segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

O desafio de avaliar efeitos de um projeto

Carmen Guerreiro*, da Revista Idéia Socioambiental

Publicado pela Envolverde em 12/12/07

O economista Flávio Comim explica como mensurar resultados de programas sociais - O desafio de avaliar efeitos de um projeto
Imagem Amigos da Terra


No esforço de criar programas para o desenvolvimento de comunidades locais, no âmbito de suas ações de responsabilidade social, muitas empresas realizam bons projetos ou programas, mas a maioria esquece que é preciso medir os resultados. É por isso que, em todo o Brasil e no mundo, há cada vez mais encontros para discutir avaliação e retorno da sustentabilidade corporativa.

“Quando os projetos não são avaliados, o investimento social assemelha-se a um tiro no escuro, muitas vezes representando apenas gasto de publicidade disfarçado. A avaliação é importante para a legitimidade do gasto social e para a prestação de contas das empresas perante a sociedade”, diz o economista brasileiro Flávio Comim, pesquisador do St. Edmund’s College da Universidade de Cambridge, no Reino Unido.

Para chegar a um relatório dos impactos de um projeto social, é preciso analisar informações qualitativas e quantitativas, de forma a comparar projetos com diferentes ações, diz ele. “Em uma avaliação de impacto, sabe-se exatamente quais os resultados do investimento”. E completa: “Desconfie de empresas que não mensuram os seus projetos”.

A experiência de Comim decorre não só de longo estudo sobre a avaliação de projetos, mas do know-how na implementação de método que ele criou, com base no Índice de Qualidade da Educação (IQE). A metodologia foi testada no TIM Música nas Escolas, da operadora de telefonia celular TIM. O estudo do empreendimento em paralelo à pesquisa nas áreas de música, neurociência, pedagogia e desenvolvimento infantil mostrou que esses elementos têm impacto na qualidade da educação, possibilitando o desenvolvimento cognitivo temporal e espacial e uma melhor socialização das crianças na escola e em casa. Para o pesquisador, todo projeto pode ser avaliado. Basta seguir alguns passos. Na primeira etapa, escolhe-se uma abordagem — mais comuns são a econômica, a subjetiva e a de desenvolvimento humano —, a partir da qual as iniciativas serão julgadas. “As abordagens econômica e subjetiva possuem falhas metodológicas e deixaram de ser usadas há décadas. Mas continuam a ser aplicadas no Brasil, por alguma razão inexplicável. O melhor caminho, na minha visão, é o do desenvolvimento humano.”

Comim argumenta que ele não é o único a defender como o mais recomendável tal método. “O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento o recomenda, com base na obra de pensadores renomados como Amartya Sen, Sudhir Anand, Sir Richard Jolly e Frances Stewart.” A diferença dessa abordagem é que a econômica foca no crescimento do Produto Interno Bruto para medir impactos e a subjetiva contabiliza critérios como felicidade, ambas amplas e imprecisas. “O desenvolvimento humano vê na expansão das liberdades individuais o verdadeiro significado de desenvolvimento. Nessa visão, o importante é o que as pessoas podem ser ou fazer.” O segundo passo é estruturar a avaliação a partir do estudo dos possíveis impactos do projeto social “em função do melhor conhecimento científico disponível”.

A terceira e a quarta partes consistem em formular e aplicar uma pesquisa, por meio de questionários, entre os gestores e demais participantes da iniciativa. O objetivo é entender melhor o funcionamento do projeto, seus obstáculos, seus pontos fortes e uma perspectiva dos resultados. O projeto TIM Música nas Escolas, que seguiu todas as etapas, contou com mais de 40 artigos científicos na base da avaliação e uma equipe para aplicar o questionário em oito cidades.

A quinta etapa diz respeito a compilar os resultados em estatísticas e o último passo está relacionado à “análise estatística da evidência empírica”, ou seja, a interpretação dos resultados com base em fatos e experiências do projeto. Na iniciativa da TIM, foram contrastados nesta fase, sob os mesmos critérios, os grupos que participaram e os que não fizeram parte do projeto. Assim, foi possível calcular o desempenho e evolução das crianças envolvidas e a taxa social de retorno do empreendimento. A abordagem permitiu, segundo ele, maior precisão no tratamento das opiniões individuais dos participantes e melhores soluções para problemas no programa. “No caso, mostrou que o projeto tem um desempenho diferenciado. Definido pelo presidente do Grupo Orsa, Sérgio Amoroso, como um “laboratório da sustentabilidade no meio da Amazônia, o Projeto Jari funciona na base de exploração de um pólo agroindustrial de celulose.

Na área social são investidos R$ 4,5 milhões ao ano em mais de 20 projetos sociais que beneficiam 139 mil pessoas. “Toda vez que fazemos um projeto, traçamos o objetivo, que é medido semestral ou anualmente. Há várias maneiras de fazer a avaliação, mas o melhor indicador é quando a iniciativa vira uma política ou gera idéias que o Estado adota posteriormente.”

* Colaborou Caio Neumann.
Veja mais em http://www.ideiasocioambiental.com.br.

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