quarta-feira, 7 de maio de 2008

O que, afinal, matou o gato?

Ouvi dizer que o padre paranaense que voou com balões de festa e desapareceu agiu como um louco. A pessoa justificou: "O sujeito nem sabia como operar um GPS! Levou o aparelho e quis aprender a usá-lo só quando o vento mudou a sua rota e o empurrou para dentro de uma tormenta em alto mar".

Eu não achei graça. Não só por respeito ao imprudente sacerdote cristão, mas por seu comportamento refletir um vício. Talvez tenha sido uma trágica faceta da cultura na qual vivemos.

É raro ver pessoas que dêem valor a procedimentos básicos. Brasileiro não precisa de instruções. Acha que sabe. Não fosse obrigatório o ensino de primeiros socorros na habilitação de motoristas, só bombeiros e salva-vidas teriam que aprender as técnicas. Nós gostamos mesmo de tirar o aparelho da caixa, ligar e ver o que acontece. O manual? Quem precisa de manual?

Um lugar onde isto se confirma é a empresa. Para muitos, treinamento é coisa de americano ou de soldado. É assustador o contingente de funcionários que atuam durante anos e anos nos mais diferentes postos, sem jamais terem sido convenientemente informados sobre o que fazer, como fazer e qual o padrão de eficiência que devem atingir. Enquanto isso, o diretor questiona seu staff – quando não caríssimos consultores – sobre como melhorar os resultados.

Uma das saídas clássicas é investir em propaganda. Pequenas fortunas são gastas em publicidade para garantir a demanda de produtos ou serviços. Mas comprometimento do time com a satisfação do cliente não é assim que se consegue. E venda alguma é consistente ou sustentável sem comprometimento. O que ocorre? A resposta é simples. Falta suprir os funcionários com as instruções básicas - isso está nos livros, é básico. Mas quem precisa de livros?

Aprendizagem é o princípio de tudo. É a base. Uma pessoa que acredita no estudo e se mantém nele está em constante desenvolvimento e diferencia-se da massa alienada e estagnada.

Nós temos praticado o oposto do que deveríamos. Desprezamos conhecimento por insana convicção. Isso vem de cima. Por isso, em muitas áreas estamos sempre na estaca zero.

Temos feito da eficiência uma escrava da sorte. E, quando é a sorte quem governa, os riscos de insucesso são absurdos. É uma loteria.

A história de que a curiosidade matou o gato está mal contada. O gato não era curioso. Ele confiava demais em si mesmo. Se curioso de fato fosse, teria lido o manual de instruções e, decerto, ainda contaria, a seu favor, aquele antigo e garantido saldo de sete vidas.


Abraham Shapiro
Coach e consultor especializado em lideranças, equipes de vendas e relacionamento com o cliente


HSM Online, 06/05/08


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