quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Banco Mundial obtém êxito ao passar o chapéu

Abid Aslam
Publicado pela
IPS em 18/12/07

As nações doadoras destinaram somas recordes para que o Banco Mundial ajude os países pobres a partir do próximo ano, sem levar em conta os cálculos dos que questionam a instituição por usar esse dinheiro com fins políticos.

Quarenta e cinco países se comprometeram a entregar US$ 25,1 bilhões à Associação Internacional de Fomento (AIF), entidade do Banco que fornece ajuda às nações mais pobres do mundo por meio de empréstimos a juros baixos e doações.

Isso eleva a US$ 41,6 bilhões o total disponível a ser distribuído com esses mecanismos entre 80 países pobres entre meados de 2008 e 2011, US$ 9,5 bilhões a mais do que no atual triênio. “Esta é a maior expansão no financiamento dos doadores na história da AIF”, disse o presidente do banco. “A comunidade de doadores demonstrou seu pleno compromisso com a ajuda aos países pobres, especialmente os da África, para acabarem com a pobreza e conseguirem um crescimento sustentável”. Mas, não se tratou de um ato de generosidade sem reservas.

O governo da Noruega, citando o uso contínuo dos empréstimos livres de juros feitos pela AIF como meio de pressão para a privatização de serviços básicos como água, saneamento, saúde e educação, reduziu seus fundos em US$ 4,2 bilhões,o que foi considerado um ato simbólico. Os ativistas destacaram o gesto, por ser incomum e porque foi conhecido pouco depois de se saber que o Banco Mundial continua incluindo condicionamentos políticos a sete em cada 10 empréstimos destinados ao alivio da pobreza, apesar de ter declarado que deixou de fazê-lo. Essa foi a conclusão da não-governamental Rede Européia sobre Dívida e Desenvolvimento (Eurodad), após um estudo feito com base em dados oficiais.

“Apesar do fato de a soma retida ser relativamente pequena, trata-se de uma decisão importante porque muitos países fizeram algo semelhante”, disse Atle Sommerfeldt, secretário-geral da Assistência Eclesiástica Norueguesa, organização não-governamental que pressionou o governo de seu país com esse objetivo. Ativistas britânicos cobraram, sem êxito, do governo do primeiro-ministro Gordon Brown que seguisse o exemplo norueguês. Pela primeira vez em meio século a Grã-Bretanha tirou os Estados Unidos do primeiro lugar de doadores da AIF. Mas, as organizações de ajuda ao desenvolvimento do Sul consideram que agora os doadores vão pressionar o Banco para conseguir melhores resultados.

“Os doadores assumiram compromissos importantes para garantir que o Banco Mundial considere o impacto de suas recomendações quando empresta dinheiro aos mais pobres e vulneráveis”, disse Elizabeth Stuart, da Oxfam Internacional. Esta organização “está contente por ver dinheiro extra disponível para os países mais pobres, mas, não deveriam passar cheque em branco a instituições de desenvolvimento que pressionam pela implementação de políticas que prejudicam os menos afortunados”, acrescentou Stuart. “Deveria haver mais doadores enviando esta mensagem a Washington: queremos vermais desenvolvimento com nossos dólares”, concluiu.

Para Zoellick, o dinheiro comprometido fala por si só. “Este generoso reabastecimento é tanto um reconhecimento da importância da ajuda multilateral quanto um voto de confiança na AIF”, afirmou. Seis países se incorporaram à lista de doares: China, Chipre, Egito, Estônia, Letônia e Lituânia. O dinheiro será usado para ajudar países de baixa renda a combater a mudança climática, participar de processos de integração e cooperação regional e fomentar o investimento em infra-estrutura. O Banco também vai procurar apoiar mais os países que saem de conflitos armados.

Os empréstimos da AIF não têm juros e devem ser pagos no prazo de 35 a 40 anos, com 10 de carência. Esta instituição também concede doações a países em risco de sofrer uma crise de dívida. A metade dos beneficiários estão na África. Seu fundo, reabastecido a cada três anos, entregou US$ 182 bilhões desde sua criação em 1960. No ano fiscal concluído em 30 de junho, destinou US$ 11,9 bilhões, 19% dos quais foram doações.

O Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento, ramo creditício do Banco Mundial e da Corporação Financeira Internacional, sua unidade dedicada ao setor privado, injetaram na AIF lucros operacionais de US$ 3,5 bilhões. Os Estados Unidos, até este ano principal doador da AIF, destinou à instituição para este triênio US$ 3,7 bilhões, e a Grã-Bretanha o superou por US$ 400 milhões, apesar de sua economia ser seis vezes menor do que a norte-americana. (IPS/Envolverde)


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