalla, assessora do escritório do enviado especial desse país na Organização das Nações Unidas.


Muitos haitianos se sentem fora do processo de tomada de decisões enquanto a comunidade internacional compromete ajuda para reconstrução do país, depois do terremoto que, em 12 de janeiro, matou mais de 200 mil pessoas em Porto Príncipe. Isto ficou evidente no dia 31 de março, quando 59 Estados-membros da ONU, instituições financeiras multilaterais e organizações não governamentais se reuniram em Nova York com o objetivo de arrecadar fundos para a ajuda.

Ali foram prometidas doações de US$ 9,9 bilhões para a próxima década. Dessa forma, US$ 5,26 bilhões serão entregues nos primeiros 18 meses, segundo funcionários da ONU. De todo modo, persiste o ceticismo sobre se esse dinheiro será usado – e como – para realmente reparar os edifícios e as estradas do país caribenho. Nesses debates, a diáspora haitiana teve um papel menor. A menos que os membros da comunidade se organizem, ficarão à margem, embora continuem enviando dinheiro para seu país.

Os esforços dos haitianos no exterior são desconexos. Por exemplo, a professora da Universidade de Nova York, Fabienne Doucet, pertence a um pequeno grupo que reclama do fato de a diáspora não ter poder de voto na Comissão Interina para a Reconstrução do Haiti. Mas o tempo parece ter acabado para que Doucet e outros haitianos radicados fora de seu país exerçam pressão no exterior para conseguir uma cadeira na proposta Comissão. Esta entidade terá a seu cargo as tarefas de vigiar a reconstrução e designar os postos relativos ao alívio e ao desenvolvimento.

Atualmente, à diáspora haitiana corresponde a uma de três cadeiras, sem direito a voto. A maioria das 18 cadeiras restantes, com direito a voto, pertence a doadores internacionais que comprometeram US$ 100 milhões ou mais para os esforços de reconstrução. Até a IPS informá-la, Doucet nem mesmo sabia que o parlamento previa se reunir, e muito menos debater sobre a proposta Comissão.

Desde o dia 6, quando a organização de Doucet divulgou pela primeira vez sua reclamação no site thepetitionsite.com, 80 pessoas já assinaram a favor da causa. E embora o site recomende chegar a mil assinaturas, Doucet não sabe quantas realmente necessita para cumprir seu objetivo. “Há uma sensação esmagadora de que não estão nos incluindo, e não sabemos com nos incluir”, disse Doucet, especialista em educação fundamental. Muitos outros haitianos no exterior não sabem para onde se dirigir. Querem ajudar, mas não sabem como.

Alguns, como Fritz Fils-Aime, presidente de uma associação nacional de veteranos haitiano-norte-americanos, que participou da conferência de doadores da ONU, querem saber com detalhes específicos sobre como o governo e os doadores pretendem reconstruir o Haiti. “Tudo o que ouvimos foi pura retórica”, disse Fils-Aime nessa ocasião, referindo-se aos discursos do presidente haitiano, René Preval, do primeiro-ministro, Jean-Max Bellerive (que apresentou um Plano de Ação para o Haiti), e da principal porta-voz da diáspora na conferência, Marie St. Fleur, primeira hatiana-norte-americana eleita para integrar o corpo legislativo do Estado de Massachusetts.

MCalla concordou que os discursos foram muito gerais, devido ao tempo dado a cada orador e, em alguns casos, à falta de preparação. Mas é a Comissão, e não a ONU, a entidade que a diáspora deve namorar “para garantir voz forte na tomada de decisões” afirmou. Além disso, como disse em seu discurso o ex-presidente Bill Clinton, enviado especial da ONU para o Haiti, no ano transcorrido desde a última conferência de doadores sobre este país, foi concretizado menos de um terço dos fundos então prometidos.

Entretanto, se os haitianos da diáspora não podem ter acesso ou depender de um ponto centralizado de informação, é impossível que os esforços nacionais para se organizar nunca se concretizem em todo seu potencial. Doucet acredita que o Ministério de Haitianos Vivendo no Exterior, liderado por Edwin Paraison, poderia funcionar como base da diáspora. “Paraison está na posição mais lógica para realmente nos promover”, disse Doucet, acrescentando que nos últimos dois meses o ministro fez uma viagem para incluir os haitianos radicados no Canadá e nos Estados Unidos. “Espero que ele possa ser a voz da diáspora na reunião do parlamento”, afirmou.


Carla Murphy, especial para IPS
Especial para a IPS do The Haitian Times.
Envolverde, 14/04/10
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