quarta-feira, 8 de julho de 2009

Após crise, escolas de negócios repensam seu papel e modelo de ensino

Quanta diferença um ano faz! Em 8 de abril de 2008, a Harvard Business School comemorou em grande estilo 100 anos triunfantes de MBA. Um ano depois, publicou um estudo questionando seu papel e iniciou um debate online intitulado "How to Fix Business Schools" (Como Consertar as Escolas de Negócios). Harvard não está sozinha ao reconhecer que alguma coisa está errada no mundo do ensino de administração.

Pontos de vista sobre a culpa das faculdades no derretimento econômico vão de um extremo ao outro, assim como as receitas de como reconquistar a confiança das empresas e dos estudantes.

Richard Cosier, reitor da Krannert School da Purdue University, diz que a ganância pessoal e as práticas de empréstimos antiéticas foram as causas do problema, e não as escolas de negócios. Para ele, dizer que as escolas não deveriam ensinar modelos financeiros complexos é um erro. "É como dizer que você não pode ensinar química porque pode fazer as coisas explodirem. As pessoas tomam suas próprias decisões." Outros são mais prudentes. Santiago Iñiguez, reitor da IE Business School da Espanha, representa a opinião de muitos quando diz que "não aceitar parte da responsabilidade seria dizer que não somos parte do jogo."

Harvard, historicamente lenta em agir, foi uma das primeiras a se movimentar desta vez, juntamente com a Insead, e lançou programas executivos que não oferecem diploma, voltados para os novos problemas das empresas. A maioria das escolas está redirecionando as questões do risco e dos modelos financeiros em seus cursos. Mas isso será suficiente?

Na Stanford Business School, Garth Saloner, professor experiente que ocupará o cargo de reitor da faculdade a partir de setembro, acredita que a pedagogia e o conteúdo precisam mudar. Saloner foi o principal engenheiro do MBA remodelado de Stanford, que exige que todos os novos alunos trabalhem em pequenos grupos de estudo para discutir várias questões empresariais. O objetivo, diz ele, é "equipar os alunos para que eles pensem de uma maneira crítica sobre os problemas que as empresas enfrentam."

Outros acreditam que o problema é mais profundo e sistêmico. Dipak Jain, reitor da Kellogg School da Northwestern University, diz que os últimos 15 anos de crescimento econômico tiveram um custo. "Os alunos passaram a se concentrar mais em ganhar dinheiro do que em aprender. É preciso haver uma correção nos salários dos MBAs."

Henry Mintzberg, professor de administração na McGill do Canadá e na Insead da França e de Cingapura, é um crítico de longa data do modelo tradicional de MBA praticado nos Estados Unidos. Ele não faz rodeios e afirma que a pegadogia e a estrutura dos programas de MBA americanos precisam mudar. "As escolas de negócios dos EUA continuam tentando arrumar o que fazem e não entendem que precisam mudar", diz.

Ele afirma que o método de análise de casos, no qual Harvard foi pioneira e que é replicado na maioria das faculdades americanas, ensina tomadas de decisões inapropriadas para os alunos mais jovens - que representam cada vez mais a população de MBAs nas salas de aula dos EUA. Na turma de 2008 de Harvard, por exemplo, mais de dois terços dos alunos haviam conseguido diplomas de graduação nos quatro anos anteriores.

Peter Tufano, professor de finanças de Harvard, diz que o método de estudo de casos e seu papel no desenvolvimento de "alunos arrogantes" foi uma das preocupações levantadas pela faculdade quando ela iniciou seus meses de autocrítica. Considerada a melhor escola de negócios do mundo, a Harvard Business School é um alvo fácil para aqueles que sentem a necessidade de culpar as instituições e seus formandos em MBA pelo colapso financeiro. Mas até mesmo os aristocratas de Harvard devem ter ficado horrorizados com o número de alunos formados pela escola que foram peças-chave no desenrolar da crise: Hank Paulson, ex-secretário do Tesouro dos EUA, Christopher Cox, ex-presidente da Securities and Exchange Commission (SEC), Stan O´Neal e John Tahin, os dois últimos presidentes do Merrill Lynch, e na Europa Andy Hornby, ex-diretor-presidente do HBOS.

O professor Mintzberg afirma que a inovação no ensino de administração não está mais sendo criada nos EUA, e sim na Europa. "As escolas de negócios americanas não criam administradores, elas criam orgulhosos arrogantes. Caso não corram o risco de quebrar, ou as inscrições não caiam para zero, elas não vão mudar."


Della Bradshaw, Financial Times
Valor Online, 08/07/2009


Nenhum comentário:



Acesse esta Agenda

Clicando no botão ao lado você pode se inscrever nesta Agenda e receber as novidades em seu email:
BlogBlogs.Com.Br