Companhias preparam-se para a era da internet pelo celular
Talita Moreira
Publicado pelo Valor Online em 13/02/08
A internet pelo celular é uma promessa há vários anos, mas nunca foi além de um acesso limitado a algumas páginas da web. Agora, a coisa está mudando de patamar - e as companhias de telecomunicações e tecnologia estão se preparando para isso.
"A grande novidade é a internet", afirmou ontem o presidente da operadora Vodafone, Arun Sarin, numa apresentação durante o Mobile World Congress, realizado em Barcelona. "Finalmente existe demanda para esses novos serviços."
A expansão das redes de terceira geração (3G) da telefonia móvel, capazes de transmitir dados em alta velocidade, a chegada de aparelhos com alta capacidade de computação e a demanda dos usuários por conteúdos multimídia estão proporcionando a combinação que faltava para o verdadeiro acesso à internet pelo celular.
Já existem mais de 200 redes de terceira geração instaladas no mundo, das quais 174 turbinadas com HSDPA, tecnologia que possibilita acelerar o tráfego de dados. A maioria dessas operadoras instalou redes que permitem alcançar velocidade de 3,6 megabits por segundo (Mbps), mas muitas estão dobrando a capacidade ou já estão chegando ao mercado com ofertas mais rápidas do que boa parte dos usuários de banda larga consome hoje nas redes fixas.
A Vodafone, por exemplo, anunciou ontem que irá testar uma atualização de sua infra-estrutura para chegar a 28,8 Mbps.
A operadora japonesa NTT DoCOMo encomendou equipamentos da Ericsson com o objetivo de turbinar sua rede para até 160 Mbps - o que já a colocaria na quarta geração.
Diante desse cenário, as operadoras e os fornecedores de conteúdo estão acirrando a disputa pelo consumidor que quer reproduzir nos aparelhos móveis os mesmíssimos recursos da internet que tem em seu computador - download de músicas e vídeos, acesso a e-mail, mensagens instantâneas etc.
"Os assinantes [das empresas de celular] têm a expectativa de conseguir mover o conteúdo que têm em seus PCs para aparelhos móveis", destacou Sarin.
A corrida da indústria para permitir que isso aconteça já começou. Na segunda-feira, durante o evento em Barcelona, a GSM Association (GSMA) - entidade que reúne operadoras e fabricantes - anunciou a Dell e a Elitegroup Computer Systems (ECS) como as vencedoras de uma competição para desenvolver o notebook mais barato com acesso à banda larga móvel.
As duas companhias apresentaram modelos com custo inferior a US$ 800, equipados com modems para conexão com redes de terceira geração.
Na manhã de ontem, o presidente da GSMA, Rob Conway, afirmou estimar que o mercado potencial para esse tipo de notebook é de 70 milhões de unidades, ou US$ 50 bilhões anuais.
Entre os fabricantes tradicionais de aparelhos móveis, a Nokia também surpreendeu ao anunciar o lançamento de um celular com 16 gigabytes de memória interna - o dobro da capacidade do modelo mais sofisticado do iPhone, da Apple.
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O Google e o Yahoo estão acompanhando esse movimento firmando parcerias com operadoras de telefonia
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As companhias de internet, como o Google e o Yahoo, acompanham o movimento firmando parcerias com as operadoras de celular . Não é por acaso que todas as empresas querem ao menos um pedacinho desse mercado. O tráfego de dados via redes móveis dobra a cada ano, observou o principal executivo da Cisco, John Chambers. "A mobilidade vai mudar os negócios e o estilo de vida das pessoas", avaliou.
Na Vodafone, que atua em 17 mercados, a receita com dados cresce 40% ao ano, segundo o presidente da operadora.
"O mundo é um hotspot", brincou o presidente da Qualcomm, Paul Jacobs, referindo-se aos pontos de acesso de redes sem fio.
Agora que as questões tecnológicas parecem ter sido resolvidas, o desafio é outro: popularizar a banda larga móvel.
Existem 3,3 bilhões de usuários de celular no mundo, mas até agora somente uma pequena parcela tem acesso à internet rápida por meio de redes sem fio.
"Como fazer isso?", indagou Sarin. "A demanda por internet e serviços de internet no mundo em desenvolvimento vai crescer rapidamente. Será a primeira vez que muitas pessoas nesses países terão contato com a internet. Estamos em fases diferentes, mas todos estamos indo na mesma direção", afirmou.
Os fornecedores estão trabalhando no barateamento de aparelhos móveis de baixo custo, assim como fizeram em relação aos celulares voltados para os serviços de voz. Nesse caso, há terminais da chinesa ZTE ao custo de US$ 25.
Assim como fez com os fabricantes de computadores portáteis, a GSMA criou um concurso para o aparelho de 3G mais barato. O nome do vencedor seria revelado ontem à noite.
Segundo fonte a par do assunto, a melhor proposta teria sido feita pela LG.
A Nokia também está trabalhando nessa direção, afirmou ao Valor a principal executiva da área de desenvolvimento da companhia, Mary McDowell. Porém, segundo ela, ainda levará um tempo até que o produto chegue ao mercado.