Inovação ou extinção
A era atual pede a formação de empreendedores responsáveis
Na foto, sede da Team Academy, em Jyväskylä, na Finlândia
As mudanças globais estão aceleradas em todos os campos e já não basta compreender o passado e assimilar informações consolidadas para se preparar para o futuro. É preciso saber lidar com o inesperado, com o novo, e aprimorar a capacidade de resposta para enfrentar os desafios atuais. Assim, escolas e cursos de empreendedorismo inovador ganham destaque em vários países, inclusive no Brasil.
Iniciativas como o Instituto Endeavor, o Pioneers of Change, o Kaos Pilot e a Team Academy estão formando profissionais não mais para se encaixar nos modelos de empreendimentos conhecidos, mas para forjar novas maneiras de interagir e gerar negócios que sejam benéficos para toda a humanidade, considerando os aspectos sociais, culturais e ecológicos, além dos econômicos.
Elas já nascem conscientes da interligação entre as áreas e difundem o conceito de cidadãos do mundo entre seus participantes. Além disso, empregam novas formas de ensinar, pelas quais a autonomia e a coparticipação de todos os envolvidos são a base de sua metodologia. Ao contrário do ensino formal, não se centram em dar respostas, mas em aprimorar a capacidade de indagar e investigar, considerando o processo de aprendizagem uma responsabilidade de todos. O diálogo é constante e as tomadas de decisão são conjuntas. Também não separam o saber do fazer, mas usam a experimentação e o “mãos na massa” como prática rotineira.
O Pioneers of Change, por exemplo, foi fundado por pessoas de 16 países, funciona como uma rede mundial de aprendizado e tem como princípios: ser você mesmo; fazer o que importa; começar agora; engajar-se com outros; e nunca parar de fazer perguntas. O Endeavor, por sua vez, promove os encontros “Bota pra Fazer”, durante os quais divulga exemplos inspiradores de ações possíveis. Esse instituto seleciona e dá apoio personalizado a empreendedores inovadores.
Já o Kaos Pilot e a Team Academy reúnem equipes multidisciplinares na execução de projetos locais e internacionais. Ambos são programas reconhecidos de ensino superior em seus países de origem, Dinamarca e Finlândia, respectivamente. Embora funcionem sem salas de aula ou professores. Eles utilizam o sistema de tutores para orientar seus estudantes. Na Team Academy, essa proposta é reforçada por um contrato pessoal de aprendizado. Com esse documento, o participante avalia seu estágio atual e aonde quer chegar, firmando consigo mesmo metas pessoais. Ali, os projetos funcionam como empresas juniores, com gastos, ganhos e impostos recolhidos normalmente.
Fazer junto
Na base dessas experiências está uma nova visão que aposta, sobretudo, na capacidade de criação conjunta. “Partindo da valorização de cada indivíduo e dos sonhos que eles trazem consigo, preparam-se pessoas capazes de construir seu futuro”, explica Marcus Colasino, um dos pioneiros em empreendedorismo e inovação no Brasil, discípulo de Fernando Dolabela, criador da pedagogia empreendedora e da Oficina do Empreendedor já nos anos 1990.
Suas diretrizes consideram que as necessidades do presente pedem, sobretudo, uma ágil e eficaz capacidade de combinar elementos e tomar decisões acertadas. “O pensamento estrategista migra cada vez mais de um modelo como o do xadrez – com avaliação demorada de todas as peças, dos movimentos e suas consequências – para o de um jogador de videogame”, descreve Hélio Mattar, presidente do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente. “É preciso analisar vários elementos simultaneamente e aprimorar a percepção para escolhas rápidas. As pessoas estão hiperconectadas e hipersensíveis e respondem com hipervelocidade também em relação às informações que recebem”, observa o executivo.
O Akatu apurou que os consumidores hoje entendem que as empresas existem para melhorar a sociedade e o meio ambiente e 84% querem uma ação rápida nesse sentido. Caminhos para empreender com êxito, de forma responsável e com boa velocidade podem ser encontrados mais facilmente com muitas cabeças pensando juntas. “Coletivamente, somos mais inteligentes”, observa Tatiana Sansone Soster, do Fórum de Inovação da Fundação Getulio Vargas de São Paulo (FGV-SP). Assim, essas novas escolas utilizam, em lugar de aulas expositivas, reuniões e rodas de diálogo para planejamento, troca de informações e experiências e avaliações conjuntas.
Na Team Academy, até mesmo a bibliografia é definida pelas equipes, conforme o projeto abraçado. Cada livro lido conta pontos no currículo e é apresentado a todo o grupo, ou para vários times, no formato escolhido pelo seu leitor: escrita, oral, artística ou multimídia. Nesta escola, também há um empenho constante em simplificar procedimentos e ferramentas utilizadas. As diretrizes abraçadas são: desafiar o processo; inspirar uma visão comum; capacitar e permitir a ação do outro; moldar um caminho (dar o exemplo); e encorajar o coração (celebrar).
Balanço razão e emoção
O cuidado com os sentimentos de todos é uma premissa para gerar resultados mais eficientes e sustentáveis, segundo as práticas experimentadas. Essas novas escolas buscam construir um interesse genuíno pelo outro e por fazer junto, dando espaço para expressão das emoções.
“Certa vez, uma integrante de nossa equipe comunicou que ia sair, pois se sentia sobrecarregada. Outras pessoas disseram se sentir da mesma forma. Estávamos perto das férias de verão e elas teriam que passar a folga trabalhando, já que o projeto lhes colocava muitas tarefas”, contou Sanna Tossavaineu, recém-formada pela Team Academy. “Isso poderia ter sido uma grave crise e fazer nosso projeto desandar. Mas pensamos como uma equipe e buscamos um jeito de resolver a situação. Fizemos pequenos mutirões, todos executando as tarefas de cada pessoa, em conjunto numa mesma data, até que todo mundo tivesse condições de tirar as férias sem problemas”, continuou a nova empreendedora.
Sanna fala com entusiasmo do tempo que passou na Team Academy e diz que o principal lá é aprender um com o outro, expressar o que sente e enfrentar juntos os joy challenges (algo como “desafios que nos alegram”, termo empregado pela escola que utiliza muito humor em toda a sua dinâmica). “O ser humano tem emoção e fragilidades. Quando as expõe e as pessoas estão lá pra ajudar, tudo fica mais fácil”, comenta Tatiana S. Soster. “Estamos num tempo de modificar modelos mentais, privilegiando o engajamento pelo coletivo e o acolhimento das diferenças, deixando de lado o individualismo que coloca todos sob ameaça no planeta”, completa Sanna Tossavaineu.
Neuza Árbocz (Envolverde), Edição de Benjamin S. Gonçalves (Instituto Ethos)
Ethos, 07/07/09
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