quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Venturesome: prática financia organizações da sociedade civil

A oferta de crédito para organizações da sociedade civil é um desafio tanto no Brasil e quanto no exterior. Ao longo de 2009, a partir do estudo de modelos de gestão e financiamento para o terceiro setor, o Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS) identificou o Venturesome como uma estratégia de financiamento capaz de trazer retorno para as instituições.
Assim como o venture philanthropy, a prática não possui tradução na língua portuguesa. Trata-se de uma modalidade de financiamento de organizações criada pela Charities Aid Foundation (CAF), no Reino Unido.

O objetivo é promover fôlego financeiro para a geração de impacto social. Ou seja, conceder empréstimos para que as instituições, em momentos de dificuldade ou necessidade para investimentos, mantenham o fluxo de caixa e dêem continuidade às suas atividades.

A partir de um fundo, a CAF disponibiliza empréstimos de 20 mil a 350 mil libras (de R$ 57 mil a R$ 1 milhão, em valores aproximados), para serem pagos entre 2 e 5 anos – com possibilidade de extensão da dívida para até 7 anos.

A taxa de juros varia de 7% a 10% ao ano. O dinheiro pago retorna ao fundo para ser reinvestido. “A reciclagem do capital torna a ação do fundo perpétua”, explica a economista Martha Hiromoto, que dirigiu voluntariamente o estudo.

Desde 2002, quando criou o Venturesome, a CAF investiu em 200 projetos e programas, predominantemente do Reino Unido. Atualmente, está com 65 em carteira.

O financiamento pode ser empregado naquilo que for necessário para a organização. De acordo com dados da CAF, 40% dos empréstimos realizados destinaram-se à aquisição de imóvel próprio, manutenção de fluxo de caixa e fomento ao desenvolvimento e geração de renda.

Apesar de não exigir garantias como os bancos, a organização pleiteante passa por uma análise de crédito em que demonstre que é capaz de retornar o capital no período de pagamento. A CAF também atua em processo de due dilligence, em que auxilia a organização a gerir os recursos e audita todo o processo. “Não há interferência na administração, mas apoio estratégico e recomendações”, afirma Martha.

Assim, o risco de inadimplência fica reduzido. O ponto de equilíbrio do fundo prevê uma margem máxima de 30% de inadimplentes, mas, até 2009, só ocorreu em 10% dos empréstimos “A meta é investir em projetos e propostas de longo prazo, em que a organização possa se estruturar e se manter”, analisa a economista. O processo de seleção funciona ao longo do ano. Mais informações, em inglês, no site da CAF.

Inovação no Brasil

No Brasil há uma experiência semelhante ao Venturesome. Numa modalidade de crédito inovadora para o País, a sitawi, instituição sem fins lucrativos criada em 2006, oferece empréstimos de R$ 100 mil a R$ 400 mil para organizações (os chamados Empréstimos Sociais). A diferença é que o valor deve ser empregado em projetos já em operação e que buscam a sustentabilidade da organização por meio da geração de receita com produtos ou serviços.

“É uma forma de garantirmos não só o retorno de capital como, principalmente, ajudar a instituição a se aprimorar e gerar mais impacto social”, explica o fundador e chief Executive Officer (CEO) da sitawi, Leonardo Letelier.

Até 2009, foram cinco organizações financiadas. O fundo social da sitawi é formado por recursos vindo de doações de investidores sociais (pessoas físicas e jurídicas), como Fundação Avina, Fram Capital, Grupo Stratus e Halloran Philanthropies, além de empresários anônimos. Periodicamente eles recebem relatórios com os resultados de seus investimentos sociais.

De acordo com a sitawi, hoje a demanda por empréstimos sociais é maior do que seu fundo. “Assim, estamos abrindo a captação do fundo para indivíduos e organizações que queiram multiplicar seu impacto social e apoiar o desenvolvimento de infraestrutura financeira para o setor social", reforça o CEO.

O prazo de pagamento dos empréstimos varia segundo a necessidade local, mas pode chegar a 24 meses. Os juros são de cerca de 1% ao mês. “A taxa de juros cobre o custo da operação de concessão do crédito, tornando o empréstimo possível para o terceiro setor”, diz Letelier.

A sitawi também proporciona acompanhamento estratégico, que na prática é mais do que um simples monitoramento financeiro, mas não chega a substituir as funções de executivos da organização. “Nosso papel é fortalecer o processo de tomada de decisão da instituição”, pontua o CEO.

O processo de seleção funciona durante todo o ano e as pleiteantes podem baixar e preencher o formulário disponível no site.

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Idis, 04/01/10


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