terça-feira, 19 de maio de 2009

'Guru' de Obama mostra as vantagens das redes sociais

Internet: Ben Self, ex-diretor de tecnologia do Partido Democrata nos EUA, busca negócios no Brasil
"A web dá às pessoas a noção de participação e de envolvimento", diz Self, hoje concentrado na Blue State Digital

Foto Gustavo Lourenção/Valor


Entre os milhares de usuários do Twitter, o famoso serviço de troca de mensagens curtas, há um grupo de cerca de 400 usuários aparentemente privilegiado. Seguidores da página pessoal "Serra 2010", esse grupo acompanha, em tempo real - e com mensagens em primeira pessoa-, tudo o que o governador de São Paulo, José Serra (PSDB-SP), projeta para seu futuro político. Ontem, em sua página enfeitada por fotos, Serra supostamente revelava: "O pessoal do Aécio já começou a negar a notícia de que ele aceitou ser meu vice". Em outra mensagem, Serra dizia que "o Aécio aceitou ser vice na minha chapa, que o FHC costurou tudo."

A comunidade Serra 2010 do Twitter seria o melhor exemplo de audácia no uso político da internet, se ela não fosse, na realidade, um caso clássico de pichação virtual. Procurado pelo Valor, o governador informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que não possui nenhum tipo de página pessoal em redes sociais da internet. No Twitter, apenas o site do governo de São Paulo tem uma página oficial.

Para o bem e para o mal, esse é um fenômeno típico nas redes sociais. Mas do mesmo jeito que a liberdade da internet pode tirar o sono de muita gente, ela também pode se transformar numa ferramenta crucial de divulgação. Recentemente, foi a vez de a Coca-Cola virar caso de sucesso no Facebook após dois amigos decidirem criar, involuntariamente, uma página para seu refrigerante preferido. Alheia à empresa, a comunidade se espalhou e hoje o endereço coleciona mais de 3,3 milhões de membros.

O desafio dos estudiosos sobre o tema é não só compreender o fenômeno, mas, principalmente, saber como provocá-lo. "É algo totalmente possível, desde que haja uma estratégia bem definida", diz Ben Self, sócio-fundador da Blue State Digital, empresa especializada em projetos on-line. "Seja nas ações de uma empresa ou em uma campanha eleitoral, a web dá às pessoas a noção de participação e de envolvimento", diz ele.

Self fala com conhecimento de causa. Ele foi o diretor de tecnologia do Partido Democrata nas eleições americanas de 2008. Com o apoio de uma equipe de especialistas em web 2.0 e sistemas desenhados para elaborar estratégias de engajamento on-line, a Blue State Digital coordenou a campanha de Barack Obama, cuja arrecadação eleitoral foi a maior já vista na história dos Estados Unidos, somando US$ 500 milhões. Com o apoio de 3,5 milhões de contribuintes, Obama foi eleito presidente e, de quebra, virou de ponta-cabeça a maneira de se enxergar e de se trabalhar com serviços como Facebook, YouTube, MySpace, Orkut e Twitter.

Self, que visita o país nesta semana, afirma que a internet também pode ser um fator decisivo em campanhas eleitorais no Brasil. "É verdade que cada país tem uma realidade diferente, mas acredito que algumas características estão presentes em qualquer pessoa", comenta. "Todos querem dividir suas impressões e sentimentos."

Depois de realizar a campanha de Obama, a Blue State Digital abriu escritórios em vários países: Austrália, Inglaterra, Irlanda, Itália e México. "O Brasil também é um mercado de forte potencial. Estamos avaliando a possibilidade de ter uma presença local", diz Self.

Para Vera Chaia, cientista política e professora da PUC de São Paulo, a internet ganhará um papel de destaque nas eleições presidenciais de 2010, mas seu apelo deverá se concentrar na disseminação de informações. "Não acredito na rede como um instrumento estratégico para doações de campanha", comenta ela. "Nos Estados Unidos, isso ocorreu porque a prática filantrópica existe há muitos anos e é um meio para as pessoas expressarem sua participação."

O ministro Carlos Ayres Britto, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), tem defendido a autorização de doações para campanhas pela internet a partir das próximas eleições. As regras atuais sobre as doações não são claras sobre esse ponto, dando margem para diferentes interpretações. O que se espera é que, a exemplos dos EUA, os leitores possam entrar nos sites de seus candidatos e fazer sua doação de forma eletrônica, usando um cartão de crédito ou débito.


André Borges, de São Paulo
Valor Online, 19/05/09


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